“Só rezei para não matar ninguém”

Com a certeza de que poderia ter causado uma grande tragédia, o motorista da caminhonete que atingiu a empresa Farina e feriu outras oito pessoas, na última quinta-feira, dia 16, fala pela primeira vez sobre o ocorrido. Com um pequeno corte na boca e algumas dores nas costas, Adriano Boch, de 38 anos, revela como procedeu quando percebeu que o veículo que conduzia, uma F4000, ficou sem freios. O empresário do ramo de sonorizações mostrou preocupação com os feridos e, ao mesmo tempo, incômodo com diversos comentários que surgiram depois do acidente. Para esclarecer os fatos, topou dar entrevista para o SERRANOSSA.

Com o veículo desgovernado na descida da rua Eugênio Valduga, Boch atingiu uma árvore e, em seguida, bateu na parede da indústria. A caminhonete invadiu uma sala de instruções da empresa, onde funcionários participavam de um treinamento no momento do acidente. O condutor e oito trabalhadores ficaram feridos e foram encaminhados para o Hospital Tacchini pelo resgate do Corpo de Bombeiros e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

No dia do acidente, o hospital chegou a afirmar que pelo menos duas pessoas haviam tido traumatismo craniano. Depois, a instituição esclareceu que todo caso de paciente que recebe alguma pancada na cabeça é tratado como trauma, e que mais tarde foi confirmado que nenhum dos funcionários da empresa havia sofrido lesões graves. Todos já tiveram alta. Confira a entrevista com o motorista:

Jornal SERRANOSSA – O que aconteceu no dia do acidente?

Adriano Boch – Eu estava andando normal, quando na curva do Daer (rua Eugênio Valduga) percebi que estava sem freio. Tentei fazer de tudo, reduzir marcha, puxar o freio de mão, mas nada fazia a caminhonete parar. Foi quando tomei a decisão de jogar contra o muro que tem logo depois do Daer, mas vi que no sentido contrário estava subindo uma EcoSport preta com duas senhoras dentro. Voltei para minha pista e comecei a rezar para não matar ninguém. Como é uma descida, a caminhonete aumentou a velocidade. Vi que na frente da Farina tinha uma árvore e mirei nela. Quando bati na árvore, a caminhonete acabou sendo jogada em direção à empresa.

SERRANOSSA – Você sabe em que velocidade a caminhonete estava na hora da batida?

Boch – Não cheguei a ver, mas acredito que chegou a atingir 80km/h, ou até 100km/h.

SERRANOSSA – Você chegou a buzinar ou tentar avisar que o veículo estava desgovernado?

Boch – Na verdade, eu não consigo lembrar disso. Eu só pensava que não queria matar ninguém. Achei que bater na árvore seria a melhor solução, já que o local tem bastante residências e não podia jogar a caminhonete para o lado. Nas câmeras de segurança da Farina, também vi que 15 segundos antes tinha passado um ônibus na rua em frente à empresa (a Cavalheiro José Farina). Imagina a tragédia? Tive sorte de não bater em nenhum carro também.

SERRANOSSA – Você estava usando cinto de segurança?

Boch – Sim. Mas como a caminhonete é antiga, o cinto é só na cintura. Tentei me proteger me segurando na janela.

SERRANOSSA – A camionete estava com a revisão em dia?

Boch – Há três meses tinha feito uma revisão completa, afinal, ela é velha e a manutenção é necessária. Inclusive, já estava planejando uma nova inspeção.

SERRANOSSA – Você havia consumido bebida alcoólica?

Boch – Não, aliás faz 20 anos que não bebo. No máximo, uma taça de vinho ao meio-dia, mas quando sei que vou dirigir nem isso eu tomo. Aliás, muitos comentários surgiram na cidade dizendo que eu estava bêbado e drogado. Mas não faço isso. Inclusive, fiz o bafômetro na hora e deu: zero, zero, zero.

SERRANOSSA – Em algum momento você pensou que ia morrer?

Boch – Na verdade, eu nem pensei em mim. Eu só queria não matar ninguém. Só pedi isso. Porque bens materiais a gente trabalha e consegue tudo de novo, agora, a vida não tem volta. Estou indo quase todos os dias na Farina para ver como estão as pessoas que foram feridas. Sei que duas ainda estão em atestado médico, mas passam bem. Isso me tranquiliza e me deixa um pouco menos preocupado, pois desde o acidente não durmo direito. Por sorte minha filha, de um ano e meio, não estava no carro comigo. Eu ia buscar ela na escolinha, mas optei em falar com um amigo antes. Só de pensar que poderia machucá-la fico angustiado.

SERRANOSSA – O que pretende fazer agora?

Boch – Vou tirar o caminhão do guincho e tentar vender para o ferro velho o que sobrou e, principalmente, acompanhar essas pessoas que se feriram. Quero que todos fiquem 100%. Lamento muito pelo que aconteceu.


Reportagem: Raquel Konrad

É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.