Tecchio quer tornar feira referência no mundo todo

O Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis) já deu início aos preparativos para a 19ª Movelsul Brasil, tradicional feira de móveis promovida pela entidade desde 1977 e que hoje é referência na América Latina, marcada para o final de março de 2014. Na semana passada foram anunciados o nome do presidente da feira e mudanças na forma como ela será gerida. Ao contrário da última edição, que foi organizada por uma diretoria específica dentro do organograma do Sindmóveis, a próxima edição ficará a cargo da diretoria executiva do sindicato. 

O SERRANOSSA conversou com o novo presidente da feira, Henrique Tecchio, 33 anos, diretor administrativo da Móveis Bentec Ltda e vice-presidente do Sindmóveis. Na pauta, a próxima feira, os desafios do setor moveleiro e o futuro da Movelsul Brasil. Para o novo presidente, é possível esperar um bom desempenho do evento, com crescimento no volume de negócios e resultados financeiros, mas é preciso ter os “pés no chão” e trabalhar bastante para levar a Movelsul Brasil ao patamar das grandes feiras do planeta. Confira a entrevista:

SERRANOSSA: Por que o Sindmóveis decidiu passar para a diretoria executiva o comando da Movelsul Brasil?
Henrique Tecchio: Foi um trabalho de alguns anos. Queríamos unificar as duas diretorias, a das feiras e a do sindicato, e nesse ano, em assembleia, foi possível fazer o agrupamento. Nós já tínhamos juntado a diretoria financeira e a de comunicação no ano passado. Isso vai fazer com que a gente tenha um dinamismo muito maior, um melhor tráfego de informações, com um tempo menor. As decisões serão tomadas de forma mais ágil, que é o que a gente necessita hoje em dia. Com diretorias separadas, às vezes há burocracia e é preciso juntá-las para discutir algum assunto. O Sindmóveis já está muito profissionalizado. Não há necessidade de seguir com duas diretorias distintas.

SERRANOSSA: Qual é o tamanho do desafio de presidir a Movelsul Brasil?
Tecchio: O desafio é sempre grande. A feira já é consolidada e vem sendo trabalhada há muito tempo, com resultados sempre magníficos. O desafio é criar situações e benefícios novos, renovar a feira para que ela tenha atrativos suficientes para que o público visite e goste. E que os expositores saiam satisfeitos e com muitos negócios concretizados. Esse é o principal desafio de se fazer uma feira: dar o retorno esperado pelo expositor e conseguir cumprir com todas as expectativas que o visitante tem. Em resumo, surpreender de forma positiva.

SERRANOSSA: O que muda na próxima edição em relação à anterior?
Tecchio: Já tivemos uma grande mudança no ano passado, que foi a segmentação dos setores.  Antes nós tínhamos, de uma forma organizada, diversos setores misturados entre si, e nesse ano que passou já foi feito uma grande mudança pra pegar esses segmentos e focar mais. Foi um trabalho difícil, até porque tem espaços que são concorridos nos pavilhões, então foi preciso negociar. Agora vamos melhorar isso. Até o início de março vamos finalizar a composição da diretoria, não vamos mudar muito em comparação com o ano passado, para dar continuidade ao trabalho, mas vamos introduzir algumas peças renovadas e propor a criação de vice-diretorias. Uma das maiores dificuldades é conseguirmos achar pessoas com tempo disponível para se doar para a feira. Os empresários, hoje em dia, têm tanta coisa para se preocupar e, para tocar mais um evento, uma entidade, tem que ter uma disponibilidade muito grande. Então estamos otimizando o processo para podermos utilizar de forma mais interessante as energias de cada pessoa.

SERRANOSSA: No ano passado a Movelsul Brasil teve 38,1 mil visitantes e gerou mais de US$ 300 milhões em negócios. Quais são as metas para a próxima edição?
Tecchio: Sempre esperamos superar. Seria interessante um crescimento de no mínimo 10% nesses números. Essa é uma meta bem “pés no chão”. Mas muitas vezes, até com menos visitantes e um trabalho mais benfeito, é possível obter um resultado financeiro melhor. Como é uma feira de negócios, tentaremos otimizar o máximo possível para que, com um mínimo de visitantes, consigamos ter um máximo retorno financeiro para os expositores.

