Transplantes de coração caíram pela metade na pandemia no Rio Grande do Sul

Estado estima que mais de 45 mil pessoas aguardam em lista por um transplante.  Além das doações insuficientes, a rede de saúde necessita de qualificação para aprimorar a busca de órgãos e qualificar todo o sistema de transplantes. 

Os transplantes de coração no Rio Grande do Sul caíram pela metade na pandemia. Foram realizados 26 em 2019, caindo para 13 em 2020 e para 11 até outubro deste ano. A lista de espera subiu de 15 em 2019, para 16 no ano passado e 17 até outubro deste ano, pelos dados da Secretaria da Saúde do estado. Este assunto é tema de painel do projeto Cultura Doadora no dia 16 de dezembro, 19h, pelo canal do youtube da Fundação Ecarta.

Participam do diálogo virtual “Transplante de coração e a captação de órgãos” o coordenador do Departamento de Cirurgia do Instituto de Cardiologia, Lucas Krieger Martins, a transplantada de coração há 2 anos e 4 meses, Aline Maske, de 31 anos e a gerente da Organização de Procura de Órgãos (OPO7), Ivana Faccioli Pessato. A OPO7, é a chamada OPO Cirúrgica, situada no Instituto de Cardiologia, formada pela equipe de médicos e enfermeiros responsável por captar, acondicionar e transportar os órgãos até os centros transplantadores do Estado. A apresentação do painel será feita pelo presidente da Fundação Ecarta, Marcos Fuhr.

Igor Sperotto

Meio século de transplantes

O primeiro transplante da América Latina foi realizado no Brasil há 53 anos pelo cirurgião Euryclides de Jesus Zerbini, em São Paulo. No RS, o primeiro transplante de coração foi realizado há 37 anos pelo cardiologista Ivo Nesrala, falecido em 2020, com 82 anos.

O transplante de coração é uma cirurgia recomendada apenas em casos extremos. São priorizados para transplante pacientes com doença terminal no coração ou com expectativa de vida abaixo de 50% nos próximos 12 meses devido a problemas no órgão.

Para fazer o transplante, é necessário que doador e receptor tenham compatibilidade sanguínea e que o tamanho do coração de ambos seja proporcional. O coração deve ser implantado no receptor em até 4 horas após a retirada do doador. A cirurgia tem duração entre 4h e 6h.

Na recuperação, o paciente segue respirando por aparelhos e permanece de quatro a cinco dias na UTI e na internação por uma ou duas semanas. No pós-transplante é necessário realizar periodicamente exames de biópsia, no qual pequenos pedaços do coração são coletados e analisados para verificar uma possível rejeição e controlar a dosagem de medicamentos.

Lista de espera cresce

Dados de junho informam que mais de 45 mil pessoas aguardam em lista por um transplante. Além das doações insuficientes, a rede de saúde necessita de qualificação para aprimorar a busca de órgãos e qualificar todo o sistema de transplantes.

A doação de órgãos de um paciente por morte encefálica salva até oito pessoas e dá qualidade à vida de outros pacientes. Apenas pacientes com morte encefálica são doadores de múltiplos órgãos e do total de óbitos apenas 2% tem morte encefálica. “Mais de 40% dos familiares negam a doação de órgãos nos casos de morte encefálica, em geral, por desinformação”, complementa Fuhr, idealizador do projeto Cultura Doadora, mantido pela Fundação Ecarta para estimular a doação de órgãos e fortalecer a rede de transplantes.

O Rio Grande do Sul já foi líder em doação de órgãos no Brasil e atualmente ocupa o oitavo lugar. O estado realiza transplantes de todos os órgãos transplantáveis.