Somos nós adultos infantilizados?
Faz alguns meses que minha rotina semanal passou a ser dominada pelas transmissões ao vivo na internet. O que começou com a proposta de uma simples troca de ideias, tornou-se o momento de desabafo de muitas pessoas, muitas mesmo: em uma de minhas últimas transmissões, mais de 60 mil pessoas acompanharam e comentaram ao vivo os assuntos que elas próprias propuseram que eu abordasse.
Tendo em vista que hoje 95% do meu público é feminino e que mais de 70% das pessoas têm idade inferior a 40 anos, surgiu uma pergunta e a ideia de transformar em uma pesquisa direta que fiz com 20 mulheres entre 16 e 30 anos: tendo como base o que você ouve de sua mãe e de suas avós, você, hoje, acredita ser mais feliz do que elas eram?
Das garotas para as quais fiz essa pergunta – pasmem –, nenhuma disse ter a impressão de que hoje suas vidas são mais felizes. Então a segunda questão, em decorrência da resposta, foi “Mas você não acha que hoje as coisas são mais fáceis, a vida é menos sofrida e há menos pressão da sociedade quanto à posição da mulher?”. Mais uma vez, a resposta das 20 garotas convergiu a uma mesma ideia: as facilidades e a liberdade adquirida pelas mulheres colocaram em conflito as próprias cobranças que elas se fazem atualmente.
Nunca tantas mulheres tiraram a própria vida, nunca o índice de obesidade feminina esteve tão alto, nunca a venda de medicamentos para depressão e ansiedade foi tão grande entre o público feminino. Será que a imagem sofrida que tínhamos de nossas mães e avós, será que o semblante cansado, a dependência de um casamento e de filhos, será que tudo isso inferiorizava realmente as mulheres a ponto de fazê-las infelizes?
Se sim, por que então fica tão claro o conflito atual delas diante da cobrança que elas próprias se exercem junto a uma carreira profissional, relacionamentos, filhos e construção da tão popular estabilidade?
Nesse mar de liberdade, o que deu errado? Pressão social? Ora, mas se compararmos com outras gerações, hoje as pressões já não são imposições. E se não há a imposição social e familiar, se hoje uma mulher pode finalmente trilhar o próprio caminho, apesar dos murmúrios, por que então se torna tão mais difícil escolher esse caminho?
Há um oceano inteiro para se navegar, mas há de fato muito mais possibilidades de se afogar. Ao que parece, os botes salva-vidas estão escassos. O que eram pilares hoje ecoam como escombros. O poder de decisão das mulheres fez como primeira vítima elas próprias.
Na busca pelo oásis da felicidade, percebemos que por vezes o fato de caber a nós a escolha é o que por fim nos mostra que também cabe a nós a angústia. Escolher é ao mesmo tempo abandonar. Ao que muitas chamavam de submissão o fato de terem um lugar definido no jogo social, hoje lemos como liberdade. Mas qual o preço da liberdade? Pois se somos livres para ir, isso implica na liberdade do outro que também pode ir e nos deixar a qualquer momento.
Nunca houve tantas mães solteiras, nunca tantos casamentos acabaram nos primeiros cinco anos, nunca os homens foram tão declaradamente adeptos às relações que durem não mais do que algumas noites.
A liberdade trouxe à tona uma covardia latente para ambos os sexos. Talvez buscássemos isso, talvez a liberdade das mulheres finalmente fez com que muitos homens pudessem tirar a máscara do compromisso.
A cafajestagem está na moda. Nunca as mulheres se declararam tão infelizes e nunca os homens foram tão infantilizados. Ao que parece, ambos se uniram e prosperaram em um objetivo: não crescer emocionalmente. Somos meninos e meninas com nossos trinta e poucos anos. Livres, talvez, mas, mais do que nunca, reprimidos.