Situação de emergência em Bento Gonçalves
Chuva forte e contínua, rajadas de vento, granizo. A consequência: centenas de casas danificadas, perdas nas lavouras, ruas com crateras, queda de barreiras em rodovias, famílias desabrigadas, árvores caídas e muitos, mas muitos transtornos registrados. Esse foi o cenário que trouxe um grande volume de prejuízos à comunidade bento-gonçalvense nesta semana. Entre a tarde de domingo, dia 10, e a manhã de terça-feira, dia 12, choveu 183mm, 43mm a mais do que o normal para todo o mês de novembro na cidade, segundo dados do Setor de Meteorologia da Embrapa Uva e Vinho.
Os prejuízos foram sentidos tanto na área urbana quanto na área rural, o que motivou a prefeitura a decretar situação de emergência na cidade e estado de calamidade pública no distrito de São Pedro. Na sessão ordinária da última segunda-feira, 11, a Câmara de Vereadores aprovou, em regime de urgência, o repasse de R$ 250 mil para o Fundo Municipal de Defesa Civil, após projeto apresentado pela prefeitura. Os recursos serão destinados, principalmente, à aquisição de telhas para as famílias atingidas pelos temporais e sairão do orçamento das secretarias de Finanças e Obras.
Safra prejudicada
O Conselho Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Comapa) se reuniu de forma extraordinária na segunda-feira para contabilizar os prejuízos à agricultura. “Tivemos perdas consideráveis principalmente na safra de uva. Vamos agora trabalhar para minimizá-las e auxiliar os agricultores da melhor forma possível”, afirma o secretário de Desenvolvimento da Agricultura, Thompsson Didoné. Os maiores prejuízos foram registrados no distrito de São Pedro. Do total de 500 famílias da localidade, 400 foram atingidas. Nas culturas de uva, pêssego, caqui, kiwi, pera e nectarina estima-se uma perda de 60% a 80% na produção. Nas estufas de hortifrutigranjeiros, que somam aproximadamente 20.000m², a cobertura plástica foi totalmente danificada. Em Faria Lemos, as perdas atingem de 10% a 20% da produção de uvas. Também foram registrados prejuízos nos aviários, com danos nos telhados. No Vale dos Vinhedos, as localidades mais atingidas foram as linhas Zemith e Santa Lúcia, com perdas de cerca de 10%. O distrito de Tuiuty foi um dos menos prejudicados, com danos na ordem de 3% a 5%.
Em Pinto Bandeira, houve perdas nas produções de uva, pêssego e hortaliças e, também, em aviários. Na Linha Liberdade, uma propriedade teve o telhado do aviário totalmente avariado pela chuva de pedras. Parte do local alagou e cerca de 500 pintos não resistiram. Situação semelhante vive um empreendimento vizinho, onde o granizo destruiu grande parte da plantação. A maioria dos pés de tomate desgalharam. Os de alface foram praticamente destruídos e não servem mais para a comercialização. Também foram atingidas as lavouras de rabanete e repolho.
Estradas
Nos distritos em que as perdas na agricultura foram menores, as estradas ficaram bastante avariadas. “Será necessário recuperar praticamente todas”, calcula o secretário. Quase a totalidade das estradas do interior ficou comprometida, prejudicando o transporte escolar e o deslocamento dos moradores. Com a proximidade da colheita da safra de uva, as vias precisarão ser recuperadas de forma emergencial para que os produtores possam escoar a produção. “Hoje a prefeitura possui poucas equipes para atender todas as emergências e o maquinário existente não é suficiente, considerando a demanda das últimas horas”, lamenta o secretário de Viação e Obras Públicas, Valdir Possamai.
A secretaria estuda a possibilidade da contratação emergencial de máquinas para a recuperação de vias nas estradas do interior e também na área urbana. Na cidade, são mais de 230 registros de trechos que necessitam de reparo, além daqueles que já estavam no cronograma de obras da secretaria. “Vamos precisar de máquinas, mão de obra, brita e asfalto para atender à demanda”, informa o secretário.
Rodovias
Pelo menos duas quedas de barreiras de maior porte foram registradas em Bento Gonçalves durante o temporal. Na ERS-444, na altura do bairro Eucaliptos, um deslizamento interditou a rodovia por dois dias, obrigando parte dos motoristas a desviarem por dentro do bairro. Esse fluxo atípico em ruas vicinais, sobretudo de veículos maiores, trouxe problemas para a comunidade, que reclamou do rompimento de fios de energia elétrica e telefone.
Na RSC-470, a queda de uma pedra de grande porte causou a interdição de uma das três pistas na altura do quilômetro 218, no trecho conhecido como “curvas da morte”. Em nenhuma das ocorrências houve feridos.
Danos em escolas
A secretaria municipal de Educação divulgou um relatório sobre os prejuízos e efeitos do temporal nas escolas municipais, mas ainda não há uma estimativa financeira dos estragos provocados, principalmente nos telhados. No total, 13 estabelecimentos registraram problemas por conta dos temporais.
