Sintomas da COVID-19, como perda de paladar e falta de ar, podem perdurar por meses

[Eduarda Bucco e Raquel Konrad]

“Sinto falta de ar quando estou fazendo alguma atividade (lavar o cabelo, varrer toda casa)”. “Já estou há cinco meses sem olfato e paladar”. “As dores de cabeça parecem mais intensas do que antes da COVID”. “Aqui passamos pela COVID e ainda hoje temos dores/irritação de estômago/fígado”. Esses são alguns dos relatos de bento-gonçalvenses que já passaram pela infecção pelo Coronavírus. Mesmo após recuperados, muitos pacientes afirmam ainda sentir algum tipo de sintoma, que chega a perdurar por meses. De acordo com a infectologista e diretora técnica do Hospital Tacchini, Nicole Golin, a recuperação completa da doença, mesmo quando o paciente desenvolve sintomas leves, pode demorar semanas ou meses. “Os problemas contínuos incluem fadiga, batimentos cardíacos acelerados, falta de ar, dores nas articulações, confusão mental e perda persistente do olfato. Casos mais graves podem apresentar danos ao coração, pulmões, rins e cérebro”, revela. 

Questionada sobre o motivo dos sintomas prolongados, Nicole afirma que ainda não está claro para a ciência. “Há alguns órgãos de pesquisa na Europa desenvolvendo estudos sobre isso”, afirma. Por conta disso, a médica recomenda que todos os pacientes, após a infecção pelo vírus, façam um check-up cardiológico e pulmonar. “Para pacientes que tenham perda prolongada do olfato e do paladar, por mais de três semanas, por exemplo, é importante buscar o auxílio de um otorrinolaringologista, que deve indicar o melhor caminho para a retomada dos sentidos perdidos. Existem tratamentos eficientes, que são utilizados há anos para combater os mesmos sintomas decorrentes de outras doenças”, explica. 

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"Nossa vida nunca mais foi a mesma"


Vanderlea e Antônio Dall’Oglio afirmam que suas vidas nunca mais foram as mesmas. Foto: Arquivo pessoal

Antes de ser infectado pela Covid-19, o casal Vanderlea Dall’Oglio, 48 anos, e Antônio Dall’Oglio, 61, não acreditava na gravidade da doença. Ela sempre foi cuidadosa com a saúde: frequentava academia todos os dias, além de praticar ciclismo. Ele também era adepto da vida saudável: não fuma, faz exercício físico e não tinha nenhuma comorbidade. Mesmo assim, no final de outubro, ambos foram contaminados e, desde então, a vida nunca mais foi a mesma.

Vanderlea começou a sentir sintomas de resfriado e dias depois perdeu o olfato e o paladar. Com Antônio a situação foi pior: ele ficou 10 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) lutando pela vida. Depois de recuperados, eles ainda sentem as consequências do vírus. “Hoje ainda não sinto gosto e cheiro e tenho dificuldade para respirar. Eu fazia academia todos os dias e bike na rua e hoje se subo um lance de escada tenho que parar para respirar. Tudo ficou muito mais lento e mais difícil”, descreve a funcionária pública. Já o marido passou a tomar remédio para afinar o sangue, por causa de embolia ocasionada pela doença, e está impedido de fazer qualquer atividade que acelere o coração, por conta do perigo de miocardite. “Eu não levava muito a sério, mas quando acontece com a tua família tudo muda. Eu estava em isolamento, meu marido na UTI, só recebia notícias dele através de chamadas de vídeo da médica. Foi uma situação terrível, essa doença é cruel e tu nunca sabe como teu corpo vai reagir e as sequelas não são nada agradáveis. Tua vida muda, e muda muito, depois da Covid”, desabafa.


Janete Nodari contraiu o vírus em novembro e afirma que ainda sente as dores da doença. Foto: Arquivo Pessoal

Quem também ainda sente as consequências do vírus é Janete Nodari, de 62 anos. Ela contraiu o vírus em novembro, fez o tratamento disponibilizado pela rede pública, mas mesmo assim sentiu com força os sintomas típicos do coronavírus: perdeu o olfato e paladar, teve febre e muita dor no corpo. “Eu não conseguia distinguir nem o que estava quente e o que estava frio. Quando fui para a UPA não conseguia calçar nem os tênis. Dor de cabeça, nos olhos, as pernas pesadas, febrícula de 37 e 37,5. Não podia com a claridade do sol, doía para abrir os olhos”, relata. Mesmo assim, ela não precisou de internação hospitalar e recuperou-se em isolamento domiciliar. 

Após a recuperação, Janete afirma que ainda sente as dores da doença. “Emocionalmente, sair de casa pela primeira vez é um desafio, me sentia tonta, os barulhos mais comuns pareciam sons muito altos. O olfato voltou em uma semana. O paladar demorou mais. Está bem complicado. Na verdade, continua diferente: tudo é amargo. A espiritualidade me ajudou muito”, confessa. 

Após 12 dias, ela também percebeu alteração na voz. “Amanhecia praticamente sem conseguir falar. Era uma inflamação nas cordas vocais. Minha voz está diferente até hoje. Também me sinto mais cansada, inclusive, mentalmente. Estou com lapsos de memória recente. Segundo informações, é uma sequela”, avalia. Nesta semana, ela relata que tem se sentido melhor fisicamente, mas a pandemia ainda impõe outras restrições tão dolorosas quanto o contágio pelo vírus. “Toda essa situação de distanciamento social ainda me deixa muito abalada. Queria poder abraçar meu neto, meus familiares e meus amigos sem medo”, desabafa Janete. 

 

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