Suco de uva: luz no fim do túnel

Empresários e produtores da cadeia vitivinícola estão com os olhos cada vez menos voltados para o vinho como garantia de vendas. Com a redução no consumo da bebida no Brasil nos últimos tempos, é o suco de uva que vem gerando os melhores resultados e perspectivas. Segundo representantes do setor, há bons ventos para os negócios nesse nicho e o empresariado já se movimenta para consolidar o mercado do suco e alavancar as vendas. E, na esteira, garantir a saúde financeira das empresas vitivinícolas.

Na reunião das lideranças do setor com o governador Tarso Genro, há duas semanas, em Pinto Bandeira, o suco de uva foi defendido como a melhor alternativa para enfrentar a queda do consumo de vinho no país. Os produtores e empresários pediram apoio para a inclusão do suco na cesta básica nacional, o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) apresentou um novo mascote de uma campanha publicitária criada para alavancar as vendas e estratégias de inserção do produto no mercado foram discutidas. Sem hesitar, os produtores declararam: o suco de uva já é tido como a “salvação da lavoura” para o setor.

Segundo dados do Ibravin, em 2004, 75,5% das uvas comuns cultivadas no Brasil foram destinadas à produção de vinho e 24,2% para a fabricação de suco. No ano passado, foram 51% para o vinho e 49% para o suco. E em 2012 a equação já se inverteu: apenas 43,9% das uvas comuns foram destinadas para a produção de vinho, enquanto 56,1% foram para a fabricação de suco. Em 2012, os 56,1% equivaleram a 350 milhões de quilos de uva. Da safra total de uvas brasileiras, apenas cerca de 10% são consideradas viníferas. As demais, comuns, sustentam o mercado ao serem transformadas em vinhos de mesa e suco.

Os números apresentados pelo diretor executivo do Ibravin, Carlos Paviani, durante a reunião com o governador Tarso Genro reforçam este crescimento vertiginoso. Entre 2000 e 2004 foram produzidos, em média, 4,05 milhões de litros de suco de uva natural/integral no país. Em 2011, a produção alcançou 41,63 milhões de litros – o crescimento foi de 927,9%. Em 2012, até junho, já foram 20,62 milhões de litros. O número de empresas da cadeia vitivinícola que vinificaram uvas, por outro lado, caiu desde 2004. Naquele ano, 87,4% das empresas da cadeia produziram vinhos. Desde então, a parcela vem caindo. Em 2012, apenas 62,5% das empresas dedicaram-se à fabricação de vinhos.

“Hoje, o maior negócio, em volume, é o suco de uva” disse o presidente do conselho deliberativo do Ibravin, Alceu Dalle Molle. Para ele, o suco é uma “alternativa viável” para manter o equilíbrio econômico do setor e evitar os altos estoques de vinhos não vendidos nas vinícolas. “O suco se vislumbra como a solução para a absorção da uva por causa do declínio do consumo do vinho”, afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suco de Uva (Asbrasuco), José Carlos Estefenon.

Medidas para o setor

O setor vitivinícola aguarda, com expectativa, medidas do governo federal que podem melhorar ainda mais esse quadro. Pelo menos três mudanças analisadas podem ser implementadas para beneficiar o setor.

Os ministérios do Desenvolvimento Agrário, Fazenda e Agricultura, Pecuária e Abastecimento estudam aumentar de 30% para 50% a exigência de fruta para os sucos tipo néctar. Com a medida, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, os maiores beneficiados seriam os produtores brasileiros de uva e laranja, que não dependem de importação de frutas. Outra ação esperada é a redução de 50% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aos fabricantes de refrigerante, refresco e extrato concentrado para elaboração de refrigerante que contenham suco de frutas ou extrato de sementes de guaraná em sua composição. O governo federal estuda ainda a concessão de crédito presumido para empresas exportadoras de suco. Em nota, o presidente do Conselho Deliberativo do Ibravin, Alceu Dalle Molle, comemorou a notícia: “as medidas vêm ao encontro dos anseios do setor vitivinícola”, disse o presidente.

Suco na merenda

Uma das reivindicações do setor vitivinícola já atendidas é a inclusão do suco de uva na merenda escolar. Desde setembro de 2009, está em vigor uma lei que prevê a inclusão da bebida nos cardápios das escolas estaduais. E muito antes disso a prática já era comum na rede municipal de ensino de Bento Gonçalves: há 18 anos os alunos têm a opção da bebida nos lanches servidos durante o período de estudo.

De acordo com a secretária municipal de Educação, Rita de Cássia dos Santos, o suco de uva é ofertado em todas as escolas da rede municipal e na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e Colégio Cenecista. “O suco deve ser oferecido, no mínimo, uma vez por semana, conforme lei municipal de outubro de 2005”, explica Rita. São consumidos mensalmente cerca de quatro mil litros. “O número pode variar de acordo com as condições climáticas e número de alunos atendidos”, esclarece. Segundo a nutricionista da Smed, Renata Geremia, a bebida é ofertada tanto na forma de suco como em outras receitas, como sagu e creme. “O suco de uva contém flavonoides, que têm efeito cardiovascular protetor”, explica.

A bebida é adquirida pelo município através de processo licitatório. Por meio de chamada pública, participam os agricultores locais organizados em uma associação. Caso esses não tenham a quantidade suficiente para atender à demanda do município, podem participar de cooperativas, por exemplo. Outra forma de aquisição da bebida é o pregão presencial. Neste caso, o certame é aberto no início de cada ano e fica disponível para interessados de todo o país que atendam às exigências do município.

Comercialização recupera-se aos poucos

Se comparado ao vinho, o suco de uva tem sido a opção mais segura quando o assunto é garantir as vendas. Segundo dados do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), a comercialização de vinhos, tanto finos quanto de mesa, está em patamares inferiores aos registrados em 2005. Após o pior momento da década, em 2008, as vendas começam a crescer pouco a pouco, mas as vinícolas precisam tranpor difíceis obstáculos para colocar o produto na mesa dos consumidores brasileiros. Entre os vinhos finos brancos e rosados, por exemplo, as vendas em 2011 equivalem à metade do registrado em 2004. Somente os tintos vêm mantendo algum crescimento. “O mercado interno está consumindo menos”, afirma o presidente do conselho deliberativo do Ibravin, Alceu Dalle Molle.

A presença cada vez maior de vinhos finos estrangeiros no mercado é tida como uma das grandes pedras no sapato da indústria nacional. Desde 2001, eles representam a maior parcela do consumo de vinhos finos no Brasil – e os nacionais têm resultado quase quatro vezes menor. Para os produtores, o caminho é a polêmica salvaguarda, que imporia entraves à entrada de vinhos estrangeiros no país, com exceção dos argentinos e uruguaios, beneficiados pelas normas do Mercosul. Na reunião com o governador Tarso Genro, o assunto veio mais uma vez à tona: os representantes do setor pediram apoio do governador ao pleito junto ao governo federal.


O preferido

Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suco de Uva (Asbrasuco), José Carlos Estefenon, o suco de uva ultrapassou em 2005 o de laranja como o sabor preferido dos brasileiros e hoje responde por 28% do mercado nacional.

 
Reportagem: Eduardo Kopp e Carina Furlanetto

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