Tempo de prevenir doenças ocasionadas pelo excesso de chuva

Outubro foi um mês bem dividido em termos climáticos. Enquanto a primeira quinzena foi de tempo predominantemente seco, a segunda foi marcada por chuva intensa e contínua – conforme noticiado pelo SERRANOSSA na última edição, foram 208 milímetros de chuva registrados em quatro dias –, que causou transtornos e estragos em diversas cidades. Um dos segmentos que costumam sofrer com as consequências do clima é o da agricultura. Na Serra Gaúcha, o mau tempo castigou plantações de diversas culturas, em especial de videiras.

O técnico da Emater Thompson Didoné explica que a maior parte das parreiras está em estágio de desenvolvimento vegetativo e floração, mas variedades precoces, como a Niágara em regiões de microclima e a Vênus para mesa, já estão em meio grão, com desenvolvimento avançado, visto que a colheita acontece entre o final de novembro e início de dezembro. Já as espécies de ciclo tardio não iniciaram floração. “Estamos na expectativa para avaliar os efeitos do clima. A princípio, a chuva em si não trouxe maiores problemas em termos de quantidade de água, mas nas variedades que estavam começando a floração um período extenso de chuva pode ter refletido em abortamento. Ainda não se tem ideia do volume, mas é bem provável que tenha havido prejuízo”, detalha.

Segundo Didoné, houve registro de granizo em áreas isoladas do Vale dos Vinhedos. Ainda na região, alguns parreirais ficaram inundados. “Se a terra permanecer inundada por muito tempo, pode ocorrer apodrecimento das raízes. Mas acredito que um período relativamente curto, de 3 a 4 dias, não causará maiores danos”, avalia. 

A recomendação, agora, é a avaliação individual. “É importante que o agricultor consulte um técnico de confiança o mais rápido possível, porque a grande quantidade de água seguida de calor aumenta a chance de doenças como míldio (mufa) e Botrytis [Botrytis Cinerea, um fungo que ataca os frutos no final de sua maturação e ocorre em locais com muita umidade e/ou índices pluviométricos]. É imprescindível uma avaliação individual para um tratamento preventivo. Não dá para generalizar”, alerta o técnico.

Para Lucas da Ressurreição Garrido, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, os danos podem ocorrer posteriormente se doenças fúngicas não forem controladas adequadamente. “A antracnose (varola) e a escoriose são doenças de início de ciclo que aparecem nas folhas, ramos, inflorescências e cachos. Os danos desses fungos às folhas ocasionam a redução da área fotossintética, diminuindo a síntese de açúcares e outras substâncias, bem como a translocação para outros órgãos da planta. O ataque sobre a inflorescência e o cacho também provoca redução na produção”, explica. Ele também reforça a necessidade de tratamento preventivo. “O míldio, também conhecido por mufa, pode aparecer em todos os órgãos da planta, exceto tronco e raízes. Na parte aérea ocasiona a desfolha, enquanto na inflorescência e no cacho prejudica o vingamento e provoca a queda das flores, podendo ainda causar o surgimento de grão-preto e a queda de baguinhas, além de tornar a extremidade da inflorescência curvada, em forma de gancho. A fase de maior suscetibilidade da videira ao míldio é a fase de floração, contudo o produtor não deve desprezar outros estágios do desenvolvimento das plantas, a fim de não comprometer a produção, a qualidade final do produto e o vigor das plantas para a safra seguinte”, alerta Garrido.

Olericultura
De acordo com Didoné, não foram só as lavouras de uva que sofreram com o clima adverso. “Houve perda, embora não muito significativa, na olericultura. As folhosas (radicci, rúcula e alface) sofreram danos mecânicos provocado pela gota da chuva”, comenta. Entre as regiões afetadas estão localidades situadas no distrito de São Pedro.

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