Setembro Amarelo: todo mundo lembra que tem que falar sobre prevenção do suicídio
O Setembro Amarelo se trata de uma campanha organizada, desde 2014, pela Associação Brasileira de Psiquiatria, junto ao Conselho Federal de Medicina. Além de abranger responsabilidade social (ou seja, é de todos nós), também compete às diferentes áreas, sejam elas humanas, da saúde ou educação. O objetivo é conscientizar as pessoas sobre a prevenção do suicídio, entendendo que a melhor escolha é a vida.
De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, mais de 700 mil suicídios são registrados em todo o mundo anualmente, sem contar os episódios que não são notificados. No Brasil, estamos falando de aproximadamente 14 mil pessoas que se suicidam por ano, ou seja, em média, 38 pessoas por dia. É muita gente em sofrimento diariamente para que o assunto seja abordado de forma tão pontual!
O dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa acontece (ou deveria acontecer) o ano inteiro. Por isso, escolhi um título como esse para o texto: não é de hoje que vemos uma série de instituições de todas as vertentes se mobilizando para buscar palestras sobre cuidados em saúde mental e profissionais que não são competentes na área falando sobre prevenção do suicídio – sempre em meados de final de agosto e, principalmente, durante o mês de setembro. Como se nos demais meses do ano as pessoas não estivessem sofrendo ou não pudessem estar em risco.
O risco, infelizmente, começa aí: no desespero de abordar o assunto de forma social para cumprir protocolos, muitas vezes nós todos ficamos expostos a conteúdos diversos, de fontes desconfiáveis. O perigo não mora no conhecimento sobre o tema, mas na forma como determinadas informações são transmitidas. Conhecer é poder, e falar sobre o assunto não mata! Muito pelo contrário, instrumentaliza, fornece recursos para que uns ajudem aos outros e possam identificar quem precisa de suporte também. O que mata é falar sem ter conhecimento, instrução, expertise, ou pior, falar sobre o assunto apenas quando convém.
A questão do suicídio é de responsabilidade de todos, em todos os momentos. Não acontece apenas em períodos específicos ou quando vem associado com alguma questão de saúde mental como a depressão. Há muitos mitos a serem desconstruídos sobre o suicídio e precisamos falar, ler, buscar ajuda sempre, em fontes confiáveis, científicas. Isso sim fala sobre comprometimento e seriedade com o assunto. Nisso, muitos profissionais ainda pecam – pois precisam também entender as próprias limitações para não correrem o risco de aceitar qualquer proposta e se exporem. Então, estamos falando de um longo caminho para o desejo genuíno de aprender sobre si mesmo, para depois cuidar da dor do outro, e instrumentalizá-lo a enfrentar dificuldades que às vezes podem ser nossas também.