Tráfico de drogas é apontado como principal motivação de homicídios

Com mais um homicídio registrado nesta semana, Bento Gonçalves chega à marca de 26 crimes deste tipo em 2017. Felipe Soares dos Santos, de 25 anos, foi morto a tiros na noite de quarta-feira, dia 4, no bairro Municipal. Ele já havia sido preso no dia 22 de agosto por tráfico de drogas, uma possível motivação que tem crescido e preocupado as autoridades locais. As estatísticas aumentaram no mês de setembro, quando dez homicídios foram registrados (além de outras três tentativas). “Não existe na história de Bento um mês que tenha sido tão violento como este. É um número alarmante para a cidade e para a região”, avalia o titular da 2ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves, delegado Álvaro Luiz Pacheco Becker, responsável pela investigação de 16 casos.

De acordo com o delegado, tudo leva a crer que grande parte dos crimes seja motivada pela disputa por pontos de tráfico. “A gente fica perplexo pela situação, mas sabe-se que por trás há formação de grupos que querem dominar o tráfico na cidade e que ficam se ameaçando, fazendo provocações e até matando. Essa briga, por enquanto, é entre eles”, pontua. A faixa etária das vítimas está entre 16 e 54 anos. “O tráfico não escolhe mais idade. Há uma certa tendência, principalmente neste ano, de pessoas mais adultas, embora exista uma forte relação entre tráfico e morte de jovens”, ressalta. A maioria dos homicídios registrados nos últimos cinco anos teve a mesma motivação, mas o número de casos vem crescendo. Entre as possíveis explicações está a facilidade de acesso a armamento por parte de traficantes e assaltantes e a briga por pontos de venda de drogas muitas vezes comandados até mesmo de dentro das prisões. “Para eles puxarem o gatilho na hora do fato, basta olhar atravessado”, destaca. 

Conforme a delegada titular da 1ª DP, Maria Isabel Zerman Machado, responsável pela investigação de 10 casos ocorridos neste ano, a maioria das pessoas que foram mortas apresentava antecedentes criminais como porte de arma e tráfico de drogas. Dos assassinatos investigados pela 2ª DP, apenas três vítimas não tinham envolvimento com o tráfico. Entre eles, Aparecida de Fátima Marin Bittencourt, de 44 anos, morta pela irmã em agosto, cujo crime poderá ser enquadrado como latrocínio, já que a acusada levou o celular da vítima. 

O delegado Becker alerta que o fato de Bento ser uma cidade considerada rica também chama atenção dos bandidos que buscam clientela para a droga. “Quando começar a diminuir o consumo, os pais educarem melhor seus filhos para evitar as drogas, provavelmente os crimes vão diminuir, porque o que eleva o poder dos traficantes é o grande número de clientes. Isso acaba gerando uma ganância de um criminoso para outro e acabando nessa guerra entre eles”, observa. Ele salienta ainda que o tráfico também está por trás de outros crimes como furtos e roubos. “Quando chega na polícia, o caos já está instaurado. É preciso haver uma rede de educação, de saúde e assistência social, com lugares para tratar os dependentes, todo um sistema que evite que se prolifere o consumo. Quando chega aqui o que sobra é cadeia ou cemitério”, acrescenta.