“Um dia sem ouvir Elvis é um dia perdido”

Uma fita cassete tocando no rádio do carro do pai aos oito anos foi o primeiro contato de Jonas Iunes com Elvis Presley. Ao ouvir “My Way”, encantou-se com o artista, mas não imaginava que três décadas mais tarde subiria ao placo vestindo réplicas das famosas jumpsuits (macacões bordados) e ganharia a vida mantendo viva a memória do seu maior ídolo. Hoje, aos 42 anos, Johnny Grace, nome artístico que adotou, sente-se realizado por tornar real o sonho de viver da música.

A música sempre esteve presente na sua vida. Na adolescência, adorava garimpar discos de rock dos anos 50 e 70 – é também é fã de Johnny B. Goode, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins, Bill Harley e Seus Cometas, Johnny Cash, Stray Cats e Beatles. A paixão passou a ser levada a sério aos 18 anos, quando começou a tocar profissionalmente na banda “Os Rebeldes”, onde permaneceu por duas décadas. Neste período, conciliava os shows e ensaios com o trabalho de jornalista – também chegou a ser bombeiro voluntário em Carlos Barbosa durante quatro anos. 

Foi com “Os Rebeldes” que teve a oportunidade de ir para os Estados Unidos pela primeira vez – a banda foi convidada a participar de festival promovido pelo Rockabilly Hall Of Fame na cidade de Jackson, no Mississipi, terra natal de Carl Perkins. Em terras americanas, não perdeu a oportunidade de realizar o sonho de conhecer Graceland, a residência oficial de Elvis, em Memphis, no Tennessee. Lá, decidiu que organizaria um tributo ao artista. De início pretendia fazer apenas uma apresentação, mas, mesmo assim, optou por encomendar uma roupa feita pelo mesmo estilista do ídolo – e que posteriormente ficaria apenas como uma recordação. 

A experiência de subir ao palco para interpretar o rei do rock, realizada há cinco anos, deu tão certo que há três anos e meio Johnny largou a carreira de jornalista para dedicar-se apenas aos tributos. A sua agenda é composta majoritariamente por eventos fechados, sejam festas de empresas, formaturas, aniversários ou casamentos – ele passou duas temporadas em Las Vegas, onde aprendeu a fazer cerimônias idênticas às realizadas na capela de lá. A maioria dos shows ocorre no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, mas Jonas percorre o Brasil inteiro e também se apresenta em cassinos no Uruguai. Para dar conta da agenda, conta com apoio da esposa, Márcia, que o incentivou desde o início. O filho, Pedro, hoje com nove anos, também já imitou alguns passos do pai, mas hoje está mais interessado nos games.

Após a primeira ida à Graceland, nos anos seguintes Johnny iniciou uma tradição de anualmente retornar à terra do rei, onde também faz as vezes de guia para grupos de fãs que sonham em conhecer o local. Já foram sete viagens, com data já reservada para retornar em 2018. “É a minha Disney. Estar lá é renovar as energias, sentar na frente do túmulo do Elvis, conversar com ele, respirar aquele ar. Quem é fã sabe que aquele é um lugar mágico”, garante. 


 

Embora não se ache parecido com o rei no dia a dia, por conta das costeletas que complementam o seu visual, com frequência é interpelado por fãs para fotografias. No aeroporto, ao passar a bagagem pelo raio-X, já teve que abrir a mala para matar a curiosidade dos funcionários sobre as jumpsuits e até mesmo um policial em Los Angeles o parou para tietar. “Ninguém me chama mais de Jonas. É Johnny ou Elvis”, conta. 

Ele está sempre em busca de melhorar as apresentações, mas por maior que seja a dedicação, ele diz que nunca chegará perto do que o ídolo foi. “Ninguém nunca vai ser o Elvis. Existiu um só e ele morreu em 1977”, destaca, acrescentando que a estimativa é que existam 200 mil covers (os chamados “Elvis impersonators”) no mundo. O trabalho, garante, vai muito além do que se vê no palco. “Um dia sem ouvir Elvis é um dia perdido”, afirma. Ele estima que sua coleção particular tenha mais de mil músicas entre originais e regravações. “Não conheço todas porque gosto de me dar de presente. Em datas importantes, paro para ouvir uma música que está lá”, explica. A sua favorita no momento é “You’ve lost that loving feeling”. 

Tanta dedicação traz resultados: sua performance encanta adultos e crianças. “Eles estão lá vendo a representação do maior artista de todos os tempos então é uma responsabilidade gigante. É fascinante ver o quanto o Elvis é querido, amado e importante na vida das pessoas”, explica. Até hoje não encontrou ninguém que não goste de Elvis, apenas quem nunca tinha escutado, mas passou a se interessar após o show. 


 

Histórias e emoção

Ao final das apresentações, Johnny reserva um espaço para foto com o público e costuma com frequência ouvir relatos que envolvam o ídolo. Lembra de histórias como a da mulher que levou uma surra dos pais por chorar no dia da morte de Elvis e de outra que fugiu de casa com o sonho de conseguir encontrá-lo para virar sua namorada. Entre os momentos marcantes da carreira, recorda de uma apresentação feita nos Estados Unidos, quando uma senhora, que assistiu a nove shows do Elvis em vida, se emocionou pelas semelhanças entre a echarpe distribuída por Johnny e as originais do rei. Segundo ele, mesmo quem não vivenciou aquela época – como é o seu caso – também se apaixona. “É uma mágica que não vai ter fim. Toda vez que eu paro na frente dos portões de Graceland, eu penso: daqui a 40 anos eu não vou estar aqui, mas vai continuar a ter essa peregrinação”, acrescenta.  

 

Esta é a 56ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito.