Símbolos da saudade e da violência no trânsito

O elevado número de vítimas fatais de acidentes de trânsito em todo o mundo tem levado diversos órgãos a criar campanhas de conscientização sobre os perigos das rodovias. E para celebrar a memória dessas pessoas, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 2005, o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, solenizada no terceiro domingo do mês de novembro. No Brasil, desde 2007, entidades buscam promover atividades nessa data e muitas optam por construir monumentos em homenagem aos entes queridos. Em Bento Gonçalves, o evento não é celebrado, mas ao longo das rodovias da cidade é possível verificar cruzes, afixadas na terra, ou mesmo em pedras, para alertar a quem passa pelo local, que ali, uma vida foi perdida. Infelizmente, nem sempre os motoristas percebem a presença delas e se preocupam com o que elas significam. Prova disso é o flagrante de uma ultrapassagem em local proibido na ERS-444, rodovia em que dezenas de pessoas já morreram em decorrência de colisões e capotamentos. 

Um dos mais recentes símbolos colocados na cidade está às margens da ERS-444, na altura do quilômetro dois. Os familiares da jovem Camila Konradt, de 27 anos de idade, que morreu no dia 23 de agosto de 2011, decorrente de um acidente de carro (veja detalhes no quadro), construíram uma cruz de madeira, afixada em uma pedra, para homenageá-la. No monumento, uma placa descreve o sonho da bailarina. A jovem faz parte de um triste índice do Grupo Rodoviário da Brigada Militar (GRv), que aponta que 40,9% dos mortos em acidentes são pessoas na faixa etária de 26 a 40 anos de idade.

O levantamento, realizado de 1º de janeiro de 2010 a 19 de novembro de 2012, apontou que nesse período 88 pessoas perderam a vida nas estradas que circundam Bento Gonçalves. Mas esse número pode ser ainda maior. 

Isso porque, segundo o comandante do GRv, sargento Zidemar Petry Freitas, são computadas somente mortes ocorridas no local do acidente. Quando o condutor ou o passageiro é socorrido, mas morre posteriormente no hospital ou a caminho dele, a ocorrência é relatada como acidente com lesões corporais. Nesse mesmo período, outras 1.308 pessoas ficaram feridas, resultante de 1.631 acidentes atendidos. É como se 1,24 pessoas ficassem feridas por dia, decorrente de acidente de trânsito nas rodovias da cidade.

Perfil das vítimas fatais

O estudo ainda apontou que em 60,2% dos acidentes com vítima fatal, as condições climáticas estavam boas, e em apenas 25%, estava chovendo no momento da fatalidade. Isso reforça a tese de que há um descuido maior por parte dos motoristas em condições de tempo bom. Dos 88 mortos, 73 eram homens e em 71,6% das ocorrências, o condutor acabou perdendo a vida. Os dias em que há mais acidentes registrados são sábado(23,86%), sexta-feira (18,18%) e terça-feira (14,77%). 

Pulo da morte

Após permanecer três dias internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Tacchini, Sidney Gentilini, de 51 anos de idade, morreu depois de saltar de um caminhão em movimento. Ele e o outro passageiro pensaram que o veículo estivesse sem freios em um local caracterizado por uma série de descidas íngremes. O fato aconteceu no dia 4 de novembro do ano passado, na RSC-431, na altura do quilômetro 9. O outro passageiro sobreviveu. Poucos metros abaixo de onde os dois pularam, o motorista do caminhão conseguiu parar. Segundo o Grupo Rodoviário da Brigada Militar, ele não possuía habilitação para conduzir veículos pesados.

A bailarina

“Quando estou num palco, entre luzes a brilhar, eu me sinto um pássaro, a voar, voar, voar”. Com essa frase a família prestou a última homenagem à bailarina Camila Konradt, morta aos 27 anos de idade, em um acidente de trânsito. Camila morreu na tarde do dia 23 de agosto do ano passado, na ERS-444, ao colidir seu automóvel Celta, com placas de Caxias do Sul, com um Focus, da mesma cidade. A jovem morreu na hora, enquanto o condutor do outro veículo não teve ferimentos. No local da tragédia, uma cruz incrustada em um pedestal de pedra simboliza a dor e a saudade.

