Tecnologia, sim. Excessos, não

As memórias da infância de muitos adultos geralmente incluem brincadeiras ao ar livre ao lado de vizinhos, amigos ou primos. Os meninos iam para rua jogar bolinha de gude, soltar pipa, rodar pião, andar de carrinho de rolimã e jogar futebol. Já as meninas brincavam de boneca, de casinha, pulavam amarelinha ou elástico, jogavam “queimada”, “pega-varetas”, “adoleta” e alguns jogos de tabuleiro famosos como “Banco Imobiliário” e “Jogo da Vida”. Além de educativas, as brincadeiras serviam como forma de relação social com outras crianças. A infância de hoje não é a mesma das décadas passadas. A preocupação com a violência e o surgimento de novas tecnologias têm feito com que os pequenos não vivam mais esta fase da mesma maneira.

Ao mesmo passo em que a tecnologia pode ser uma aliada da comunicação entre pais e filhos, seu uso indiscriminado pode esfriar a relação. “Pais e filhos perdem a oportunidade de dialogar e interagir uns com os outros porque estão totalmente concentrados na tecnologia”, afirma a neuropsicopedagoga Letícia Casonatto. É preciso limitar o tempo de uso de eletrônicos, que varia conforme a idade da criança. A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que as crianças não fiquem mais de duas horas em frente à TV e outras telas (tablets, computadores, smartphones e videogames). “Crianças precisam brincar, correr, passear, estudar e receber diferentes estímulos físicos e cognitivos para terem um desenvolvimento pleno. Se o tempo do uso das tecnologias digitais impede que a criança faça qualquer uma dessas atividades, algo está errado”, pontua.

Os novos traços culturais da sociedade têm subtraído algumas experiências, condicionado poucas vivências e criado o medo de aventurar-se ao novo. Na avaliação de Letícia, por terem regras prontas, os objetos eletrônicos limitam as crianças e as privam de novas experiências – ao contrário da época em que os próprios pequenos criavam seus brinquedos. Além da inatividade, os jogos eletrônicos podem ter influências na alimentação, causar hiperatividade e incentivar atos violentos. “O demasiado tempo que as crianças e adolescentes passam diante de aparelhos eletrônicos afeta não só a educação familiar, como também o aprendizado escolar”, avalia. A tecnologia pode ser usada com moderação, aproveitando os jogos educativos para os mais novos e meios de pesquisa e fontes de informações para os mais velhos.

Mudanças na sociedade

Além do bom uso da tecnologia, a falta de tempo dos pais e as mudanças estruturais nas famílias e na própria sociedade são apontadas pela especialista como desafios. Os pais já não conseguem educar os filhos da mesma maneira como foram educados. “Não dá para achar que omitindo informações estaremos protegendo-os do mundo, afinal, filhos não devem ser criados em uma redoma isolada da sociedade. Pelo contrário, eles devem estar preparados para enfrentar os próprios desafios, fazer descobertas, manifestar suas visões de mundo e lidar com situações diversas”, ensina.

Falta de tempo

A maioria dos pais gostaria de passar mais tempo de qualidade com os filhos. Por outro lado, a vontade de aumentar a renda para dar mais conforto e qualidade de vida para a família também é importante. O dilema se instaura: ficar mais tempo em casa e acompanhar de perto a educação dos rebentos ou delegar essa função a terceiros e se dedicar exclusivamente ao trabalho? O desafio da falta de tempo pode ser superado com planejamento e organização, o que não significa abandonar o trabalho, mas equilibrar os compromissos e se dedicar à família durante os momentos de folga. “Evite as concessões e excesso de mimos para compensar a ausência. Isso faz com que as crianças fiquem habituadas aos ganhos materiais e desacostumadas às demonstrações de carinho mais simples. Lembre-se que é mais difícil ensinar sobre a importância dos laços familiares quando os membros não passam tempo juntos”, alerta a especialista.

Excesso de atividades

Manter as crianças ocupadas, com atividades é importante, inclusive para os pequenos, porém, é preciso equilíbrio. “Ter obrigações resulta em disciplina, ajuda as crianças a se socializar e a administrar o tempo. Mas o excesso de atividades não combina com o universo infantil. A prática pode resultar na perda de concentração e comprometer a saúde”, destaca. Quanto mais atividades, maiores as obrigações e a responsabilidade. Isso faz com que crianças desenvolvendo distúrbios bastante comuns em adultos, como a depressão e o estresse. A dica de Letícia é conversar com os filhos e ensiná-los que nem tudo é possível, que existem limites e eles devem ser respeitados.

Uso supervisionado

Rafaela (11) e Heloísa (9) sabem que existe hora para acessar a internet e que determinados aplicativos e redes sociais não são indicados para a sua idade. Os pais Márcia e Cacildo Tarso são um bom exemplo de que é possível controlar e supervisionar o uso de eletrônicos. “Não temos como evitar a tecnologia pela sua rapidez e instantaneidade, mas é preciso saber dosar”, pondera a mãe.  Smartphone, computador e até mesmo a televisão têm regras de uso. “Se não respeitarem as regas, elas sabem que o acesso será cortado”, explica.

Ao completar 10 anos, Rafaela ganhou um notebook – utilizado, principalmente, como ferramenta para auxiliar nos estudos. A caçula já sabe que só ganhará o seu quando completar a mesma idade.  Os pais não ficam o tempo todo ao lado de Rafaela quando ela está conectada, mas conferem o histórico do navegador para saber como a filha tem preenchido o seu tempo online.  As irmãs não têm perfil no Facebook, mas eventualmente conferem as atualizações na rede social ao lado da mãe. “Se percebo que alguém costuma postar conteúdo inadequado para a idade delas, já excluo, pois sei que elas olham comigo”, comenta.

Se quiserem comunicar-se com alguém via WhatsApp, as meninas devem recorrer ao smartphone dois pais. Rafaela chegou a ter o aplicativo instalado em seu aparelho, mas o acesso foi cortado depois de apenas um mês. A falta de horário e critérios para o envio das mensagens e o risco de exposição de fotos e informações pessoais foram os principais motivos. “Em duas horas, ela havia recebido mais de 800 mensagens”, conta Cacildo. O uso da ferramenta será liberado somente quando as filhas tiverem maturidade suficiente para tal. Entre as amigas, há famílias que liberam e que proíbem o uso. Embora questionem as decisões dos pais, as irmãs sabem que as regras devem ser respeitadas. “O segredo é o diálogo”, revela o pai.

Dicas para os pais

– Ensine aos seus filhos os riscos que eles correm usando a internet, ao marcar encontros com desconhecidos, ao fornecer informações pessoais e ao frequentar salas de conversação.

– Navegue junto com os filhos, orientando-os sobre aquilo que está acontecendo.

– Mantenha o computador em uma sala de uso comum da casa, limitando o tempo de sua utilização.

– Controle o tempo que seus filhos passam online.

– Verifique por onde seus filhos têm navegado quando estão sozinhos, o que pode ser feito consultando o histórico de acessos.

– Escolha um provedor que ofereça recursos para bloquear sites não desejados.

– Conheça e instale softwares que permitam controlar e limitar o acesso a sites inconvenientes.

– Considere compartilhar o seu e-mail com seus filhos.

É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.

 

Enviar pelo WhatsApp:
Você pode gostar também