Transformando a dor do luto em saudade

Um encontro para rezar, compartilhar a vida e as dores; um espaço para chorar, rir e deixar as emoções aflorarem. Assim pode ser descrito o projeto “Caminhos de Esperança”, promovido pela Paróquia Santo Antônio, para o acolhimento de pessoas enlutadas. Os padres e a psicóloga Franciele Sassi, especializada em luto e perdas, conduzem as atividades, a fim de mostrar que é possível transformar a dor em saudade. “A gente nunca esquece daqueles que a gente ama. A saudade é o amor que permanece”, explica Franciele.

Todos os que entram são recebidos com um caloroso abraço. Ao longo das quase duas horas de conversa, chá e lenços de papel são oferecidos para confortar os participantes. No início da atividade, os presentes são convidados a escrever o nome do ente falecido em um papel, que é depositado aos pés da imagem de Nossa Senhora, junto com uma vela acesa.

É comum ouvir soluços enquanto as lembranças dos familiares são evocadas. “Costumamos pensar que, se a pessoa não sofre, é porque é forte. Mas, chorar significa ser fraco ou ser corajoso?”, questiona a psicóloga. “Não se deve esconder o amor que a gente sente por conta do julgamento dos outros”, tranquiliza. Ao final do encontro, os que desejarem podem buscar um aconselhamento individual com a profissional ou com os sacerdotes.

A importância da fé

De acordo com o pároco da paróquia Santo Antônio, padre Ricardo Fontana, os encontros são conduzidos à luz da fé cristã e da psicologia, para oferecer conforto para a dor da perda e caminhos para reconstrução da vida, ajudando as pessoas a encontrar respostas às inquietações do período do luto. Também são uma oportunidade para esclarecer dúvidas sobre a visão da morte a partir da fé católica. “Juntos, conseguimos compreender o luto, algo pelo qual, cedo ou tarde, todos vamos passar”, afirma o religioso.

O nome do grupo expressa o que os encontros procuram transmitir. “A esperança é o contrário de desespero”, observa o pároco. Juntas, fé católica e psicologia alimentam a esperança daqueles que ainda não conseguiram superar a dor da perda. “Cada um procura dar uma solução diferente, mas só Jesus a tem, pois ele é o caminho, a verdade e a vida”, defende.

As religiões, de forma geral, costumam ser o caminho escolhido para confortar o luto – mesmo que cada uma dê diferentes significados para a morte. “A fé em algo superior permite o movimento de reconstrução da vida”, avalia a especialista. Entretanto, outros caminhos também são possíveis, como terapia, retiros, meditação e exercícios físicos. “A saudade que, no início, belisca, machuca, faz doer, transforma-se em uma saudade doce e capaz de andar de mãos dadas conosco. Não porque deixa de doer ou porque a esquecemos, mas porque somos nós que nos transformamos. É preciso aprender a amar em separado. Mudamos a forma de amar, mas não deixa de ser amor”, analisa Franciele.

É preciso falar sobre a morte

Abordar a morte ainda é um tabu, que, na opinião dos especialistas, precisa ser quebrado. “Não falar sobre a morte dá a falsa sensação de proteção, como se por não falar, não acontecesse. Só se quebra um tabu ao falar sobre ele. Tudo o que não é dito causa medo e insegurança”, pontua a psicóloga, que, em sua clínica, atende exclusivamente pacientes que passam por lutos, perdas e separações.

O assunto deve ser tratado abertamente também com as crianças. Franciele defende que os eufemismos – como dizer que a pessoa virou “estrelinha” ou “foi para o céu” – devem ser evitados. “Eles podem causar fantasias, confusões e angústias. Contar a verdade gera segurança. É preciso falar abertamente, sem evitar a palavra ‘morte’ para não alimentar o tabu”, observa. Segundo ela, é importante que as crianças aprendam desde cedo a lidar com os diferentes tipos de perdas que fazem parte do ciclo natural da vida.

Por mais que a morte seja tratada francamente, ninguém está preparado para esta fatalidade, nem mesmo nos casos em que ela é esperada, como em pacientes com doenças terminais. “Sempre há a esperança da recuperação. Dói da mesma forma. A dor do luto é a dor de todas as mudanças. Sentimos falta de tudo aquilo que a pessoa era e do que éramos com aquela pessoa”, esclarece a especialista.

No consultório, Franciele ajuda a construir novas possibilidades de viver e a se readaptar diante deste novo cenário. “Não trabalho com morte, mas com a vida das pessoas que ficaram”, descreve. Para ela, gestos rituais – como o próprio velório e o sepultamento – são importantes no processo e ajudam na elaboração da perda. Algumas práticas, ao contrário, podem dificultar o luto. É o caso dos que se livram de todos os pertences do falecido. “O amor reside na presença, não necessariamente física. O afeto mora nas lembranças”, detalha.

O luto, segundo ela, não tem um fim, mas a pessoa deixa de ser apenas a dor e estende as possibilidades de viver. O sofrimento é genuíno e esperado, pois houve investimento afetivo ao longo da vida. Só é possível superá-lo ao se permitir sentir as diferentes emoções. “Somente há dor na ausência porque houve amor na presença. Amar também significa repouso, para cicatrização das feridas da alma”, relaciona.

Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação são os cinco estágios do luto. As fases, entretanto, não são necessariamente subsequentes e podem estar misturadas, ou ser vividas simultaneamente. Da mesma forma, o tempo para superar a perda varia e depende da representação que a pessoa falecida tinha. “O luto é como ondas no mar: há as maiores e mais fortes, que nos derrubam, e as menores, que possibilitam passar tranquilamente, pular ou senti-las. O mar do amor também tem ondas menores, para podermos descansar da dor, pensar em outra coisa além das ondas grandes e nos prepararmos para quando vierem as outras ondas”, compara.

Próximos encontros

Os próximos encontros serão realizados nos dias 14 de novembro e 12 de dezembro, das 9h às 11h, no Auditório 2 do Edifício Santo Antônio. Não é necessário inscrição e a entrada é gratuita e aberta a todos os interessados. Informações pelo telefone (54) 3452 1634.

Programação das missas de Finados

Paróquia Santo Antônio

Segunda – 2/11

8h30, 10h e 17h – Cemitério Público Municipal Central

10h – Comunidades Imaculada Conceição(Barracão) e São Pedro (Salgado)

15h – Comunidade Santo Antoninho

16h – Comunidade São Miguel

17h30 – Comunidade Santíssima Trindade (Zemith)

19h – Comunidade Divino Espírito Santo (Burati)

 

Paróquia Cristo Rei

Segunda-feira  – 2/11

8h – Comunidades Nossa Senhora de Caravaggio (Tamandaré) e São José (linha Sertorina)

10h – Cemitério Santo Antão

10h30 – Cemitério Parque (Santo Antão)

16h30 – Comunidade Nossa Senhora da Glória (Vale dos Vinhedos)

18h – Comunidade Nossa Senhora das Graças (Vale dos Vinhedos)

18h – Cemitério Santo Antão

 

Paróquia São Roque

Segunda-feira – 2/11

8h30 – Comunidade Faria Lemos

9h – Cemitério São Roque

9h30 – Comunidade Santo Antônio (linha Alcântara)

10h30 – Comunidades Nossa Senhora das Dores (Tuiuty) e São Paulo (linha Paulina)

17h – Comuniadde Nossa Senhora de Fátima (Veríssimo de Mattos)

18h30 – Cemitério São Roque

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