SERRANOSSA: As dificuldades impostas pela Argentina para a entrada de mercadorias pode ter impacto nos números da feira?
Tecchio: Não achamos que vai impactar negativamente porque o mercado já vinha caindo. A Movelsul trabalha com diversos países e muitas rodadas de negócios. Acharemos outros caminhos, outras formas de incrementar os negócios. Mas poderia ser muito melhor se eles estivessem bem. A Argentina é um mercado que perdeu muito volume nos últimos anos. Há algum tempo já vinha decaindo e, com isso, outros mercados foram sendo criados e ganhando mais importância. Agora temos a Colômbia, que é um mercado muito bom, o Equador também, os países da América Central. Até países orientais começam a aparecer. Em nações africanas, como Angola e África do Sul, está começando a haver um retorno interessante. O protecionismo da Argentina, infelizmente, faz com que a confiança do empresariado em vender para esse mercado se abale. É uma pena porque é um país próximo, faz fronteira com o Rio Grande do Sul. Seria mais fácil levar os nossos móveis para a Argentina do que para o centro do país ou para o Nordeste. Mas são questões sobre as quais não temos influência, mas que nos atingem muito. É uma questão da política deles, e esta falta de comprometimento com os números faz com que o mercado tenha que migrar para outros lados.

SERRANOSSA: Quais são os mercados mais importantes para os móveis de Bento Gonçalves?
Tecchio: O principal mercado é o mercado interno. No externo, são diversos os países que estão voltando a comprar, países que estão começando a se mostrar com bom potencial, como o México. A Argentina sempre foi o melhor mercado internacional, mas infelizmente está se perdendo este grande mercado no quintal da nossa casa.

SERRANOSSA: Existe alguma gestão junto ao governo federal para tratar destas dificuldades com a Argentina?
Tecchio: A Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul) movimenta essa questão em nível federal. Somos apoiadores e é claro que se buscou alguns acordos junto aos ministérios que tratam destas questões de comércio exterior. Mas a gente sabe das dificuldades que existem. Tem que ter muita paciência e ser persistente na busca. E além de pensar no mercado externo, temos que pensar sempre no interno: é preciso tratar das leis trabalhistas, todas estas questões de impostos e taxas. Isso quem sente é sempre o consumidor, que ganha menos e paga cada vez mais pelos produtos que quer adquirir. Quem enche o cofre é o governo.

SERRANOSSA: O dólar vem recuando nos últimos tempos e tem permanecido em patamares em torno de R$ 2. Como a indústria moveleira vem lidando com esta questão e qual é a situação ideal para as exportações e para os negócios na feira?
Tecchio: O câmbio se mostrou favorável no ano passado e esperamos que o dólar se mantenha no patamar de R$ 2, porque isso estimula a exportação. Muitas empresas fazem negociação a médio e longo prazo. São negociações em que é fechado um volume de móveis e um período de tempo para a entrega. Então fecha-se também o câmbio. Se chegar a ser fechado um cambio de R$ 2, e daqui a três meses o dólar baixar para R$ 1,50, esse decréscimo vai ser sentido exclusivamente pelo fabricante. O outro lado já ganhou. Tem que ser um número que seja bom para todos os lados e R$ 2 seria um patamar bom. Se baixar, será melhor para quem importa. Isso pode estimular a entrada de produtos. Hoje está bom tanto para importação quanto para exportação.

SERRANOSSA: Qual é o futuro da Movelsul Brasil?
Tecchio: Nós queremos não só nos manter como uma das maiores feiras do mundo, mas também ser referência como uma feira profissional, que traz novos conceitos e que gera milhões de dólares em negócios, para ali na frente sermos comparados às melhores feiras da Europa. É esse o grande objetivo e o principal desafio não só para quem está assumindo agora, mas para aqueles que virão. Chegar neste patamar que estamos hoje é difícil e para mantermos isso e crescermos temos quefazer um esforço ainda maior.

Reportagem: Eduardo Kopp


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