Uma grande festa no Céu e na Terra
Texto de autoria da psicóloga Franciele Sassi
Quando passamos por uma experiência muito intensa, o tempo de fora acaba ficando diferente do tempo de dentro. É a prova de que há duas dimensões de tempo que se chocam diante de grandes mudanças: o tempo dos relógios, que não para nunca e é indiferente à vida e à morte; e o tempo da experiência, que fala sobre o que sentimos e nos convoca a fazer diferente. É por isso que o ano passa rápido demais, mas o que nós vivemos tem a cara e a emoção de ontem. As mudanças fazem parte de uma nova realidade e convidam a transformar, o que pode ser para melhorar, aprender e evoluir.
As pessoas que amamos e que não estão mais junto de nós, ao partirem, abrem uma espécie de fenda entre as dimensões da vida, e possibilitam a nossa conexão com elas para sempre. Elas levam um pouco da gente para o “outro lado” e deixam um pouco delas em nós “aqui” em vida. Isso explica por que jamais iremos esquecer as pessoas que amamos. Afinal, elas fazem também parte dos capítulos da nossa história.
O que seriam os livros se faltassem capítulos? Então, se temos a possibilidade de nos conectarmos, isso nos permite sentir aqueles a quem amamos mais perto de nós, mesmo que não consigamos vê-los da forma como estávamos acostumados em vida. Lembranças abrem a possibilidade de acalmar as nossas angústias e autorizam que a gente encontre espaços para investir de novo na vida.
Estamos em época de Natal e festejos de Novo Ano… e todas as pessoas, em algum momento, passarão pelo Natal sem a pessoa que amam. Passar por datas tão importantes sem ter por perto quem estimamos faz com que sentimentos desconfortáveis surjam. Por isso, épocas como estas mexem tanto com as pessoas.
A história do Natal, a partir de uma perspectiva teológica, fala sobre uma festa no céu feita pelos anjos ao se depararem com o nascimento de Jesus. Não deixa de ser um período de festas para nós, seres humanos. Isso significa que tanto o céu como a terra estão próximos. E nós ficamos próximos de quem partiu e está junto de Deus. Então, esta “fenda” que se abre em nós quando perdemos alguém, a sensação de vazio, de uma lança que nos atravessa, significa que estamos abertos também à uma nova forma de se conectar com quem amamos. E por isso também a dor do luto…a gente acaba precisando aprender a amar em separado.
Por outro lado, aprender a se conectar de novas formas faz com que a gente esteja um pouco lá e um pouco aqui. O nosso coração se abre como se fosse um fecho de luz, que encontra a luz de quem partiu também. Para além de qualquer crença religiosa, essa conexão da qual me refiro fala sobre permitir-se viver, ser feliz, reinvestir. E Natal, como uma época de comemorar, é também tempo de nascer, de ressurgir, de ressuscitar a vida dentro de nós. Afinal, tanto “lá”, como “aqui”, acontece uma grande festa.
Texto de autoria da psicóloga Franciele Sassi