Trabalho análogo à escravidão: 194 trabalhadores estão retornando para Bahia

Na noite de sexta-feira, 24/02, quatro ônibus saíram de Bento para a Bahia. Além deles, nove gaúchos devem retornar, ainda neste sábado, 25/02, para suas cidades de origem. Quatro baianos optaram por permanecer na Serra

Na manhã deste sábado, 25/02, foi realizada uma coletiva de imprensa, no Ginásio Municipal Darcy Pozza, para divulgar os resultados da operação de resgate dos 207 trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, na noite de quarta-feira, 22/02.

Na coletiva foi informado que na noite de sexta-feira, 24/02, quatro ônibus partiram de Bento Gonçalves para a Bahia, levando 194 pessoas. Além deles, nove gaúchos vão retornar, ainda neste sábado, para suas cidades de origem, no Rio Grande do Sul. Quatro baianos optaram por permanecer em Bento Gonçalves.

De acordo com o auditor do Ministério do Trabalho, Rafael Zan, cada trabalhador já recebeu R$ 500. Entretanto, o pagamento total do que eles têm direito a receber vai ser pago na próxima segunda-feira, 27/02.

O pagamento está sendo feito pelo responsável pela empresa que mantinha os trabalhadores nessas condições. Contudo, caso o responsável não arque com os valores acordados, três vinícolas poderão ser responsabilizadas.

“Os valores ainda estão sendo contabilizados. Se não houver o pagamento correto na segunda-feira, medidas poderão ser tomadas. Se a empresa terceirizada não pagar, as vinícolas poderão ser responsabilizadas”, afirmou.

Foto: Suellen Krieger

Violência física

Durante a coletiva de imprensa, o auditor do Ministério do Trabalho, Rafael Zan afirmou que no decorrer do trabalho de inspeção, tudo que foi relatado pelos trabalhadores foi confirmado. “Se identificou que se tratava de trabalhadores em situação análoga à de escravos, basicamente relacionados a dois motivos: restrição de liberdade e pelas condições degradantes do trabalho”, afirmou.

Relacionado a restrição de liberdade, foi constatado que os trabalhadores sofriam ameaças e, alguns deles, chegaram a sofrer agressão física. “O acesso ao alojamento era um portão de aço e o que mantinha esse portão aberto era um cacetete que era usado para bater neles. No local, também se constatou a presença de objetos como spray de pimenta e arma de choque, usado para dar choque nos trabalhadores caso reclamassem de alguma condição”, relatou.

Restrição de liberdade

Já em relação à restrição de liberdade, o auditor esclareceu que além de não receber pelos dias trabalhados, os homens contraíram dívidas. “Os trabalhadores não receberam nada pelos dias trabalhados, então se viam obrigados a pegar empréstimos com o responsável pela pousada a juros de 50%”, contou.

Além disso, foi destacada a situação degradante do ambiente onde os trabalhadores estavam alojados. “Local bastante sujo, superlotado, não tinha condições nenhuma para que alguém permanecesse naquele local”, garantiu.

Dinâmica de trabalho

Outro ponto esclarecido foi quanto a dinâmica de trabalho. De acordo com o Zan, todos acordavam por volta das 4h da manhã para se deslocar até o local de trabalho terminavam o turno muito tarde.

“Os trabalhadores que trabalhavam na colheita tinham que sair muito cedo, pegavam uma van e eram deixados nas propriedades para fazer a colheita de uva. O final do dia encerrava muito tarde. Esses são os motivos que nos levaram a concluir que se tratava de trabalho escravo”, pontuou.

Ainda de acordo com o auditor do Ministério do Trabalho, muitos trabalhadores optavam por passar a noite nas propriedades rurais, já que começavam a trabalhar muito cedo.

Ações da prefeitura de Bento Gonçalves

Presente na coletiva de imprensa, o secretário de Esportes e Desenvolvimento Social, Eduardo Viríssimo, afirmou que a principal missão do Poder Público era, de forma rápida, dar acolhimento para os trabalhadores.

“Montamos aqui uma estrutura que pudesse atender todas essas pessoas. Conseguimos emprestado com o exército do município, 200 colchões para se unir aos que já tínhamos. Montamos uma equipe com médico, psicólogo. Conseguimos agasalho, cobertores, alimentação devida e uma rede de Wi-Fi liberada para eles conversarem com seus familiares. Conseguimos, em tempo recorde, dar o mínimo de dignidade, fazer com que se sentissem bem e tirar da situação em que se encontravam”, declarou.