Opinião – Setembro Amarelo e o suicídio: o silêncio é uma armadilha?

Profa. Ilciane Sganzerla Breitenbach, coordenadora e docente do curso de Psicologia da UCS Bento e Pós-doutoranda em Psicologia, com ênfase em suicídio e ideação suicida de adolescentes.

Não falar sobre suicídio é tão prejudicial quanto falar de maneira inadequada. Nesse sentido, o Setembro Amarelo surge justamente para romper esse silêncio e oferecer espaços diferenciados. Sabia que, a cada 10 casos relacionados ao suicídio, 9 poderiam ser evitados? E que, de cada 10 casos ocorridos, os 10 sinalizaram de alguma forma essa intencionalidade?

Cabe relembrar o ano de 2017 marcado pelo jogo Baleia Azul, que instigou uma série de suicídios no mundo todo. Também a série da Netflix 13 Reasons Why, que despertou a atenção de milhares de pessoas para o sofrimento da vítima. 

O tema ainda divide opiniões, pois o suicídio pode ser visto como um problema de saúde pública. Segundo as estatísticas recentes, ocorre uma variação crescente justamente por ser percebido ainda como um tabu, sendo que essa condição somente serve para deixar quem sofre com pensamentos suicidas ainda pior e sem alternativas e aqueles que tem a intenção de ajudar tornam-se paralisados por não saberem como agir frente a essas pessoas. 

Com esse panorama, pode- -se mapear os fatores relacionados ao suicídio quanto à etapa evolutiva, ocorrendo, com maior expressão, na adolescência, pela intensidade da fase e ao mesmo tempo pela dificuldade de expressar as emoções e conflitos, e nos idosos, pela desmotivação em relação às próprias vidas. 

Pode-se atrelar também, com maior frequência, a pessoas que atravessaram ou atravessam perdas em suas vidas e aos que sofrem discriminações em relação a gênero, raça e cor. O mapeamento estende-se, ainda, com números acentuados, a profissionais de saúde, o que impressiona, em um primeiro momento, mas encontra justificativa pelo fato de estarem na condição de cuidador e não de paciente e por terem conhecimentos e acesso a métodos letais. Pacientes crônicos ou com comprometimentos psiquiátricos também estão em uma condição com maior chance de cometerem o suicídio. 

Pode-se levar em consideração a estação do ano, que coincidentemente é a primavera, pelo contraste da luz, do colorido frente a desesperança, bem como o dia da semana que mais ocorre, que é a segunda-feira, dia típico de reinício de tarefas e compromissos.
 

 

Apoio e cuidados

O suicídio é a alternativa e torna-se atraente em momentos de desespero, no qual a única saída encontrada é a morte. Saídas, soluções anteriormente buscadas e desejadas, nesse estágio, não servem mais para aliviar o sofrimento. Então, falar sobre isso pode ser um facilitador para ajudar a evitar que esse momento possa ocorrer e o sujeito possa ter o domínio novamente.


 

Nesse sentido, proporcionar acompanhamentos, escutas, acolhimentos acabam sendo importantes. Esse auxílio estende-se também a familiares, amigos e pessoas próximas. E mais, quando nos deparamos com esse tipo sofrimento, precisa-se deixar o julgamento de lado, ouvir, ser atencioso e gentil, mostrar-se interessado e oferecer ajuda.

Levando em consideração esses aspectos e o Setembro Amarelo, bem como esse momento que atravessamos enquanto pandemia, o curso de Psicologia da UCS, comprometido com sua comunidade e com todas as questões que perpassam o comportamento humano, organizou, dentro de um projeto de Laboratório de Prática, o Acolher-Psi, serviço aberto ao público e gratuito, pelo telefone (54) 3449-5214, de segunda a sexta-feira, das 14h às 17h que visa acolher, escutar e orientar as diferentes demandas e angústias e sofrimentos das pessoas.

Fica acima de tudo a importância de discutir e falar mais sobre suicídio, porque falar sobre esse tema é falar sobre a VIDA.