TTT 2017: atletas de Bento relatam emoção e superação na prova de mais de 82km

Superação! Esta talvez seja a palavra que melhor defina a tradicional Travessia Torres-Tramandaí (TTT), realizada no último sábado, dia 28, no litoral gaúcho. Neste ano, os 81.240 quilômetros de areia da 12ª edição foram percorridos por mais de dois mil corredores, boa parte oriunda da Serra Gaúcha. A reportagem do SERRANOSSA acompanhou toda a prova e pôde presenciar o empenho de cada atleta na busca pelo melhor resultado. Confira relatos de alguns bento-gonçalvenses que participaram da TTT 2017.

Longo caminho até o objetivo

Plante uma árvore, escreva um livro e tenha filhos. A frase clássica, atribuída ao poeta cubano José Martí, sugere o que todo o ser humano deveria fazer ao longo da vida. Mas, para Vander Geremia, 34 anos, que já tem dois filhos e já plantou árvores, o primeiro capítulo de seu livro da vida seria concluir uma ultramaratona de mais de 80km. E esse objetivo foi alcançado no último final de semana, quando completou os 81.240km da Travessia Torres-Tramandaí.

Geremia afirma que, mais do que treinamentos físicos, ele teve que abdicar de tempo com a família, deixar de lado seu hobby preferido – a pescaria – e ter muita disciplina e foco. Embora os méritos da conquista sejam dele, por completar sozinho a desafiante prova, ele afirma que nada disso seria possível se não houvesse um “esquadrão” ao seu lado. “Fui me cercando de bons profissionais, especialmente para que este objetivo não ocasionasse lesões ou outros problemas de saúde. Conto há dois anos com uma personal trainer, tenho assessoria de corrida há um ano, orientação de nutricionista e uma massoterapeuta”, comenta ele, que, antes de fazer quase 82km, já havia completado meia maratona (21km), duas maratonas (42km) e uma ultramaratona de 48km. Para ele, correr faz bem para o corpo e a mente e, quando é questionado o porquê corre tanto, ele é enfático. “Saber que sou um exemplo para os meus filhos, minha família e amigos é algo sensacional e saber que posso inspirar outras pessoas a praticarem esportes é algo único. Afinal, sou como qualquer um, se eu consigo, qualquer um consegue”, completa ele.

Disciplina e abdicação em dupla

Elas se conheceram no grupo de corridas que fazem parte e “logo de cara” se identificaram. Isso porque, ambas tinham o mesmo objetivo: fazer a difícil TTT em dupla. Denise Beatriz Utzig, de 41 anos, e Bruna de Bacco Pasquali, 28, conseguiram atingir a meta, depois de sete meses de uma árdua preparação. Alimentação regrada, treinos intensos, muitas conversas e trocas de ideias, especialmente para controlar a ansiedade, marcaram esse período. “Quando treinávamos juntas, eu ficava impressionada como ela corria bem e isso me motivava a melhorar a cada dia mais. Sinceramente, não poderia ter tido melhor pessoa para compartilhar esta prova”, comenta Denise. “Senti que seríamos uma boa dupla não só pelo fator corrida, mas porque a Denise é uma pessoa extremamente preocupada e dedicada”, completa Bruna.

No dia da prova, toda a dedicação e sincronia entre as duas foram essenciais para atingir o objetivo. “Acordar às 4 horas da manhã e saber que tem mais de 40km para correr coloca a adrenalina lá em cima. Durante a prova o nervosismo bate, pois você quer dar o melhor de si e não quer atrasar sua dupla”, comenta Denise. “O dia da competição foi sensacional. Há todo um envolvimento com os outros corredores, que sempre incentivam uns aos outros. Os veranistas passam apoiando. A energia que vem das pessoas contagia quem está correndo e isso é incrível”, afirma Bruna. Ao cruzar a linha de chegada fica a certeza que tudo valeu a pena. “Passa um filme na cabeça de todos, de como valeu a pena abdicar de certos prazeres para ter essa incrível satisfação de superação pessoal. Muitas pessoas dizem ou pensam que nunca mais vão fazer uma maratona ou uma ultra, pois, realmente, em alguns momentos é sofrido mesmo. Mas no outro dia já estão pensando na próxima corrida e em aumentar o nível de dificuldade para alcançar nova superação”, enfatiza Bruna.

