Supostas ameaças de ataques alteram rotina nas escolas de Bento Gonçalves

Após o ataque em uma creche de Blumenau que deixou quatro crianças mortas, escolas de todo país vem recebendo maior reforço na segurança e mais atenção por parte de autoridades do município

Foto: Prefeitura de Bento Gonçalves

No dia 5 de abril, um crime causou tristeza e indignação em todo país. Uma creche foi alvo de um ataque durante a manhã, em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Quatro crianças com idades entre quatro e sete anos foram mortas e cinco ficaram feridas.

O ataque na creche Cantinho Bom Pastor ocorreu menos de dez dias após uma escola em São Paulo ser alvo de um aluno que matou a professora com golpes de faca e deixou outras três feridas, além de um estudante.

Diante da repercussão destes casos, a reportagem do SERRANOSSA procurou entender como está o cenário da segurança nas escolas de Bento Gonçalves.

Reunião entre as redes escolares

Na última segunda-feira, 10/04, a prefeitura de Bento Gonçalves realizou duas reuniões: no turno da manhã com a rede particular de ensino e na parte da tarde com a rede estadual.

Ambas contaram com a presença do prefeito Diogo Siqueira, do vice-prefeito Amarildo Lucatelli, do comandante do 3º BPAT Tenente Coronel Arthur Marques de Barcelos, do chefe da delegacia da PRF Leandro Portes e do comandante da Guarda Civil Municipal Marcelo Pereira.  O coordenador da 16ª CRE Alexandre Misturini também esteve presente na reunião da rede estadual.

No encontro foram debatidas ações que podem reforçar a segurança escolar, tais como a ronda escolar com a presença da Guarda Civil Municipal, com o Departamento Municipal de Trânsito, Brigada Militar e com a Polícia Civil nas escolas.

Além disso, também foi anunciado que será realizado o treinamento em defesa pessoal das diretoras das escolas.

Na reunião, o prefeito Siqueira ressaltou que o Poder Público está conversando com todos os responsáveis pelas escolas municipais, particulares e estaduais, reforçando as informações de segurança e ouvindo as principais demandas.

“Estamos juntos construindo protocolos de segurança, que não queremos que sejam utilizados, mas que em uma situação de extremo perigo podem auxiliar a salvar vidas” destacou o prefeito.

O que diz o secretário de Segurança de Bento

O secretário de Segurança de Bento Gonçalves, Paulo César de Carvalho, afirmou que considerando a crescente demanda que surgiu nos últimos dias em relação às ameaças de atentados em escolas de todo Brasil, tem se observado uma sensação de insegurança nas instituições de ensino.

“Diante dessa situação, o Poder Público Municipal vem tomando medidas para acalmar, mediar e resolver a situação”, afirmou.

Além disso, ele destacou que a secretaria municipal de Segurança, através da Guarda Civil Municipal e com o apoio de outras forças de segurança, vem trabalhando arduamente para que sejam sanados as preocupações e o pânico que vem causando nos pais, responsáveis e população em geral.

“O patrulhamento escolar foi intensificado pelas escolas do município após reunião na prefeitura com todas as forças de segurança e diretores de escolas. Nessa reunião foi acordada com as demais forças de segurança uma aplicação de maior efetivo diariamente nas escolas”, salientou.

Entre as outras ações, o chefe da pasta informou que a prefeitura vem instalando equipamentos de videomonitoramento nas escolas, a fim de monitorar durante o período letivo os movimentos dentro das escolas.

Outra medida anunciada é a contratação de mais porteiros para as escolas. “A secretaria de Administração está providenciando novas contratações de porteiros para as escolas municipais. Por fim, a secretaria de Esportes e Desenvolvimento Social está montando um programa de treinamento em defesa pessoal que será ofertado aos professores da rede escolar”, finalizou.

Governo e MPRS debatem segurança escolar

A partir de determinação do governador Eduardo Leite, ocorreu também na segunda-feira, 10/04, uma reunião envolvendo as secretarias da Segurança Pública (SSP) e Educação (Seduc), com o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS). O encontro tratou sobre a segurança no ambiente escolar e supostas ameaças que circulam nas redes sociais.

Embora as aulas ocorram normalmente em todo Rio Grande do Sul, o governo afirmou que desde que ocorreu o ataque na creche de Blumenau, o Departamento de Inteligência da Segurança Pública (DISP) e as agências de inteligência das forças de segurança do Estado monitoram o tema no Estado.

Em função dos boatos, a Brigada Militar reforçou o patrulhamento em áreas estratégicas. Durante encontro, também foi reforçada orientação para que não sejam compartilhadas imagens de ataques em escolas para não estimular atos de violência.

A Seduc ressaltou que tem monitorado intensivamente, a partir do diálogo com os órgãos de segurança, todas as suspeitas e boatos em circulação. A pasta ressaltou que não há qualquer alteração na rotina de aulas, e tranquilizou pais e professores para que sigam mantendo as atividades dos alunos normalmente.

O Ministério Público do RS também apresentou medidas preventivas adotadas pela instituição, especialmente por seu Núcleo de Inteligência (Nimp), seu Cyber Gaeco e seus Centros de Apoio Operacional. Além disso, reforçou a rede de comunicação entre os promotores de Justiça Regionais da Educação, que cobrem todo o território gaúcho, para análise de casos suspeitos.

