Terapia de casal funciona?

Com que fio é tecido o amor? Por que se esgarça? Para onde vai o amor quando acaba? Acaba? Essas são questões que usualmente permeiam as entrelinhas da primeira sessão de uma terapia de casal. Do ponto de vista psíquico, a felicidade amorosa ainda é o bem mais almejado. Apesar da imensa importância que se atribui em nossa cultura ao âmbito profissional e financeiro, o maior “bem de consumo” ainda é amar e ser amado e não se encontra à venda no shopping nem on-line. O desejo amoroso exige uma reciprocidade eternamente durável.

Independentemente do gênero, homens e mulheres se sentem igualmente desvalidos e atormentados frente à ameaça de perder seu parceiro amoroso. Uma possível separação pode trazer à tona sensações de angústia e vazio sem igual. A perda do ser amado representa não apenas uma ruptura externa, mas algo interno à pessoa se perde e se esvai.

Buscando uma solução interna

Na busca de evitar uma cisão, casais recorrem a inúmeras alternativas para reavivar e reascender seu relacionamento. Após várias tentativas, há casais que percebem que uma crise conjugal não se resolverá magicamente a partir de elementos externos. Alguns buscam ajuda individual, outros, a terapia de casal, modalidade cada vez mais conhecida do grande público, como uma alternativa para salvar o casamento de um possível naufrágio. O amor é um assunto que quando ferido anseia por solução urgente e sólida.

A história do casal se organiza desde o momento em que se conheceram. E como fica essa paixão toda, na ocasião do nascimento de um bebê, um terceiro que rouba as noites que eram só dos dois? Ou quando um dos dois anuncia que ficou desempregado, ou a mãe de um deles adoece e exige cuidados, tempo e atenção? Isso sem falar na TPM mensal que vêm acompanhadas de choros e discursos do tipo “você não me ama mais”. Não obstante a isso, a tecnologia, por sua vez, trouxe consigo problemas de outra ordem, que antes não apareciam na pauta das discussões: WhatsApp, Facebook, apps de relacionamentos aparecem como o grande e talvez o principal mote dos desentendimentos. Ou seja, tudo passa a ser motivo de briga e a possibilidade de comunicação fica praticamente impossível.

Mas a terapia de casal funciona?

A questão aparentemente simples pode render teses, mas, resumidamente, o compromisso da terapia é com a saúde emocional do casal e não com a manutenção ou ruptura do relacionamento. Quando um casal busca uma terapia, via de regra, se encontra numa crise bastante séria e o assunto separação já foi mencionado. No entanto, se chegam ao consultório, é porque desejam ficar juntos, senão estariam procurando um advogado. Uma escuta sensível por parte do terapeuta convoca à responsabilidade psíquica de cada um pela problemática que os trouxe até o presente momento da história do casal.

Geralmente, a terapia de casal é breve para os padrões da psicanálise, dura de três a quatro meses, pois esse é o tempo que, via de regra, o casal demora para entender com profundidade quais os diferentes conflitos que estão servindo de obstáculo para se relacionarem em bases mais reais, menos ilusórias; entendendo que numa relação amorosa, os dois componentes do casal são vítimas da trama inconsciente que os conduz ao desencontro. Quando percebem que se complementam numa dinâmica disfuncional, a partir da terapia, surge a possibilidade de substituir brigas repetitivas que vão do nada para lugar nenhum por saídas mais salutares.

A terapia de casal funciona e muito, produz crescimento individual, além de ampliar a visão sobre o outro. É importante ressaltar que conflitos são normais entre casais, afinal um casamento é composto por duas pessoas diferentes e pelo encontro com o outro. E como dizia Camões, “amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer”.

Fonte: Portal Minha Vida

(Foto: reprodução)