Suco de uva conquista cada vez mais espaço

As apostas do setor vinícola se voltam cada vez mais para o suco de uva 100%, que nos últimos cinco anos apresentou um crescimento médio de 28% na comercialização. Se em 1997, metade dos consumidores tinha o suco de laranja como preferido, hoje o suco de uva já é a escolha de 30% dos consumidores – contra 16% que preferem o de laranja. Com o aumento na difusão dos benefícios da bebida, especialmente citando o aspecto saudável e o seu posicionamento Premium, as ações planejadas para 2015 pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) buscam ampliar o consumo através do fortalecimento da marca do projeto 100% Suco de Uva do Brasil para ganhar competitividade e aumentar a rentabilidade do setor.

Para antecipar as tendências em relação ao mercado consumidor do produto nos próximos anos e criar condições de manter e ampliar mercados e fomentar inovações do setor, a entidade encomendou um levantamento que serviu para identificar gargalos e fornecer informações que devem ajudar a reposicionar a categoria de sucos de uva naturais, prontos para o consumo. “Somos otimistas em relação ao sucesso que este produto vem obtendo junto aos consumidores, mas temos que ficar atentos porque outras bebidas também estão crescendo no mercado”, avalia o gerente de Promoção do Ibravin, Diego Bertolini.

Entre as estratégias para 2015, está a participação em eventos de saúde e nutrição e a difusão dos benefícios do suco de uva entre nutricionistas, educadores físicos e blogueiros. Pegando carona no crescimento do segmento de corridas, o Ibravin irá patrocinar três provas em nível estadual e nacional. O objetivo é fortalecer a imagem do suco de uva 100% como um suplemento esportivo – associação que já foi feita com o açaí, por exemplo.

O estudo

O estudo, realizado pela empresa Romagna Marketing e Pesquisa, englobou consumidores entre 21 e 55 anos, das mais variadas faixas de renda, e incluiu tanto pessoas com hábito de compra do produto como consumidores de outras bebidas, principalmente néctares e refrescos. A pesquisa qualitativa foi realizada no ano passado nas praças de Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE).

Além de abordagens e observações no ponto de venda, foram realizadas visitas às residências dos consumidores, com questionários e entrevistas sobre as impressões do produto e motivos que levaram à escolha do suco de uva. “O cenário é otimista para o consumo de bebidas saudáveis. Entre os consumidores há o desejo de ser mais saudável, mesmo que nem sempre seja posto em prática”, avalia Eliane Zanluchi, uma das sócias da Romagna Marketing e Pesquisa.

O objetivo da pesquisa não era apresentar números, mas avaliar o comportamento do consumidor. De acordo com Cristiane Romagna, o estudo apontou que o suco de uva é mais consumido no café da manhã e no almoço, especialmente no final de semana nos almoços em família. “Muitos consideram o suco de uva como um suco de vinho, e é a opção escolhida por quem quer ter os benefícios do vinho mas não pode consumir álcool por algum motivo”, explica. As principais reclamações foram a embalagem não atrativa, a falta de informação dos funcionários no ponto de venda e a exposição inadequada do produto – em prateleiras muito baixas, por exemplo.

Vendas estáveis

De modo geral, a venda de produtos vitivinícolas se manteve estável em 2014. Os números divulgados pelo Ibravin nesta semana apontam que houve uma redução de 0,18% no total global na comercialização, acompanhando o baixo crescimento econômico brasileiro no período, com o Produto Interno Bruto (PIB) em 0,2%. Os dados referem-se aos produtos elaborados no Rio Grande do Sul, que correspondem a cerca de 90% da produção brasileira. O suco de uva foi o produto que apresentou os melhores resultados: foram comercializados 90,2 milhões de litros prontos para o consumo, um aumento de 13,5% em relação a 2013. O levantamento inclui os produtos 100% natural (sem adição de água e açúcar), integral e reconstituído. Os néctares (que contém 40% de fruta em sua composição) e refrescos (que podem não conter uva) integram outra categoria de produto.

Do vinho ao suco

Décio Tasca sente orgulho de dizer que foi um dos pioneiros a acreditar no potencial do suco de uva, há 20 anos, quando poucos empreendimentos investiam na produção da bebida. O suco é elaborado artesanalmente na mesma propriedade em que os antepassados se fixaram ao virem da Itália para o Brasil, em 1882, na linha Santo Isidoro, localizada na parte do Vale dos Vinhedos pertencente a Monte Belo do Sul.

A história da família com a produção de vinho iniciou em 1931, de quando data o registro da primeira vinícola, e sofreu altos e baixos ao longo dos anos. Há seis anos a família passou a dedicar-se apenas aos sucos e às geleias.  “Se continuássemos a fazer suco e vinho, a incidência de impostos seria muito grande. Por isso, optamos pelo suco, que tem carga tributária menor”, justifica.

São utilizadas as variedades isabel, bordô e concord para o suco tinto, niágara, para o suco branco, e goethe, para o rosé. Cerca de 90% das frutas são compradas de produtores da região. “Assim, escolhemos as melhores”, explica. A produção gira em torno de 40 mil litros e, embora anualmente haja um pequeno aumento no volume produzido, os Tasca preferem focar na qualidade do produto, que depende diretamente das características da uva, que deve ser mais doce, já que não há adição de açúcar. Redes de restaurante da região representam 70% das vendas, o restante é dividido entre o varejo e outros estados. “É um produto que ao longo desses 20 anos confirmou sua qualidade. O mercado começou a gostar do suco de uva por ser um produto natural. Conheci muitas senhoras que viveram mais de 90 anos e todas elas tomavam suco de uva ou vinho. Ou seja, é uma fruta que faz muito bem em todos os sentidos”, finaliza Décio.

Marco Tasca, filho de Décio, acredita que um dos incentivos para alavancar o consumo do suco de uva tenha sido a promulgação da Lei Seca. Já que o suco de uva é da mesma família dos vinhos, ele acaba sendo a opção de quem está dirigindo. Outro ponto positivo na visão dele são as novas regras do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que tornam obrigatório informar os percentuais de ingredientes nos rótulos de bebidas não alcoólicas. “As pessoas poderão diferenciar mais facilmente os que contêm apenas fruta”, observa.

No processo de engarrafamento da bebida ocorre a pasteurização, o que garante um prazo de validade de 24 meses. Após aberto, o suco deve ser consumido preferencialmente no mesmo dia por não conter conservantes. “Trabalhamos com embalagens de 300ml e 500ml, pois é um produto perecível após ser aberto e entrar em contato com o oxigênio”, comenta.

 

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