“Uma empresa tem que ser relevante para as pessoas”, diz representante da Mercur, em palestra no CIC de Bento Gonçalves
“Como seria o mundo se sua empresa não existisse?”. Foi essa pergunta que fez a empresa Mercur mudar completamente o rumo de seus negócios. Ao ser questionada qual era o legado da empresa para o mundo e qual era seu papel na vida das pessoas, a Mercur percebeu que precisava de muito mais do que criar e vender produtos: era preciso construir um mundo de um jeito bom para todos.
A Mercur, consolidada no mercado mundial de borrachas, com berço em Santa Cruz do Sul, deu uma guinada no modelo de negócios em meados dos anos 2000. Conceitos como lucratividade e faturamento deram lugar à preocupação com as pessoas. Em sua palestra no Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), nesta terça-feira, dia 4, Jorge Hoelzel Neto, conselheiro de Administração, apontou que antes a empresa pensava em crescer, hoje em evoluir, antes fazia produtos “para” as pessoas, hoje faz “com” elas. Antes era um trabalho individual, hoje é coletivo. “O que percebemos que antes nós só batíamos carteira. Tínhamos uma missão, uma visão, mas não passavam de frases em quadros espalhados nas paredes. Por isso, passamos a estudar sobre o bem-estar coletivo e estabelecemos o conceito para tornar o mundo melhor”, comenta.
Para colocar a ideia em prática, a direção criou o compromisso institucional de priorizar produtos sustentáveis e soluções para a vida. A partir disso, os conceitos de lucratividade e faturamento ficaram em segundo plano. Além disso, a empresa buscou ser ética em todos os tipos de relacionamento e com seu novo conceito. Por causa disso, eliminou fornecedores que não compactuavam com seu novo modelo de negócio. “Encerramos a produção de esteiras para as fábricas de fumo, um produto lucrativo, porque não queríamos nos envolver com a indústria do cigarro”, disse, citando ainda que encerrou contratos com empresas do ramo de bebidas alcoólicas, agrotóxicos, que maltratam animais, entre outros.
Em busca de um mundo melhor, a Mercur também passou a pensar a sustentabilidade. Ao invés de buscar matéria-prima mais barata na China, pagou mais caro no Brasil para valorizar a extração natural. Além disso, passou a trabalhar com insumos renováveis. “Quando não conseguimos reciclar, a gente repõe plantando milhões de árvores”, comenta.
O modelo de gestão coletiva também é um processo que gerou muitas mudanças na empresa. Ao invés de um organograma tradicional, com chefes, supervisores e gerentes, a Mercur estabeleceu uma organização sem hierarquia ou competição. Também foi estabelecido um novo conceito de qualificação dos colaboradores. Os treinamentos foram trocados pela educação. “Não temos mais um plano de carreira da empresa, e sim um plano de vida, pois todos precisam estar preparados para serem livres”, destacou. “Uma empresa tem que ser relevante para as pessoas”, conclui.
A empresa hoje também trabalha para reduzir a diferença entre os maiores e os menores salários e investe em projetos sociais. “Sabemos que temos muito trabalho pela frente e temos que evoluir sempre, mas acreditamos que estamos no caminho certo”, apontou.