Parceria e amizade como impulso

Sabe aquele ditado: “amigo de verdade não é aquele que diz ‘vá em frente’, mas aquele que diz ‘eu vou junto’”? Talvez essa seja a melhor definição da parceria e amizade de Matheus Ferrari, 26 anos, e de Mateus Mezzaroba, 28. Quando decidiram que iriam encarar o desafio de fazer uma TTT em dupla, os “Mateuses” – como passaram a ser chamados – iniciaram uma preparação que foi muito mais que a parte física: foi de incentivo e de apoio em diversos momentos, especialmente os mais difíceis.

Mezzaroba, que acumula cinco participações na competição, buscou passar sua experiência na prova, mas teve que lidar com uma sequência dolorida de lesões no joelho e buscar concluir com sucesso sua primeira TTT em dupla. Já Ferrari tinha o desafio de tentar, pela primeira vez, completar uma maratona (42km) já que nunca tinha concluído mais do que 21km. Em meio a isso tudo, os dois tinham que, juntos, recusar convites para churrascos, happy hours e festas dos amigos em comum.

Todos os convites recusados, todas as sessões de fisioterapia, todos os incentivos de amigos e familiares fizeram sentido quando cruzaram a linha de chegada. “O sabor da TTT não é um dia de prova, não é percorrer diversos quilômetros ou ganhar uma medalha no final, é, sim, saber que todo o esforço, de muitos meses, valeu a pena. A gente eleva nosso condicionamento ao extremo, busca uma alimentação mais regrada, deixa as festas para segundo plano, acorda cedo para correr, enfim, muda hábitos e se torna uma pessoa melhor”, comenta Ferrari, que acumulou bolhas nos pés e muitos sorrisos no final da maratona. “Não importa quantas vezes a gente conclua uma TTT. Seja em octeto, quarteto, dupla ou solo, é sempre uma superação. A deste ano foi ainda mais especial, pois quem estava me empurrando até a linha de chegada foi um grande amigo. Estou orgulhoso do nosso trabalho”, conclui Mezzaroba.

Limites do corpo e da mente à prova

Quando o corpo dizia que estava cansado e que não dava mais, o poder da força de vontade se apresentava. E quando o corpo e a mente titubeavam, os amigos, preparadores físicos e companheiros estavam lá para avisar que desistir não era uma opção! Foi assim que Luísa Cobalchini Damasio, 28 anos, e Paula Geremia, 34 anos, conseguiram completar a TTT. Diferente da maioria das duplas, que se revezaram de duas a três vezes durante a prova, elas optaram por percorrer cada uma os pouco mais de 40km direto, exigindo ainda mais preparação, pois não havia pontos de “descanso”. Luísa conta que, mesmo que já tenha completado uma maratona antes, a TTT foi uma superação. “A areia, o calor e o sol eram meus desafios nesta prova. E eu e a Paula fomos realmente uma dupla: nossos treinos sempre foram com a parceria uma da outra. Durante a prova, superei meus limites e descobri que quando a mente quer, não há limite para o corpo. A prova foi emocionante – ao longo do caminho, recebíamos apoio de todos os lados, uma prova linda. Resumindo, a TTT foi um desafio emocionante”, garante. Já Paula diz que nem acredita em seu próprio feito. “Eu completei, me superei, especialmente, graças aos anjos que me cercam”, citando os familiares que cuidam de seus filhos nos treinos e provas, aos profissionais que a ajudaram na preparação e prova – como personal e assistência do grupo de corrida – além do marido, Vander Geremia, que a apresentou ao esporte. 

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