Um raio-X da violência contra a mulher em Bento Gonçalves

Mais de oito mil atendimentos em dez anos de atividades. A marca mostra a importância do Centro de Referência da Mulher – Revivi. A entidade foi criada em novembro de 2007 com o objetivo de prestar assistência a vítimas que passam por situações de violência física ou emocional, independentemente da idade. Elas recebem atendimento psicológico de forma individual ou em grupo e também podem ser encaminhadas a instituições específicas nas áreas jurídica, escolar, de saúde, emprego ou assistência social. Tudo isso é oferecido de forma gratuita.

Os atendimentos ocorrem seja por procura espontânea da mulher, encaminhamento ou a chamada “busca ativa”, quando a entidade é acionada por meio da Delegacia da Mulher (Deam), pela Justiça ou através de denúncias. O acompanhamento é fundamental na visão da responsável pela Coordenadoria da Mulher e pelo Centro Revivi, Regina Zanetti. “Muitas mulheres acreditam que a agressão vai parar só com o registro, mas não é verdade. Existe um ciclo da violência: a parte de xingamento e humilhação, a violência física e depois a lua de mel, quando o homem pede perdão e faz promessas. Se a mulher está sendo acompanhada, ela se percebe dentro da violência e estará fortalecida para tomar uma atitude caso aconteça de novo”, garante. 

A estrutura conta com profissionais das áreas de Psicologia, Assistência Social e Direito, que fazem atendimentos também à noite a aos finais de semana, dando todo o suporte necessário, o que inclui um espaço sigiloso onde a mulher pode permanecer protegida por um período de até cinco dias. “Temos casos de frustação, mas os casos de sucesso nos dão uma alegria muito maior“, comemora. 

A realidade, segundo ela, está mudando. “As mulheres estão tendo mais coragem de sair desse ciclo de violência. Temos algumas que estão há 20, 30 anos em um relacionamento, muitas vezes vovós, que nos procuram e dizem que cansaram de ser humilhadas. As mulheres estão se conscientizando que merecem ser respeitadas e viver com dignidade e cidadania”, observa.

Até setembro deste ano, o número de novos casos registrados já havia superado todo o ano de 2016 – no ano passado foram 792 atendimentos, sendo 141 casos novos, enquanto que entre janeiro e setembro foram 545, dos quais 152 novos. Além disso, neste ano houve registro de 37 reincidências, 77 visitas domiciliares e 1.091 buscas ativas. “Atendemos anualmente em torno de 800 mulheres, mas já tivemos épocas em que os casos chegaram a 1.100. A maioria nos procura em razão de violência psicológica”, explica. 

Regina comenta que durante o ano são realizadas três grandes ações de conscientização: no Dia Internacional da Mulher (8 de março), na data em que se comemora a sanção da Lei Maria da Penha (7 de agosto), e agora, com os 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher (veja detalhes na página 16). “O objetivo é o empoderamento feminino, ou seja, o fortalecimento da mulher, não é ser mais, nem menos, é estar lado a lado e fortalecida”, acredita.  

Segundo ela, ainda há pessoas que culpam a vítima e dizem frases como “a mulher gosta de apanhar”. “Não, a mulher não gosta de apanhar. Muitas vezes elas se submetem a permanecer nisso por ameaça aos filhos e aos parentes, ou porque dependem financeiramente ou esperam os filhos crescerem. Quem se mantém nesse ciclo não é porque quer, é por necessidade ou coação. Todos os dias a gente sente na pele aqui”, relata.  Regina lamenta retrocessos na área dos direitos das mulheres, como extinção de órgãos nacionais e estaduais, o que acaba refletindo no material e nos recursos repassados aos municípios. Outra questão é que muitas das decisões políticas são feitas por homens, algumas vezes distribuídos em bancadas com pensamentos mais radicais ou conservadores. “Na política, a mulher é vista apenas para cumprir cotas”, pontua. Apesar disso, há movimentos que vêm se fortalecendo, fazendo com que a mulher esteja na vitrine. “Mas não podemos parar por aí. Se nós pararmos com as campanhas e os movimentos sociais, teremos nossos direitos liquidados”, destaca. 

O problema da violência ainda persiste também por conta do machismo, internalizado na sociedade. “Nós, mulheres, acreditamos na mudança e muitas vezes acreditamos na mudança do companheiro. Acontece? Sim, mas não de um dia para o outro. Quem viveu no ciclo de violência vai continuar se não for tratado e acompanhado”, pontua, referindo-se ao projeto “Encontros Reflexivos”, promovido em parceria com o Poder Judiciário. Em 2016, dos 40 participantes, apenas dois tiveram reincidência. “É uma oportunidade que é dada a eles para se conhecerem melhor e perceberem que a violência não leva a nada”, conta. 
 


 

Campanha pelo fim da violência contra a mulher segue até o dia 6 de dezembro

A praça Vico Barbieri recebeu, na última segunda-feira, dia 20, a abertura da Campanha "16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência contra a Mulher", promovida pela Coordenadoria da Mulher e pelo Centro Revivi. As atividades seguem até o dia 6 de dezembro. Mundialmente, a campanha começa em 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher. No Brasil, para destacar a dupla discriminação vivida pelas mulheres negras, as atividades começaram em 20 de novembro, quando é lembrado o Dia da Consciência Negra.


 

Programação

28/11 – Terça feira
Encontro para Migrantes de Bento sobre a Lei Maria da Penha 
Local: Salão de Atos do IFRS – Campus Bento
Horário: 19h

30/11 – Quinta feira
Dia da Beleza
Local: Coordenadoria da Mulher/Revivi (rua Assis Brasil, 94, Centro)
Horário: 13h30 às 17h 

1º/12 – Sexta Feira
Conscientização no Combate à Aids
Local: a definir
Horário: das 8h às 17h

02/12 – Sábado
Blitz de Conscientização pelo Fim da Violência Contra a Mulher
Local: sinaleira da praça Vico Barbieri
Horário: 13h30 às 17h

06/12 – Quarta-feira
Roda de Conversa com parlamentares e funcionários da Câmara de Vereadores pelo fim da violência contra a mulher
Horário: 15h