Tabelas de preço afastam médicos dos convênios

Plano de saúde ainda é luxo no país. Apenas 23,9% da população brasileira conta com algum tipo de convênio, realidade diferente do que acontece na Serra gaúcha. Em Bento Gonçalves, 41,9 mil pessoas têm cobertura de saúde, o que equivale a 39% da população. Já em Caxias do Sul, percentual é ainda maior, chegando a 65% dos moradores (278,3 mil pessoas). Os dados são da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entretanto, ter acesso ao benefício nem sempre é suficiente para quem precisa do atendimento médico. Isto porque, dependendo do plano de saúde e da especialidade procurada, poucos são os profissionais conveniados.

Quem possui convênio com o Ipe-Saúde, plano destinado aos servidores públicos do Estado, conta com apenas um cardiologista para atendimento em Bento Gonçalves. Carlos Aberto da Costa Gonçalves, único médico da especialidade com o convênio em vigência, conta que já se credenciou e descredenciou diversas vezes. “Continuo atendendo mais em respeito aos pacientes antigos”, explica. “Mas não sei até quando vou aceitar o sacrifício”, emenda. O desligamento, na visão dele, é por um motivo clássico: baixa remuneração. “É um problema que se estende por décadas. O valor recebido é bem abaixo do considerado ideal”, classifica.

Conforme pontua o presidente da Associação Médica de Bento Gonçalves (Ameb), Fábio Anselmi, o Ipe-Saúde adota uma tabela que foi criada no ano de 1992 e, desde então, poucos procedimentos foram incluídos. “Esta realidade somente traz problemas aos usuários”, identifica. Anselmi exemplifica que alguns procedimentos menos invasivos e de rápida recuperação não estão inclusos entre os serviços disponíveis aos usuários. “Ao indicar uma cirurgia, o médico não pode oferecer ao paciente o que há de melhor para tratamento porque o convênio não disponibiliza. É uma situação embaraçosa tanto para o profissional quanto para o paciente”, preocupa-se.

Luta de classe
Presidente da Associação Médica de Bento Gonçalves (Ameb) por diversos mandatos, o cardiologista Vicente Tarrago defende a briga da categoria. “Queremos ser valorizados pelo nosso trabalho. Ninguém trabalha de graça”, protesta. Tarrago explica que o problema da classe é a dependência de valores que não são definidos diretamente pelos profissionais. “Ao contratar um serviço de manutenção numa residência, o prestador de serviço é quem determina o preço que vai cobrar pelo trabalho. Conosco é diferente”, esclarece. “Cabe a cada profissional definir se aceita as condições impostas pelos planos ou não”, complementa.

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