Trecho das cruzes

Um dos trechos mais perigosos da RSC-470, na altura quilômetro 210, registrou diversas mortes. O local fica nas proximidades do trevo de acesso ao bairro Nossa Senhora do Carmo, em Bento Gonçalves. Há alguns anos, a cada novo óbito no local, uma cruz era colocada. Atualmente, poucas ainda permanecem, mas quem observa, ou já presenciou um acidente naquele local, não esquece das vidas perdidas no trecho.

14 de outubro de 2008 
Era manhã de terça-feira, nublado e com chuvisco, quando o condutor de um caminhão perdeu o controle, invadiu a pista contrária e colidiu contra um automóvel Gol. No veículo, estava Antônio Lunelli, de 60 anos de idade, irmão do prefeito Roberto Lunelli. Antônio faleceu na hora e o condutor do caminhão não se feriu.

15 de outubro de 2010 
Um acidente envolvendo quatro veículos, entre eles um caminhão e uma viatura da Brigada Militar, vitimou o brigadiano Igor Mateus Censi, 31 anos. Censi servia na corporação de Guaporé. Conforme depoimento do caminhoneiro, teria faltado freio no momento em que ele estava na curva e com isso o caminhão se desgovernou invadindo a pista contrária, atingindo a viatura de frente.

13 de dezembro de 2010 
Rafael Landal, de 26 anos de idade, perdeu a vida após se envolver em um acidente de trânsito com outros três caminhões. Landal conduzia um automóvel Gol, com placas de Gravataí. O passageiro do veículo ficou ferido, mas sem gravidade.

28 de fevereiro de 2012 
A colisão entre um caminhão e um automóvel Focus, com placas de Bento Gonçalves, tirou a vida de Hélio Marcon, de 55 anos de idade. Ele estava sozinho no veículo e morreu na hora. Com a batida o caminhão rodopiou na pista e parou com a parte traseira junto a um matagal no acostamento. O condutor não se feriu.

Quatro mortes

Um sábado ensolarado, o que era para ser um passeio em família acabou se tornando uma tragédia. O dia de 25 de setembro de 2010 ficará eternamente gravado na memória de pelo menos duas famílias da Serra Gaúcha. Em uma curva acentuada da ERS-431, na altura do quilômetro 9, na Linha Alcântara, quatro pessoas perderam a vida. O choque envolveu um caminhão com placas de Arroio do Meio, um Pálio de Caxias do Sul e um Ka de Sapucaia do Sul. Entre as vítimas fatais estavam três pessoas da mesma família: Adílio Goulart, 32 anos de idade, Lorici Fátima dos Santos, 37, e a filha do casal, Vitória Goulart, 4. Faleceu ainda no acidente o condutor do caminhão Paulo Laércio Bruxel, de 22 anos. O veículo de maior porte, carregado com caixas de pintos, seguia no sentido Faria Lemos – Linha Alcântara, enquanto o Pálio vinha no sentido contrário. O motorista do caminhão teria perdido o controle na curva e atingido o veículo, que foi arrastado por 40 metros, até ambos caírem em um barranco.

Três sonhos destruídos

A vida da família Kasmiriski mudou repentinamente na noite de 11 de abril de 2009. Os três filhos, Itamar, 18 anos de idade, Willian, 16, e Rodrigo, 14, morreram atropelados quando caminhavam no acostamento da ERS-444, próximo ao trevo de acesso ao Barracão. A tragédia aconteceu a poucos metros da moradia dos jovens. O acusado pela morte dos irmãos responde ao processo em liberdade.


Reportagem: Katiane Cardoso


É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.