Um talento no tradicionalismo
Eduardo Sadi Berlatto Guarnieri, de 9 anos, encanta pelo talento. Dudu, como é carinhosamente conhecido, faz sucesso declamando poemas tradicionalistas. Das 18 provas em que participou, em 17 ele voltou para casa com troféu – na que não subiu ao pódio, ficou com a quarta colocação.
A prova mais importante ocorreu em fevereiro deste ano, no Rodeio Internacional de Vacaria, considerado entre os tradicionalistas a “Copa do Mundo dos Rodeios”. Dudu ficou com o segundo lugar. O próximo compromisso ocorre neste final de semana, em Nova Bassano. Entretanto, desta vez ele concorrerá na categoria mirim, com meninos mais velhos, de 10 a 14 anos – nem todos os concursos têm a categoria pré-mirim.
O prêmio que ganha, normalmente em dinheiro, é usado para comprar objetos da cultura gaúcha ou guloseimas nos próprios rodeios. Na última disputa, como o valor era um pouco mais polpudo, ajudou os pais na compra do uniforme escolar e quis fazer um agrado para a amiga Gabrielle Menegotto, que pela primeira vez participou de uma prova e ficou em 6º lugar, com 28 concorrentes.
Ele é o xodó dos pais, Lidiane e Marcos, que têm a cultura gaúcha como uma paixão. Aos finais de semana os três costumam participar de eventos tradicionalistas e na Semana Farroupilha a família de Lidiane promove jantares para centenas de pessoas no Galpão do Gaitaço. Dudu também é bastante apegado ao avô materno, Sadi, com quem gosta de tocar gaita.
A primeira tentativa de fazê-lo participar das atividades tradicionalistas não deu certo. A mãe chegou a inscrevê-lo no CTG, mas o menino não demonstrou interesse. Entretanto, aos seis anos, um primo começou a frequentar o CTG Herdeiros da Bombacha e Dudu decidiu acompanhá-lo.
Ele foi convidado a preparar-se para o concurso de “Piazito”, em que a declamação era uma das provas necessárias. Apesar da timidez e da ainda pouca desenvoltura, o garoto agradou a todos, o que levou a patroa a inscrevê-lo para participar de uma prova em Muçum. A mãe conta que achou que ele não teria chances, já que sua poesia era mais simples que a dos demais – o texto escolhido era “Upa, upa, cavalhinho”. Mesmo assim, decidiram conferir o resultado. Ao anunciarem o terceiro lugar, Lidiane ficou apreensiva ao não ouvir o nome do filho. A tristeza durou pouco: ele ficou em segundo.
A partir de então esta virou uma nova paixão na vida do garoto, que passou a ensaiar com mais dedicação. Aos poucos também foi trocando de poema, já declamou “Última Gineteada” e agora se apresenta com “Bravura do Peão”. São avaliados quesitos como fidelidade ao texto, expressão corporal e facial e entonação de voz. O mais difícil para Dudu é decorar os textos, já que algumas palavras não fazem parte do vocabulário cotidiano do garoto.
Os treinos são praticamente diários. Às segundas-feiras, ele faz aulas com o professor Neiton Bittencourt Perufo, onde aprimora os gestos e a oratória. Os encontros ocorrem na casa da coordenadora cultural do CTG, Zélide de Vargas. Depois, a prática segue em casa, com a supervisão da mãe, que confessa ser bastante exigente. Os treinos incluem vídeo das declamações para que o garoto se assista e veja o que pode melhorar. A agenda do guri é bastante atarefada. Ele também faz aula de gaita, nas segundas pela manhã, e às quintas e sextas ele agora se prepara para a disputa regional de “Piá”, que conta com várias provas, incluindo como danças e conhecimentos gerais.
Esta é a 66ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito.