“Tenho a oportunidade de fazer algo diferente”

Valdir Espinosa não será o treinador do Esportivo em 2015, mas já adiantou que terá um dedo na formação e no modelo de jogo da equipe que terá a incumbência de recolocar o alviazul na primeira divisão. O desafio de “fazer algo diferente” como diretor técnico foi o que motivou o treinador campeão da América e do mundo a retornar ao futebol em um clube outra vez desacreditado após o segundo descenso em quatro anos. O entusiasmo de Espinosa, que completa 67 anos nesta sexta-feira, dia 17, está nas entrelinhas desta entrevista ao SERRANOSSA, onde ele também enfatiza um projeto de cinco anos e convoca a cidade para resgatar a força de outrora do clube de Bento.

Grupo SERRANOSSA – Você fala em implantar uma mesma filosofia da escolinha à equipe principal. De que forma serão definidos os métodos aplicados?

Valdir Espinosa – Estamos tendo reuniões com as comissões técnicas e a cada etapa a gente vai fazendo e ouvindo colocações. Claro que as formas de treinamento são diferentes para um garoto de sete anos e para um de 18 ou 20, então tudo será conversado e implantado com o treinador da categoria. Por exemplo, o garotinho pode começar a fazer treinamento de passe, de correção, chute a gol, enfim, dar muito treinamento de bola, sem preocupação de posicionamento e tática, isso vai acontecendo gradativamente. Nas outras categorias, fazer jogar da mesma forma do profissional, mesma formação tática, e sempre, para todas as categorias, desde baixo até em cima, ênfase à correção: chute a gol, cruzamento, cabeceio, enfim, tudo isso, uma coisa que hoje está desaparecendo e a gente vai colocar para todos.

Quando será possível concretizar esse novo modelo de trabalho?

Estamos em uma etapa que é o seguinte: o Esportivo está disputando uma competição, então não tem que fazer mudanças, nada de mudanças, já conversei com o Júlio (treinador da equipe principal) sobre isso. Da maneira como está continua, não muda uma vírgula. A partir de janeiro é que começaremos a implantar uma nova filosofia. Por enquanto, a gente estabelece teorias com as comissões técnicas, depois é que se vai para a prática.

O diretor técnico terá influência nas decisões dos treinadores?

Com certeza. Mas um detalhe muito importante: é uma linha implantada por mim, mas que será discutida com os treinadores, que deverão colocar e expor suas ideias. Vou exatamente cobrar para que eles também apresentem criatividade, mas eles serão cobrados para executar aquilo que foi combinado e estabelecido.

Não há modelo semelhante no Brasil. Por que acreditar que pode dar certo no Esportivo?

Olha, no Brasil não tem esse cargo de diretor técnico executado por um treinador, desde o profissional até lá embaixo. Eu entendo que se você fizer um trabalho bem feito, vai existir resultado. O importante é fazer um trabalho bem feito, saber que existirão dificuldades, e conscientizar a todos a importância que eles têm, dar importância a essas pessoas, cobrar, mas incentivá-los a criar. Tudo isso faz parte de um processo, e fazendo isso bem, o resultado tem que acontecer.

O Esportivo está tendo prejuízos nos jogos como mandante e já há algum tempo tem dificuldades para se aproximar dos empresários locais. Como buscar recursos para reforçar a base e consolidar essa filosofia pioneira?

Eu acho que são alguns fatores. Primeiro, mostrar credibilidade. Segundo, mostrar que realmente existe um plano. Existe uma filosofia a ser implantada, e uma filosofia que não é nada de outro mundo, é possível de ser alcançada. Mostrar a eles a importância que tem a ajuda no sentido de o Esportivo voltar a ser uma equipe como já foi, que orgulhava Bento Gonçalves, e eu participei como jogador e como treinador dessas equipes. E o torcedor, você só vai motivar quando ele disser assim: “Puxa, essa equipe tem determinação, garra e técnica, é uma equipe que joga futebol”. Aí o torcedor vai para o campo. Isso serve para o torcedor do Brasil inteiro. Se ele olhar que a equipe joga bem, ele vai. Se ver que a equipe joga com medo, que só sabe dar chutão, é melhor ficar em casa, na televisão sai mais barato.

Você tem uma trajetória consagrada como treinador. O que o fez aceitar o convite de um clube com pouca visibilidade, dificuldades financeiras e distante da família?

Convites eu tive para continuar como treinador. Mas quando parei, eu disse: só volto se encontrar alguma coisa diferente para ser realizada. Alguma coisa que possa deixar uma marca. E aí surgiu essa oportunidade do Esportivo. O clube também tinha uma ideia, trocamos conversas, foram apresentados projetos e seguimos em frente. Aqui eu tenho a oportunidade de fazer algo diferente, e em um lugar onde eu comecei como treinador, então também entrou o lado do coração, o lado emotivo. Puxa, aqui eu comecei como treinador, conquistei meu primeiro grande título, porque o vice-campeonato gaúcho é um título. O carinho do pessoal de Bento Gonçalves é uma coisa que eu conheço, e esse carinho é extraordinário. É uma cidade que está muito mais bonita de quando eu estava aqui, há 30 anos, uma cidade linda em todos os sentidos. Quer dizer, essa motivação aumenta ainda mais exatamente por isso.

Até onde é possível chegar no ano do centenário? Dá para sonhar com o retorno ao cenário nacional?

Dá sim, rapaz. O projeto não é para eu chegar aqui, ficar seis meses e voltar. Quando o projeto foi feito, foi visando os cinco anos que faltam para o centenário. E ali foi colocado de irmos subindo a cada etapa. Mas temos que trabalhar para que isso aconteça, e bem trabalhado. Não existem sonhos impossíveis, existe é trabalho mal feito. Se tu trabalhar bem, tu vai realizar o sonho. E um detalhe importante: não vou fazer nada sozinho. As pessoas podem pensar: “Ah, chegou o Espinosa, o Esportivo vai ser campeão, que dia nós vamos comemorar?”. Não, não, não! Vamos juntos, vamos dar as mãos, vamos nos ajudar, vai ser com o esforço somado de cada um que vamos conseguir vencer. 

 

Reportagem: João Paulo Mileski

 

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