Seu animal, sua responsabilidade

O período de fim de ano, quando muitas famílias planejam alegremente suas férias, também é a época mais preocupante com relação ao abandono de animais de estimação, como cães e gatos. Em grande parte dos casos, o motivo é justamente a falta de planejamento dos donos dos pets, que decidem viajar sem considerar a responsabilidade que têm sobre os bichos.

O problema, na maioria dos casos, começa no momento da adoção, quando os animais conquistam por serem filhotinhos, brincalhões e pouco espaçosos. Entretanto, em menos de um ano, praticamente todos já assumem o porte que terão quando adultos e, em muitas situações, passam a ser considerados um transtorno para quem pretende viajar nos dias de descanso. A saída para os irresponsáveis é sempre a mais fácil: largá-los à própria sorte, de volta à rua.

Bento Gonçalves não é exceção e já começou, de forma mais intensa desde novembro, a despertar a mobilização de protetores de animais para coibir esse tipo de atitude. Porém, bairros mais afastados e localidades interioranas ainda são cenários frequentes de “desova” de animais, que são tratados como objetos descartáveis.

Os abandonos, entretanto, não podem ser justificados por falta de opções para quem quer desfrutar de férias e não pode, ou simplesmente não deseja, levar os pets. As alternativas vão desde deixá-los sob cuidados de alguma pessoa de confiança até hospedá-los em locais com estrutura específica e valores. “Isso tem muito a ver com a falta de programação, orientação e, claro, responsabilidade. A vida deles depende de quem os adotou, é preciso ter essa sensibilidade, porque eles também passam a fazer parte da família”, afirma Márcia Helena Lorenzini Manuel, voluntária que há 15 anos atua em defesa da causa animal na cidade e trata o caso de Bento como “crítico”.

Devoluções preocupam

A devolução de animais adotados também tem crescido com a proximidade do fim de ano. Na petshop Doce Faro, somente nos últimos dias, pelo menos três casos envolvendo cães doados neste ano já ocorreram e têm preocupado as proprietárias, Adriana Gromowski e Kersi Paula de Oliveira. “No momento da adoção, nós sempre avisamos sobre o tamanho que eles terão quando adultos, mas nem sempre resolve”, diz Adriana. “A gente fica com eles para que não voltem para a rua, mas as pessoas precisam agir com mais responsabilidade”, completa a sócia Kersi. Hoje, a Doce Faro tem 10 cachorros para adoção, mantidos por padrinhos. 

Hospedagem

Com viagens em praticamente todos os meses do ano, Catherine Rypchinski já se sente plenamente segura para deixar o casal de cães da raça Schnauzer hospedado enquanto está fora da cidade. Nesta semana, a dupla volta para mais uma breve temporada na Doce Faro, local escolhido pela dona para que os dois sejam cuidados na sua ausência. “O mais importante é pensar no benefício de tudo isso, eu tenho certeza que eles vão estar bem, então vale a pena”, conta. 

Mesmo assim, ela diz que procura planejar para que, em viagens mais longas, como nas férias de virada de ano, os bichinhos fiquem longe por no máximo 15 dias. “Eles sentem muito a falta do dono e podem entrar em depressão. Como eles ficam juntos, é bem mais tranquilo, mas não passa de 15 dias”, relata Catherine.

A hospedagem também é a forma que Valentina Lima Camargo encontrou para viajar e deixar seus sete gatos e dois cães, as “crianças”, como ela os chama, em um lugar que considera seguro. Os felinos vão para um espaço específico para eles, adaptado ao seu comportamento diferenciado, mas podem permanecer juntos. As cachorras, uma da raça Pequinês e a outra Cocker, ficam em um ambiente já conhecido e não se abalam com a distância da dona. “Às vezes, quando eu retorno, elas nem dão bola para mim, de tão felizes que estão. É bom ver isso, é um sinal de que elas estão bem”, brinca.

Os abandonos nessa época também preocupam Valentina, que recolheu todos os seus animais da rua. “Eu já vi muito disso, infelizmente. Gente que não quer levá-los na viagem por vários motivos e simplesmente os abandona. A dica que eu dou para quem não quer ou não tem condições de gastar é ter alguém que possa cuidar dos bichinhos enquanto o dono estiver viajando. Eles dependem disso e confiam muito em nós”, conclui.

Grãozinho de areia

O nome é um pouco extenso, mas a causa é nobre. Criada em maio no Facebook, a comunidade “Sou um grãozinho de areia nesta selva de pedras. Eu ajudei um peludo”, coordenada pela voluntária Márcia Helena Lorenzini Manuel, é uma tentativa virtual de incentivar a castração e adoção de animais abandonados em Bento Gonçalves. Mas a atuação do grupo não fica restrita somente à rede social: além de apoio da prefeitura para agilizar esterilizações gratuitas, a iniciativa também tem a participação de uma veterinária voluntária, que visita a casa de famílias carentes onde haja bichos de estimação. Na página, dados de julho a outubro mostram que a comunidade deu suporte médico a 20 animais, doou quatro casinhas e encaminhou pelo menos 25 castrações.

Cuidados no Réveillon

Quem decidir passar a virada de ano com os animais de estimação deve ficar atento a alguns cuidados para evitar que os tradicionais fogos de artifício prejudiquem os bichos. Sempre que possível, é interessante acomodá-los dentro de casa, reduzindo o alcance dos sons externos e evitando fugas causadas pelos sustos. Alguns veterinários também aconselham o uso de tampões de algodão nos ouvidos dos pets.

Evite deixar vários cães juntos, pois eles podem brigar e se ferir. Se eles não puderem ficar dentro da moradia e permanecerem acorrentados, por exemplo, o ideal é procurar um veterinário para sedá-los, evitando enforcamentos causados pelo pânico.

No caso de gatos, a recomendação é, se possível, deixá-los em um quarto fechado, com água, comida e a caixinha de areia, mas sem objetos que possam ser derrubados. Outra dica é usar cobertores para fazer “tocas” em que eles possam se sentir seguros durante a queima de fogos.

Dicas para quem vai viajar

Em casa

Se o animal for permanecer em casa, é importante que um parente, amigo ou vizinho de confiança fique responsável por visitá-lo no mínimo uma vez por dia, para conferir como estão a água e a comida e manter limpo o local onde faz suas necessidades. Pode ser utilizado um dosador de alimentos, mas a água, em especial, deve ser trocada constantemente. Mantenha junto a ele os brinquedos que normalmente são utilizados e peça que, no caso de cães, o responsável temporário também faça alguns passeios.

Viagem

Quem optar por levar o animal em viagem de férias deve ter como primeira preocupação o transporte, que deve ser feito nas caixas adequadas ou com a utilização de cintos de segurança específicos para os pets. Durante o trajeto, não se esqueça de fazer paradas para que eles se alimentem ou façam suas necessidades. Ao chegar no destino, é importante não deixá-los soltos, para evitar fugas. Outra dica de veterinários é que, fora de casa, seja dada água mineral para os bichos, para evitar possíveis contaminações.

Hospedagem

No caso de decidir pela hospedagem – que em Bento, em média, fica entre R$ 20 e R$ 30 por dia –, é importante visitar o local com antecedência e fazer a reserva assim que decidir viajar. Dê preferência a lugares conhecidos e onde o animal poderá se exercitar e até brincar com outros. É imprescindível que a vacinação e a aplicação de vermífugos estejam em dia. Normalmente, fica a cargo do dono a ração que será dada ao cão ou gato para que não haja alteração na rotina de alimentação.

Reportagem: Jorge Bronzato Jr.


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