Trump não é causa, Trump é consequência
A vitória de Trump surpreendeu gente mal informada. Quem acompanha minhas colunas nesse espaço sabe que há mais de cinco meses eu apontava os motivos que colocariam não só o candidato de direita no páreo, como o fariam favorito na eleição. E é claro que a maioria da mídia também sabia sobre a crescente onda que acompanharia Trump, o problema principal em revelar isso era o efeito cascata que tornaria o candidato ainda mais forte. Donald Trump foi ridicularizado sistematicamente na tentativa de desmotivar seu eleitorado. Não funcionou.
Não discuto quem era o ‘menos pior’ dos candidatos, apenas reafirmo o que já disse: Trump é uma clara diretriz dos rumos mundiais para os próximos anos. Se estamos ficando intolerantes? Não, apenas estamos reascendendo o que sempre fomos, e fazemos isso pois claramente a ideia de um mundo unido em credos e buscas fracassou ano após ano. É claro também que a maioria de nós não percebe isso, tudo o que queremos é chegar em casa com o jantar e ter a condição para no final de semana sair gastar algum dinheiro.
O sonho dourado está se esfarelando. Torna-se cada vez mais nítido o conflito de crenças e interesses. Ao exemplo que enquanto o número de muçulmanos cresce em países da Europa torna-se cada vez mais difícil a convivência pacífica. Para os seguidores de Maomé nunca caberá uma mulher ser aceita da forma como está é para o mundo ocidental. Pode-se lidar com isso na medida em que os muçulmanos forem minoria, mas e quando forem maioria? Quando dois gays se beijarem na frente destes, quando uma mulher quiser se sentar numa mesa ao lado deles? Esse mundo de faz de conta que alguns desenham é coisa de gente que tem preguiça de ler e faz do mundo um algodão doce para unicórnios.
Trump não é somente o hoje ou amanhã, ele é o que sempre fomos. Nossos surtos de grandeza por vezes idealizam um paraíso sagrado onde esquilos e homens convivem em perfeita harmonia dividindo nozes, mas a realidade não é essa, pois basta a fome apertar para o esquilo acabar no espeto.
Os homens estão sempre a um passo do colapso, é assim que somos e essa é a única forma que sabemos viver. Enquanto há abundância há tempo para idealizações e sonhos utópicos, mas quando o medo coletivo começa a tomar um espaço maior no corpo social voltamos a ser o que sempre fomos.
Em tempos explosivos precisamos da realidade mais do que da esperança. Enquanto atores e atrizes, astros de vários esportes e diversas celebridades faziam campanha contra Trump o mesmo seguiu a crescer seu número de votos. Por que o povo deixou de lado seus supostos líderes? Simples: porque celebridades não são líderes, mas meros conselheiros e como conselheiros podem ser substituídos facilmente. Os estadunidenses demonstraram nas urnas o claro cansaço ao sistema faz de conta que era entregue ao mundo.
Afinal, se tudo estava tão perfeito no governo de Barack Obama, por que metade do país decidiu não dar a mínima para os pedidos de Obama e eleger Trump?
Essa geração sensível que com tudo se ofende, que fala de igualdades sem ter a mínima noção das culturas e tradições que existem pelo mundo afora, essa geração que fala em respeito, mas não suporta críticas de Facebook, essa geração precisa de uma dose cavalar de realidade.
O mundo, as pessoas e sociedades não são ideais: somos dinamite. O pavio está aceso. Trump não é causa, Trump é consequência.