A SSP reforça que, em caso de suspeita, estão disponíveis para denúncia os canais da Brigada Militar (190) da Polícia Civil (197), e o Disque-Denúncia da secretaria (181), que funcionam 24 horas por dia. Não há necessidade de se identificar.

O que dizem as diretoras

A diretora da Escola Estadual Mestre Santa Bárbara, Margarida Mendes Proto, relatou que alguns pais de alunos entraram em contato com a escola demonstrando preocupação em relação aos últimos acontecimentos. Além disso, alguns pais optaram por deixar os filhos em casa.

“A escola orientou os alunos que para sua segurança, venham uniformizados, respeitem o horário de entrada e saída. Se receberem informações nas redes sociais, não repassem, mas que comuniquem a direção da escola. Os professores também foram orientados da mesma forma e que se mantenham atentos a qualquer situação atípica”, disse.

A diretora da Escola Municipal de Tempo Integral São Roque – Professora Nilza Côvolo Kratz, Andreza Peruzzo, também reforçou que a preocupação com o momento e com a situação é grande.

“Os pais e todos nós da educação estamos preocupados com toda a situação que estamos vivenciando nas escolas. Nossa escola EMTI São Roque está dividida em duas unidades, a preocupação é dobrada”, afirmou.

Andreza acrescentou que a escola está mantendo uma comunicação bem clara com as famílias dos estudantes.

“O importante nesse momento é harmonizar os ambientes, mesmo com a presença do medo. O que vemos é a disseminação de vídeos e áudios pelas redes sociais de todo o lugar do Brasil e do mundo, mas quero deixar um alerta para as famílias: é preciso tirar o olho da tela para enxergar a nossa realidade”, afirmou.

A diretora também disse que é necessário que as pessoas observem o que acontece mais perto. “Na rua da sua casa, no trajeto de ida e volta da escola, em movimentações estranhas próximas das escolas e a qualquer sinal de perigo eminente ligar para a polícia no 190”, alertou.

Questionada se alguns pais decidiram não mandar os filhos para a escola, por medo, Andreza respondeu que ocorreram manifestações de muita preocupação.

“Alguns [pais] manifestaram o desejo de não mandar os filhos para a escola, mas por enquanto todos estão frequentando. Recém saímos de uma pandemia de COVID-19, na qual nossas crianças e adolescentes ficaram em casa por muito tempo e vimos os danos causados na aprendizagem e no emocional dos alunos que perpetuam ainda hoje. A solução não é trancar as crianças em casa, mas ações de segurança para prevenir qualquer ato maldoso contra nosso bem maior, os alunos”, salientou.

Sobre as medidas adotadas na escola, a diretora afirmou que a secretaria de Educação em conjunto com os demais órgãos da Prefeitura está colocando câmeras de segurança nas escolas.

“Além de ações que visam à autodefesa dos profissionais da educação, o aumento do policiamento nas escolas. A nossa escola vem recebendo visitas frequentes do GCM e da Brigada Militar”, reforçou.

Andreza também informou que o Conselho de Pais e Mestres (COM) adquiriu raquetes detectoras de metal.

“Também chamamos um técnico em segurança para observar a escola e indicar melhorias necessárias. Os portões da escola permanecem fechados e, para entrar nas escolas, a partir de hoje, quarta-feira, [12/04] é necessário apresentar documento de identificação”, finalizou.

Investimento para ampliar segurança

O Ministério da Justiça publicou um edital que libera R$ 150 milhões para ampliar rondas e criar ações para melhorar a segurança nas escolas, por meio do Programa Nacional de Segurança nas Escolas. A medida foi oficializada em Diário Oficial, na quarta-feira (12).

Segundo o Ministério da Justiça, o objetivo da medida é fortalecer os órgãos de Segurança Pública para atuar nas escolas, com ações preventivas e patrulhamento, além de monitoramento e investigação de possíveis crimes, incluindo na internet.

Por meio do edital, o governo receberá projetos de secretarias de Segurança Pública de Estados e municípios. Depois, o ministério vai repassar os recursos para as propostas de ações de enfrentamento à violência que forem aprovadas.

Desde quinta-feira, 13/04, órgãos públicos podem enviar propostas para o governo com as seguintes temáticas: criação, aprimoramento ou fortalecimento de Patrulhas e Rondas Escolares; capacitação e especialização na prevenção em segurança no ambiente escolar; pesquisa e diagnóstico na prevenção em segurança no ambiente escolar; monitoramento de ameaças, inteligência e enfrentamento aos crimes cibernéticos; ações educativas e culturais com foco em prevenção às violências observadas no ambiente escolar; e estruturação de Observatórios de violência nas escolas.

Todas as propostas vão ser analisadas por uma comissão, que distribuirá notas para cada projeto de acordo com os critérios do edital. O resultado dos projetos contemplados deve ser divulgado até o fim de maio.

Municípios que tiverem propostas aprovadas pelo Ministério da Justiça receberão entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão. Já os estados e o Distrito Federal receberão de R$ 500 mil a R$ 3 milhões.