Um choque de realidade!
Escrevo esse texto, hoje, com lágrimas nos olhos. Já disse aqui uma vez: homem também chora! O grande segredo talvez seja saber por qual motivo chorar. Ou poder escolher por qual motivo chorar.
Venho, desde o início dessa situação especialíssima em que vivemos, acreditando que, depois de tudo isso, teríamos pessoas melhores. Ledo engano…
Na semana passada, enquanto alguns ainda tinham medo de virar jacaré, outros, como eu, comemoravam a vacina. E se comprometeram com a vacina. E estão esperando a sua vez para tomar a vacina. E foi essa mesma vacina que me trouxe lágrimas aos olhos. Não a vacina em si, mas o que vem acontecendo em função dela.
Primeiro, o lado bom: a esperança, pessoas felizes com a imunização; profissionais da saúde mais confiantes de que poderão trabalhar com mais segurança; idosos acreditando que a vacina lhes dará um pouco mais de alento, afinal, eles são o principal grupo de risco, dizem.
De outro lado, depois de ver o estado do Amazonas tendo que transferir seus pacientes pela falta de oxigênio e um empresário com tubos de oxigênio escondidos, esperando a alta dos preços, e tendo que receber ajuda de países vizinhos como a Venezuela, para a perplexidade de alguns, tomei um soco no estômago: uma juíza determinando a suspensão da segunda dose de alguns, já que teriam “furado a fila” para receber a primeira dose. Teriam essas pessoas, de alguma forma, se beneficiado, em detrimento dos grupos preferenciais ou de risco, fazendo a vacina antes dela, por razões até então não explicadas, além, é claro, do próprio umbigo…
Ora, quando eu pensei que renascia a esperança, que teríamos um mundo melhor, com pessoas mais humanas, mais solidárias, com artistas abrindo mão de seus cachês altíssimos para a caridade e/ou para as suas bandas, que estavam sem receber por conta da impossibilidade de fazerem apresentações, com empresários bancando ampliação de hospitais com dinheiro do próprio bolso, surge novamente aquela mazela condenada quando ataquei aqui a “Lei de Gerson”, o maldito “jeitinho brasileiro”, a forma mais nefasta que se pode ter de convívio na pólis.
Mais uma vez tive que me render a Machado de Assis, quando, em “Quincas Borba”, faz uma crítica ferrenha aos aproveitadores e oportunistas em detrimento dos ingênuos e puros… Talvez seja por isso que, lamentavelmente, digam que o Brasil não é um país para amadores!
Até a próxima!
Apoio: