Solidariedade após a tragédia

O Natal de 1998 vai ficar na memória do músico Juarez Silva e sua família para sempre. Não porque tenha sido agradável: seis dias antes, em 19 de dezembro, Silva ficou paraplégico. E hoje, apesar das dificuldades, dedica-se a ajudar outras pessoas portadoras de necessidades especiais.

Em 1998 Silva comemorava mais de 25 anos de carreira junto ao grupo Garotos de Ouro, vários discos gravados e o sucesso no Brasil inteiro. Naquele mês, o grupo fez uma pausa nas atividades para que os integrantes pudessem ficar com suas famílias. Na noite do dia 19 de dezembro de 1998, Mariza Pedrassani Silva, esposa do músico, era só alegria: estava se formando e participava de uma festa no salão do bairro Glória. Silva não quis ir por entender que era uma comemoração particular dela e de seus colegas, mas combinou de buscá-la mais tarde para irem a outro baile.

Após passear pelo Centro da cidade, ele foi até o salão. “Cheguei ao local e todas as persianas já estavam baixadas. Dei a volta no final da rua e estacionei em frente à porta do clube, do outro lado da rua. Quando desliguei o carro recebi um cano de revólver na têmpora e o bandido anunciou o assalto”, conta. Outros três assaltantes aproximaram-se do veículo. “Eles pediram que eu abrisse a porta. Neguei e falei que poderiam ficar com tudo que havia de valor. No início até pensei que fosse uma brincadeira. Mas como me neguei a abrir a porta, um dos assaltantes falou: ‘vou contar até três e, se não abrir a porta, eu vou te detonar aqui mesmo!’ Essas palavras eu lembro até hoje. Foi quando eu resolvi abrir a porta”, descreve.

Nesse momento, Mariza aproximou-se da calçada. Um dos assaltantes desferiu um tiro contra ela, acertando a mão e a nádega. O bandido que estava com a arma na cabeça de Silva virou-se para ver o que acontecia. “Era a minha única oportunidade. Joguei o corpo para a frente e bati na chave. Só senti o frio do cano do revólver – que sinto até hoje – passando pelo pescoço e o tiro no ombro. Foi como ter levado um empurrão, na hora não senti dor. O veículo avançou uns 40 metros e bati na parede de uma casa. Depois disso não vi mais nada.”

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14 dias em coma

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Juarez Silva e sua esposa Mariza foram socorridos por um casal de amigos e levados ao hospital. Mariza foi medicada e liberada, mas Silva permaneceu em coma durante 14 dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Após 88 dias internado no hospital, recebeu alta e foi encaminhado ao hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, onde permaneceu por mais 33 dias. “Os médicos queriam que eu ficasse por lá mais tempo, mas eu queria voltar. Desde o primeiro momento em que fiquei sabendo que fiquei paraplégico, aceitei minha condição e reaprendi a viver”, conta o músico. “Sempre fui muito determinado e realista. Muitas vezes perdemos muito tempo lamentando o que perdemos e esquecemos de cuidar do que restou. Me agarrei ao que sobrou.”.  

Há 13 anos Silva faz sessões de reflexologia. Diz sentir dor 24 horas por dia, tanto física como psicológica. “Sofri uma lesão muito alta, por um fio não estou tetraplégico. Luto diariamente pela minha vida.” Hoje, Silva trabalha como professor de música e diretor comercial em uma empresa. A força para continuar a viver, para ele, está no amor da família e na busca em auxiliar ao próximo. E solidariedade é com ele mesmo.

Ajuda a quem precisa

Há seis anos, Juarez Silva juntou um grupo de amigos para auxiliar pessoas portadoras de necessidades especiais. Ao todo já foram doadas 69 cadeiras de rodas e, somente no ano passado, 106 pessoas foram auxiliadas com encaminhamento médico, próteses, cirurgias, remédios e doações diversas. “Se quem pode não faz, tento resolver de maneira mais prática, tomando decisões e contando com o auxílio de pessoas maravilhosas. Meu coração se sente bem em fazer isso”, conta o músico.

Sua luta agora é para trazer um banco de células tronco para Bento Gonçalves. “O banco de células tronco é o futuro da medicina e qualquer um sabe que sem saúde o ser humano não é nada. Hoje estou com 55 anos, se não for para mim, que seja para o futuro. Eu não pedi para ser cadeirante, isso pode acontecer com qualquer pessoa.”

Acessibilidade

Ele cita ainda a falta de acessibilidade na cidade, o que impossibilita que muitos cadeirantes levem uma vida normal. “Se tirassem alguns degraus e construíssem rampas, iria auxiliar não só os cadeirantes, mas todos que possuem dificuldade de mobilidade. É tão fácil estender uma mão amiga a quem precisa, é um simples gesto que facilitaria a vida de muitos.”

Suspeitos negaram autoria do crime

Três menores e um maior de idade teriam sido os autores da tentativa de assalto. Dois menores, suspeitos, foram detidos dias após a tentativa de assalto, prestaram depoimento e negaram terem participado do assalto. Um dos suspeitos, também menor de idade, foi assassinado em janeiro de 1999. 

 

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