Sororidade para superar!

“Sororidade: relação de irmandade, união, afeto ou amizade entre mulheres”. Foi com esse propósito que nasceu o “Não me Kahlo Bento”, um perfil no Instagram dedicado à troca de experiências, recebimento de relatos e ajuda a mulheres vítimas de abusos e violência. O nome faz referência a Frida Kahlo, uma das mais importantes artistas da história do México e considerada também um ícone da causa feminista. A página foi criada pela auxiliar de Marketing Andressa Piecha Ferreira, de 21 anos, que passou a receber relatos, além de contar com dezenas de apoiadoras dispostas a ajudar vítimas.

Segundo o Atlas da Violência 2019, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), houve um aumento de 30,7% no número de feminicídios no Brasil entre 2007 e 2017, com cerca de 13 assassinatos por dia. Ao todo, 4.936 mulheres foram mortas em 2019, o maior número registrado desde 2007. 
O índice crescente de violência contra a mulher preocupa, inclusive em Bento Gonçalves. De acordo com a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, só no mês de fevereiro foram registrados, pelo menos, 10 casos de crimes sexuais. Embora não divulgue detalhes dos dados oficiais no município, a delegada Deise Salton Brancher afirma que a maioria das vítimas deste crime são mulheres e os agressores são da própria família. A polícia ainda confirma que, mesmo com tantos casos, não houve prisão, pois os acusados não foram apresentados em flagrante e porque os casos exigem investigação.

Acolhimento
O perfil criado Andressa buscou acolher e ter empatia com vítimas de agressões. Voltado apenas para mulheres – a conta é bloqueada e exige liberação para ter acesso ao conteúdo –, o @naomeKahlobento passou a receber diferentes relatos. “A maioria era de mulheres que sofreram abuso no passado e hoje não conseguem se relacionar com alguém por medo”, comenta ela, que também já auxiliou vítimas de agressões e de relacionamento abusivo. “Eu posto as denúncias que recebo e repasso sugestões de quem pode ajudá-las. Muitas mulheres acabam não confidenciando suas dores para familiares e amigos por vergonha e este foi um canal que elas encontraram para desabafar”, explica. 
Hoje, o perfil conta com psicóloga, nutricionista, advogada e fisioterapeuta que contribuem na resolução dos casos. “São profissionais que se colocaram à disposição para fazer acompanhamento psicológico, estético, a fim de melhorar a autoestima após agressões e até mesmo profissionais que podem prestar um auxílio jurídico e, de forma anônima, conseguem ter um suporte”, garante. 

Orientação é denunciar à polícia
De acordo com a delegada Deise Salton Brancher, a orientação para as mulheres que são vítimas de agressão é fazer um registro de ocorrência e pedido de medidas protetivas de urgência. “Nós ainda encaminhamos as vítimas para o Centro de Referência da Mulher que vivencia a Violência (Revivi) e passamos a investigar os acusados”, explica. 

Localizado junto ao Complexo Administrativo e com atendimento de segunda a sexta, das 8h às 17h30, sem fechar ao meio-dia, a unidade do Revivi é responsável pelo atendimento psicossocial e aconselhamento jurídico a mulheres que vivenciam a violência. A entidade orienta e encaminha mulheres em situação de violência física, psicológica, social, moral, sexual e doméstica e também promove ações e campanhas de prevenção à violência contra a mulher, articulando a rede de atenção à mulher.