Tragédia que é sinônimo de superação no esporte
O que era para ser uma viagem agradável, se tornou uma tragédia para dois moradores de Bento Gonçalves. Era dia 26 de agosto de 1985. Rosângela Dalcin, então com 21 anos, grávida de sete meses, e o marido, César Augusto, caminhoneiro, viajavam para São Paulo, a trabalho. No início do percurso, na ERS-122, em Caxias do Sul, logo após o trevo de acesso a Rota do Sol, o caminhão em que estavam acabou caindo de uma ponte. “Tinha outro caminhão capotado na estrada, um automóvel parou ao nosso lado, meu marido tentou desviar e acabou perdendo o controle do caminhão. O veículo se desgovernou e acabamos batendo na lateral da ponte e caindo. Pelo que eu li nos jornais, após o acidente, despencamos mais de 80 metros. Não lembro muito”, conta.
Rosângela e o marido foram socorridos por pessoas que passavam pelo local, e já auxiliavam na retirada dos feridos do primeiro acidente. “As pessoas me carregaram e iam passando uma para as outras, até chegar à beira da estrada. Um motorista me conduziu ao hospital. Fui colocada sentada dentro de um automóvel e, em uma curva, caí novamente. Isso tudo me contaram após o acidente”, relata.
O marido de Rosângela passou três dias internado no hospital, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu. Ela perdeu a criança e permaneceu um mês hospitalizada. “Sofri uma grave lesão no pescoço, quase fiquei tetraplégica, mas a lesão foi parcial, o que permitiu que eu tivesse movimento nos braços”, explica.
Ela conta que a adaptação não foi fácil. Levou muito tempo para se aceitar como cadeirante e sofreu bastante preconceito. “Nunca fui revoltada com a situação, mas também não deixava transparecer que não aceitava. Procurava ficar tranquila, por causa da minha família. Mas o que mais chateava era o preconceito que sofria, as pessoas ficam me olhando e até chegavam a me dar esmola”, relata.
Apesar disso, Rosângela nunca deixou se abalar. “Depois que comecei a trabalhar, estudar e praticar esportes, comecei a enxergar a vida de outra maneira. Só conseguimos viver bem, depois que nos aceitamos”, desabafa.
Para se adaptar à situação, ela relata que foi essencial o apoio recebido dos familiares, especialmente de sua mãe. “Minha mãe é muito importante para mim. Ela é as minhas pernas. Sempre me apoiou e me ajudou em tudo. Desde o acidente está sempre ao meu lado”, enfatiza.
Mesa-tenista
Rosângela conta que a descoberta do esporte, aconteceu por acaso, durante um Congresso da União dos Deficientes Físicos, em Porto Alegre. “No local havia uma mesa de ping-pong e até comentei que já havia praticado, antes do acidente. Um professor, que trabalhava o esporte com pessoas cadeirantes, me viu jogando e me convidou para treinar”, relembra Rosângela. A disputa no primeiro campeonato aconteceu em 1996 e desde então, ela nunca mais parou. “Eu não tinha nem equipamento naquela época e conquistei uma vaga para o Brasileiro, a partir daí comecei ir atrás, comprei as raquetes e trouxe um treinador de São Paulo, para que me ensinasse a jogar”, conta. Rosângela, atualmente é treinada por Luciano dos Santos Possamai, seu técnico desde 2003, ano em que, após terminar a faculdade de Direito, passou a se dedicar ainda mais ao tênis de mesa.
Nesses mais de 15 anos como mesa-tenista, Rosângela ganhou mais de 90 medalhas e diversos troféus. Entre as competições internacionais que já disputou estão os Parapan-americanos e um Mundial na Suíça, no ano de 2005. “Todas as medalhas são importantes, pois naquele momento, a medalha é um objetivo alcançado. A que ganhei no Parapan do Rio de Janeiro, em 2007, foi muito importante, por estar competindo no próprio país”, enfatiza. Muitas das suas viagens são custeadas por ela mesma. Rosângela recebe Bolsa Atleta do governo e possui alguns patrocinadores oficiais que contribuem com os custos das viagens.
Superação
Quando iniciou no esporte, Rosângela, não possuía equilíbrio e o encosto de sua cadeira chegava até a altura do pescoço. Com os treinos, aos poucos foi recuperando o equilíbrio e o movimento da região dos ombros. Hoje o encosto da cadeira está abaixo da axila. “O esporte me auxiliou a recuperar a agilidade e o equilíbrio. Agora me superei. Nunca devemos desistir independente dos obstáculos que surgirem, não podemos desistir jamais”, finaliza.
Katiane Beal Cardoso
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