Um tiro que mudou a vida de Jacir Zanella

Uma emboscada acabou colocando um ponto final na carreira do soldado Jacir Paulo Zanella. Em 11 de fevereiro de 2003, juntamente com outro colega, ele perseguia bandidos que haviam assaltado uma agência bancária em Bento Gonçalves.

A fuga acontecia pela RSC-453, rodovia que liga Bento e Garibaldi a Farroupilha. Em uma curva, os bandidos pararam o automóvel no qual estavam fugindo e ficaram aguardando a chegada da viatura da Brigada Militar. “No momento em que nos deparamos com eles, eu estava trocando o canal do rádio, após ter avisado a Polícia Rodoviária que eles fugiam em direção a Farroupilha. Três dos assaltantes estavam no meio da rodovia, armados com fuzis e metralhadoras, em posição de tiro”, relembra Zanella. Os bandidos disparam contra a viatura. “Somente no encosto do acento do motorista havia cinco perfurações”, conta. Zanella foi atingido por um tiro de fuzil na cabeça e vários estilhaços atingiram seu rosto e uma das mãos. O outro policial foi baleado no braço.

Logo após ter sido atingido, Zanella ficou inconsciente. O tiro acertou a parte superior da cabeça do policial, fragmentando o osso. “Passei 22 dias hospitalizado e corri risco de morte. Não cheguei a ir para a UTI, mas ficava em observação constante em função de dois coágulos que se formaram na região da nuca”, explica. Zanella passou por diversos procedimentos cirúrgicos. Entre os mais complicados esteve a retirada do estilhaço do projétil que se alojou próximo ao olho e as intervenções para reconstruir o osso na parte de cima da cabeça. “Passei um ano e quatro meses em licença médica da Brigada Militar. Coloquei-me à disposição para realizar trabalhos internos no quartel, mas a Junta Médica julgou que eu sou incapaz de exercer qualquer tipo de função na BM. Acabei sendo reformado como soldado e nunca mais trabalhei na corporação”, enfatiza.

Zanella deveria ter sido aposentado como 2º sargento, mas não foi o que aconteceu. “Na incapacidade de um brigadiano, a reforma acontece a dois postos superiores ao que vinha exercendo na época”, explica Zanella. “Pelo tempo de serviço na Brigada Militar, em 2003, quando o acidente aconteceu, eu já tinha mais de 22 anos de carreira. Em 2005 seria promovido a sargento, por tempo de serviço”, destaca. Ele ainda luta na Justiça para conseguir sua promoção, assegurada por lei específica. Apesar de não atuar mais na BM, ele destaca que, quando escuta a sirene dos carros da polícia, sente vontade de estar junto.

Zanella conta que o mais importante nesses anos tem sido o reconhecimento da população, afinal muitas pessoas ainda lembram e agradecem pelos serviços prestados, mesmo após quase dez anos desligado da Brigada Militar. “Sinto-me com o dever cumprido, sempre estive na ativa e gostava muito do que fazia”, finaliza. Hoje, o policial aposentado realiza outros trabalhos para complementar a renda da família, enquanto aguarda que sua promoção seja definida na Justiça.

Tratamento

Devido à gravidade dos ferimentos, Zanella tem dificuldade para enxergar com o olho esquerdo e possui um zumbido constante no ouvido. “Minha pupila dilatou e não voltou mais. Perdi quase toda a visão. Percebo alguns vultos somente”, conta. Mas o maior problema foi o trauma psicológico sofrido pela família. “Minhas filhas tinham sete e nove anos na época, foi um choque para elas. Tiveram que passar por tratamento psicológico e tive que arcar com todas as despesas”, conta.

O policial aposentado destaca que o auxílio do governo chegou apenas um ano após o acontecimento, o que o obrigou a custear tanto o tratamento clínico quanto o psicológico. “Quando encaminhei os recibos do tratamento para a corporação, pois sofri um acidente de trabalho, não me ressarciram. Eles alegaram que eu deveria ter sido internado no hospital da Brigada Militar, em Porto Alegre. Quando ia a capital realizar exames, eu mesmo tinha que pagar o deslocamento, pois não tinham um veículo que pudesse me levar. Nunca apareceu ninguém dos Direitos Humanos na minha casa para ver como eu ou minha família estávamos e se precisávamos de algum apoio”, destaca.

Ele ainda acrescenta que, quando necessitou realizar um exame de ressonância magnética por sentir fortes dores de cabeça, mesmo solicitando intervenção do Hospital da BM, aguardou cerca de quatro meses para realizar o procedimento.

Katiane Cardoso

 

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