Setor metalmecânico em alerta

O mau desempenho da economia brasileira no ano passado teve reflexos em todos os segmentos e deixa o setor industrial com várias incertezas para 2015. Com o ramo metalmecânico não é diferente. Embora o número de demissões não possa ser classificado como alarmante, o sinal de alerta está aceso: caso o cenário econômico não melhore após o Carnaval e no primeiro semestre do ano, a crise pode ser inevitável.

A preocupação é maior entre os empresários. “A produção se manteve graças a pedidos antigos de longo prazo, que levam cerca de seis meses para serem concluídos, mas não houve fechamento de novos pedidos”, explica o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Simmme), Juarez José Piva.

A crise, segundo Piva, vem se agravando desde maio de 2014, quando a produção do setor começou a decair. Muitas empresas devem encerrar os pedidos que estavam em andamento nos meses de março e abril e, se não houvera confirmação de novos negócios, Piva prevê uma “catástrofe”.

O aumento dos juros para financiamento em longo prazo fez com que muitas companhias freassem os investimentos pretendidos, fator que, somado ao aumento no custo da energia e as previsões de apagões e racionamentos, não alimenta boas expectativas de que a situação possa ser revertida tão cedo. Como reflexo dessas projeções, 48% dos empresários do setor se dizem pessimistas, de acordo com Piva. “O Brasil estagnou por falta de perspectivas para o futuro”, resume.

Piva aponta também as importações como outro agravante da situação e classifica a competição com os importados como desigual. “Há quantos anos estamos batendo na mesma tecla? Precisamos de reformas trabalhistas, tributárias e, principalmente, de infraestrutura. Precisamos de uma reforma de Estado, e não de governo”, analisa.

Enquanto esperam a turbulência passar, o empresariado e as lideranças do setor articulam reuniões com os governos estadual e federal na tentativa de pressionar algumas medidas que possam trazer reflexos positivos para as metalúrgicas. “Tivemos oportunidade de crescer, mas foi jogada fora. Não vimos mudanças em mais de uma década”, lamenta.

Carnaval

Conforme Piva, mais de 60% das metalúrgicas de Bento Gonçalves darão férias coletivas para os seus funcionários no período do Carnaval. Nas restantes, medidas como antecipação de férias, compensação de folgas e banco de horas, manterão apenas cerca de metade da produção. A prática já acontecia em outros anos, porém, de forma mais esporádica. São saídas paliativas encontradas para evitar que o número de demissões seja maior – o índice alcançou 6% entre janeiro e novembro de 2014.

Desligamentos

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Bento Gonçalves (Stimmme), Jose Elvio Atzler de Lima, em comparação com o ano anterior, houve um aumento de cerca de 800 rescisões que passaram pela entidade – incluindo 150 desligamentos de uma empresa que se transferiu para outra cidade.

As empresas mais afetadas são as que produzem peças automotivas, mas, como a produção no município é bastante diversificada, os reflexos acabam não sendo tão acentuados. Em todo o Rio Grande do Sul, o déficit é de 5.307 empregos, o que não sinaliza, necessariamente, desemprego na visão de Lima, que também preside a Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos, Mecânicos, Material Elétrico, Eletrônico, Implementos Agrícolas do Estado do Rio Grande do Sul (Fetrameiag-RS). A média é semelhante ao restante do país, com exceção de São Paulo, que concentra grande número de metalúrgicas na área automotiva.

Na última quarta-feira, dia 11, Lima participou de um encontro em São Paulo, promovido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNMT) para avaliar o cenário metalúrgico no país e planejar futuras ações em defesa dos postos de trabalho e direitos da categoria. “O empregador está tentando manter os funcionários, para seguir com a mão de obra caso a situação melhore. Se a economia não melhorar no primeiro semestre, aí sim será preocupante. As empresas não irão segurar os funcionários se não houver produção”, projeta.

 

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