No bairro Progresso, a Escola Municipal Infantil Recanto dos Beija-Flores amanheceu alagada na segunda-feira. Muitas telhas foram quebradas pelo granizo e a rede elétrica foi atingida. Os alunos foram dispensados.
No Borgo, a escola infantil Feliz da Vida também amanheceu alagada. A água entrou por baixo das portas e pelo telhado, onde as calhas não suportaram o volume de chuva e transbordaram. Tapetes e colchões foram danificados e as crianças tiveram que ser dispensadas.
No bairro Conceição, a escola infantil Mundo Encantado também teve salas de aulas alagadas, no entanto não foi necessário dispensar os alunos. Houve alagamentos ainda nas escolas Raio de Sol, no bairro Cohab, Criança Feliz, no bairro Zatt, e Primeiros Passos, no bairro Conceição. A escola Anselmo Luigi Piccoli, no bairro Cohab, teve a biblioteca alagada e muitas telhas danificadas pelo granizo.
Na escola municipal Ouro Verde, duas salas de aula ficaram alagadas. Muitas telhas foram quebradas e a rampa de acesso ao auditório também ficou debaixo d’água. Já no bairro Vila Nova, a escola Princesa Isabel registrou alagamentos no pátio interno e em duas salas de aula, situação também verificada na escola Tancredo de Almeida Neves, no bairro São João, onde sete salas ficaram alagadas, além de parte do telhado do refeitório ter sido danificado pelo granizo. No bairro Fátima, os alunos da escola Liette Tesser Pozza foram dispensados devido à falta de energia elétrica.
Na escola Maria Margarida Zambon Benini, localizada no bairro Vila Nova, o depósito de material foi alagado, os corredores e o ginásio ficaram cheios de lama. A chuva também afetou a rede elétrica. No bairro Borgo, a escola Alfredo Aveline teve nove salas de aula, a sala dos professores e os corredores alagados. O granizo provocou buracos no telhado e os alunos foram dispensados à tarde.
Entre os educandários estaduais, os maiores danos foram registrados na escola Maria Goretti, a única que teve aulas suspensas. O granizo danificou o telhado e algumas salas de aula foram alagadas.
Buracos e crateras
A chuva provocou vários estragos em ruas da cidade. Na Adelaide Basso Pasquali, esquina com a rua Pedro da Silva (bairro Tancredo Neves), o asfalto cedeu e um grande buraco foi aberto. O mesmo ocorreu na rua Mário Morassutti, no Borgo. Uma grande cratera se formou, deixando em evidência um vão oco abaixo dos paralelepípedos. No bairro São Francisco, um problema antigo se agravou. Uma ondulação na pista na esquina das ruas Góes Monteiro e Borges do Canto tornou-se ainda maior e veio acompanhada de um buraco. O Departamento Municipal de Trânsito (DMT) isolou o local com cones para evitar que a passagem de veículos fizesse a pista ceder ainda mais, mas não adiantou. Um buraco ainda maior de formou em poucas horas.
Tragédia evitada por pouco
Uma casa de madeira localizada na rua Adelaide Basso Pasquali, bairro Tancredo Neves, desmoronou na tarde de segunda-feira. A moradia já apresentava risco anterior e veio abaixo após um deslizamento de terra em função da grande quantidade de chuva do domingo. O morador se negou a deixar o local, mas foi convencido pelos Bombeiros a sair. Menos de 10 minutos depois, a casa desabou completamente. Na rua Canísio Schimitz, no bairro Cohab, uma residência foi interditada devido ao risco de desmoronamento.
Você pode ajudar
Os Bombeiros e a Defesa Civil estão aceitando doações de telhas, alimentos, colchões e lonas. Os donativos podem ser entregues no Ginásio Municipal de Esportes ou no quartel dos Bombeiros, na avenida Osvaldo Aranha, bairro Cidade Alta. Mais informações pelo telefone 3451 1133.
Os números do temporal*
183mm de chuva em dois dias – o normal para todo o mês é 140mm
400 casas destelhadas ou danificadas pelo granizo
1.400 famílias afetadas
700 pedidos de ajuda feitos aos Bombeiros
18.000m² de lonas plásticas distribuídas
2 quedas de barreira com interrupção parcial de rodovias (RSC-470 e ERS-444)
13 escolas municipais e 1 escola estadual danificada
950km de estradas do interior prejudicadas
R$ 9,89 milhões em prejuízos na agricultura
230 ruas da zona urbana com necessidade de reparos
365 famílias tiveram grandes perdas na produção, das quais
335 residem no distrito de São Pedro
759 dos 4.846 hectares de uva plantados foram perdidos, equivalente a 13,45% da safra
Dos 175 hectares de pêssego, ameixa, kiwi e caqui plantados, 170 foram destruídos, equivalente a 80% do total
*Alguns números podem ser aproximados. Fonte: prefeitura, Embrapa, 16ª CRE, Emater e Bombeiros
Reportagem: Katiane Cardoso, Priscila Pilletti e Greice Scotton
É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.
Siga o SERRANOSSA!
Twitter: @SERRANOSSA
Facebook: Grupo SERRANOSSA
O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.