SUS: ortopedia tem mais de 400 na fila de espera
Quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) para serviços de rotina, como consultas e exames, já prevê certa demora para o atendimento, considerando a grande demanda e o quadro médico completo há pouco tempo em Bento Gonçalves. Para quem precisa de um procedimento de maior complexidade, como cirurgias, entretanto, a espera é ainda maior: mais de 400 pessoas aguardam na fila há cerca de três anos por uma operação ortopédica.
O coordenador médico da secretaria municipal de Saúde (SMS), Marco Antônio Ebert, explica: procedimentos de baixa complexidade são feitos no Pronto Atendimento 24 horas, no bairro Botafogo; serviços de média complexidade, no Hospital Tacchini; e atendimentos de alta complexidade, como cirurgias, são realizados conforme a determinação da secretaria estadual de Saúde (SES). “O gargalo da saúde pública em Bento são as cirurgias de ortopedia de alta complexidade, que incluem coluna, quadris e próteses no joelho. Elas são feitas no Hospital São Carlos, em Farroupilha, que é referência na área na região”, relata. A instituição, no entanto, estaria passando por problemas estruturais e financeiros. “Faz, aproximadamente, três anos que a fila anda pouco”, revela Ebert.
Hoje, há 405 pessoas aguardando um procedimento da especialidade. Em 2014, somente 17 operações ortopédicas de alta complexidade foram feitas em Farroupilha. “Somos referência de traumato-ortopedia para 34 municípios da região e nosso teto é de 12 cirurgias por mês”, afirma o diretor do Hospital São Carlos, Enrique de Almeida. A instituição é a responsável pela área desde novembro de 2013 – antes disso, as cirurgias eram realizadas no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul.
A lentidão no sistema em Bento é constatada desde 2012, quando cirurgias deixaram de ser realizadas por conta da crise financeira da administração municipal. “Quando assumimos, no ano seguinte, tínhamos a demanda atrasada e ainda enfrentávamos problemas financeiros. Conseguimos encaminhar um grande número de cirurgias em 2013 e 2014, alguns casos foi possível reverter. Nosso único empecilho é a ortopedia”, conta Ebert. Das 110 novas cirurgias solicitadas a cada mês, pelo menos 20 são da especialidade.
“Espero que ninguém precise”
Após torcer o tornozelo em fevereiro de 2012, Ederson de Morais foi diagnosticado com rompimento de ligamentos no joelho direito. “Fui no posto de saúde do meu bairro e disseram que, em seis meses, a cirurgia para colocar pinos e refazer os ligamentos seria liberada”, conta o consultor de vendas. O contato para novas consultas foi feito nos últimos dias, com agendamento da operação prevista para o próximo mês de fevereiro.
Ao longo de quase três anos de espera, ele vive com limitações. “Não posso carregar peso, fazer caminhadas longas, ir para academia. Às vezes, para subir escadas o joelho sai do lugar e dói muito”, afirma Morais. Segundo ele, nenhum tratamento ou medicação foram prescritos durante o período.
Logo que se machucou, precisou pagar pela ressonância magnética, que não era oferecida pelo SUS na época. “Já precisei rejeitar vagas de emprego por não poder carregar peso, por exemplo. E por ter que deslocar todo o meu peso na perna esquerda, já sinto dores nela também”, afirma. A previsão é que ele fique 24 horas internado para o procedimento e mais 15 dias imobilizado, com recuperação completa em nove meses. O tratamento ainda inclui 20 horas de fisioterapia, também pelo SUS. “A única coisa que solicitaram que eu comprasse foi a cinta para ser usada depois, além das muletas, que posso alugar”, diz Morais. “Sempre fui atendido com atenção, mas é muita demora para quem tem dor, espero que ninguém passe por isso”, conclui.
Previsão
Segundo Marco Antônio Ebert, a SMS está na dependência do ajuste financeiro do Hospital São Carlos e dos repasses e determinações do governo do Estado. Ele afirmou interesse em apresentar a situação para o novo secretário estadual de Saúde, João Gabbardo dos Reis. A demanda, no entanto, não foi uma das cinco elencadas na apresentação das necessidades da saúde em Bento em reunião com a SES, na última quarta-feira, dia 28. “Se não resolvermos em Farroupilha, queremos poder deslocar o serviço para outra cidade”, afirma o coordenador médico. Procurada pela reportagem, a SES não pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta edição.
Reportagem: Priscila Pilletti
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