Sistema de saúde: exames não retirados são desafio
Uma situação de difícil compreensão, que contraria a lógica do sistema de saúde e da própria rotina de quem vive em Bento Gonçalves, obrigou as instituições de saúde do município a mudarem de estratégia. Nas unidades mantidas pela secretaria municipal de Saúde (SMS), o dado mais preocupante refere-se aos exames de raio-X: 30% dos pacientes não voltam para apanhar os resultados. Já no Hospital Tacchini, o único da cidade, os testes mais “esquecidos” correspondem aos laboratoriais. Um em cada quatro pacientes não procura o resultado. O que chama a atenção é o fato de não haver motivo ou explicação racional para que uma pessoa consulte um médico, seja submetida a determinado exame e, depois de todo o processo pronto, simplesmente não volte para saber o diagnóstico.
Para tentar minimizar os prejuízos e evitar que outros usuários acabassem não sendo atendidos em razão da conduta de alguns, o Tacchini procurou soluções na tecnologia. A informatização total do sistema, que interliga todos os serviços que o paciente utiliza, começou há cinco anos e o setor de entrega de exames também passou por uma reestruturação no último mês de janeiro. Agora são impressos os resultados somente quando o paciente comparece ao hospital para apanhá-los, evitando o desperdício de papel e suprimentos, além do tempo que o colaborador perdia com um trabalho feito em vão. “Os prejuízos eram imensuráveis, já que envolvia uma série de fatores, como custos com papel, impressão, suprimentos e mão de obra. Com a adoção do software MV, utilizado em mais de 500 hospitais no Brasil, foi possível interligar todos os serviços que o paciente utiliza, garantindo um atendimento melhor e mais ágil e reduzindo custos diversos, entre os quais os relativos aos exames não retirados”, diz o superintendente-geral do Tacchini, Armando Piletti.
Segundo ele, exames laboratoriais lideram as estatísticas de resultados não retirados. A média de 25% dos testes feitos em vão é preocupante se forem considerados os números relativos ao setor: 65 mil exames por mês, dos quais 50 mil para os chamados clientes ambulatoriais, ou seja, pessoas que não estão internadas.
Além da impressão do resultado ocorrer somente no ato da entrega, outras medidas foram responsáveis por uma diminuição nos custos, como a possibilidade de o médico receber o exame por e-mail e do cliente poder acessá-lo através da internet, mediante senha disponibilizada pelo hospital. “Cada médico é consultado sobre o que considera a melhor forma de envio. Alguns preferem que o próprio cliente entregue o resultado no consultório, mas muitos têm adotado a internet como meio de agilizar o atendimento”, detalha Piletti.
Saúde pública
Os dados da secretaria municipal de Saúde também são preocupantes, afinal, 30% das pessoas que são submetidas a exames de raio-X não se interessam por conhecer os resultados dos testes. “É um numero bastante expressivo”, avalia o coordenador médico da SMS, Marco Antônio Ebert. Para tentar minimizar os prejuízos, a prefeitura está estudando uma forma de reciclar ou reaproveitar as chapas, a exemplo de outros hospitais do país.
Ebert diz que é difícil encontrar uma explicação lógica, mas que alguns casos podem ser justificados pelos atendimentos de emergência. “Nesse caso é comum que, em razão da necessidade de um diagnóstico rápido, o médico analise o exame antes que o laudo seja emitido. Com isso, o paciente não retorna depois de alguns dias para apanhar o resultado, uma vez que já foi diagnosticado”, comenta. Assim como o Hospital Tacchini, a prefeitura não sabe precisar o volume dos prejuízos. “Não há estimativa calculada até o momento. Alguns exames precisam ser adquiridos, pois o município não oferece, geralmente os de alta complexidade. Nesses casos, mesmo que o paciente não compareça, há prejuízo para o município”, detalha.
Bom exemplo em São Paulo
Os filmes utilizados na impressão dos exames de raio-X contêm metanol, amônia e metais pesados como o cromo, que contaminam o solo e o lençol freático com resíduos tóxicos. Pensando nisso, desde 2011 o Hospital São Camilo Santana, de São Paulo, disponibiliza a colaboradores, médicos, parceiros e moradores da região um posto de coleta de chapas de raio-X para reciclagem. É a segunda iniciativa do hospital com o mesmo objetivo. A primeira foi em 2009 com a implementação da chamada radiologia computadorizada, que consiste na substituição dos chassis convencionais por cassetes fotossensíveis que transformam as informações contidas na película radiográfica em sinais elétricos capazes de serem lidos em equipamento digital. Essa tecnologia também permite a distribuição das imagens através de redes de informação para as diversas áreas do hospital.
Desde a implementação, o volume de impressão de filmes caiu significativamente. Segundo Jani Salvático, chefe do Centro de Diagnóstico por Imagem, em 2010, apenas 5,4 mil exames dos 84 mil registrados precisaram ser impressos. “Em média, deixamos de imprimir 93% dos exames realizados, já que as imagens foram visualizadas em monitores dos diversos setores do hospital”, detalha.
Os filmes coletados pelo Hospital são encaminhados a uma empresa especializada em soluções para recuperação de prata, fundição e tratamento de efluentes. Os cristais de prata do raio-X são transformados em talheres e joias, por exemplo. Já as chapas são viram folhas de acetato de poliéster (PVC) de alta qualidade, podendo ser utilizadas na fabricação de embalagens, divisórias, capas de caderno e bolsas, entre outros produtos.
Reportagem: Greice Scotton
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