Supermercados na mira dos assaltantes

“Ela disse ‘não tem dinheiro em caixa’. E eles falaram: ‘se tiver, a gente vai te matar, pode ser?’. A menina, amedrontada, resolveu entregar tudo que tinha”. Esse foi um dos poucos diálogos que aconteceram durante o roubo a um supermercado em Bento Gonçalves. Nos últimos 15 dias, três estabelecimentos desse tipo foram alvo de assaltantes. A reportagem do SERRANOSSA fez contato com todos, mas apenas um funcionário de um dos estabelecimentos aceitou relatar o medo e a sensação de impotência mediante as ameaças e as armas dos ladrões. 

Esse foi o sétimo assalto vivenciado pela vítima, que sempre trabalhou no comércio da cidade. “Eles chegaram, mostraram as armas e assustaram as funcionárias. Eu já passei por sete situações parecidas. Para mim, não é uma novidade, mas sempre nos deixa assustados. As meninas ficaram muito assustadas, chorando. Agora permanece aquele medo”, conta. E foi justamente esse sentimento de impotência que fez com que medidas de segurança fossem implementadas. “Nós mudamos a rotina de final do dia, passamos a fechar o portão de estacionamento mais cedo. Ficamos sentidos por causa dos clientes, mas não temos muita escolha. Também passamos a deixar pouco dinheiro na loja em função dos assaltos até certo ponto constantes”, alega. 

Além de mudanças na rotina, investimentos em segurança foram realizados. “Colocamos vigias armados, investimos em melhorias no sistema de monitoramento e até trocamos os horários. Todo o material captado durante as últimas ações foi encaminhado à Polícia Civil. Também prestamos depoimentos e contamos com ajuda de moradores do bairro na tentativa de identificar os autores, mas até o momento não nada foi feito”, aponta o funcionário. “Então ficamos nessa sensação de insegurança: não se sabe quando vamos ser vítimas novamente, se vamos ser abordados ao chegar ou sair do mercado. A pessoa está trabalhando e, de repente, entra alguém armado. E por mais que colaboremos com a investigação, fornecendo inclusive imagens que mostram bem o rosto de um dos assaltantes, não recebemos resposta sobre o caso”, lamenta. 

O funcionário acredita que os assaltantes tinham conhecimento da rotina e de detalhes do ambiente. “Deu para perceber que eles conheciam o local porque foram direto nos caixas e um deles subiu até a sala da tesouraria, que estava fechada. Mesmo tendo pouco dinheiro na loja, eles sabiam onde a quantia poderia estar”, garante. 


“Sempre é traumatizante”

Não foram uma ou duas ações: foram sete assaltos presenciados pelo funcionário que concordou em conceder entrevista ao SERRANOSSA. “No primeiro assalto que sofri, o homem utilizava uma faca e me marcou mais por ser a primeira situação que vivenciei. Nunca é bom, sempre é traumatizante, mas hoje já sei, mais ou menos, como funciona. Geralmente os ladrões não querem machucar. Em todas as ações aqui, nunca ficou ninguém machucado, mas sempre após o episódio costumo acordar no meio da noite com pesadelos. Os três primeiros assaltos foram praticados por motoqueiros, então passa uma moto na frente da loja e já dá aquele frio na barriga”, conta. 

Além de a vida particular ser afetada, o lado profissional também fica abalado. “Sempre que acontece essa situação há a cobrança da empresa, sobre os procedimentos utilizados e tudo mais”, conta. 


Ocorrências recentes

Dia 12 de julho, às 8h30
Três homens vestindo roupas escuras, dois deles usando toucas e armados, entraram em um supermercado no bairro Aparecida e anunciaram o assalto. Os ladrões roubaram aproximadamente R$ 2 mil. Após o roubo, fugiram a pé. Ninguém foi preso.

Dia 22 de julho, às 12h50
O segundo alvo foi um supermercado localizado no bairro Botafogo. Segundo a BM, dois homens armados, tripulando um motocicleta, chegaram no local, renderam os funcionários e anunciaram o assalto. Após a ação, a dupla fugiu em uma moto, com placa de Viamão, levando uma quantia em dinheiro não revelada. Ninguém foi preso.

Dia 25 de julho, às 19h30
A ação aconteceu enquanto o proprietário do mercado, no bairro Ouro Verde, contabilizava o lucro do dia. Quatro homens armados e encapuzados entraram no local e anunciaram o assalto. Todos os clientes e funcionários que estavam no interior do estabelecimento foram rendidos e obrigados a deitarem no chão. Um quinto assaltante ficou no lado de fora, dentro de um veículo Fiat/Palio, de cor branca, aguardando os comparsas. Durante a investida, um tiro de arma de fogo chegou a ser disparado por um dos bandidos dentro do mercado, mas, segundo testemunhas, teria sido acidental. Segundo testemunhas, os bandidos chegaram a agredir uma das vítimas com uma coronhada. Ninguém foi preso.


Investigação

Segundo a BM, não é possível afirmar que os três episódios tenham relação ou que tenham sido cometidos por uma mesma quadrilha. A investigação dos casos é de competência da Polícia Civil, mas o comando da BM acredita que, pelas características da ação, há grande possibilidade de que os autores não sejam de Bento Gonçalves e contem com a colaboração de indivíduos da cidade. A hipótese se deve ao fato de que alguns ladrões não se preocuparam em esconder o rosto.O SERRANOSSA tentou contato com a Polícia Civil. Para não prejudicar as investigações e até obter detalhes das ações, o delegado Álvaro Becker – titular da 2ª Delegacia de Polícia (2ªDP), especializada em crimes de roubo – preferiu não se manifestar sobre os casos.

Reportagem: Jonathan Zanotto


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