União para, finalmente, federalizar a RSC-470

“A federalização sairá neste ano”. Essa foi a garantia dada pelo deputado estadual Gilmar Sossella (PDT), coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Asfaltamento Integral da BR-470/RSC-470. A confirmação foi proferida em audiência pública realizada no último dia 14, no Centro de Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG), simultaneamente à programação da Feira Internacional de Máquinas, Matérias-primas e Acessórios para Indústria Moveleira (Fimma Brasil 2013). “Só falta bater o martelo. Depende da presidente Dilma e, por isso, é importante a união e a pressão empresarial para a concretização”, afirmou o deputado. Além disso, a manutenção da rodovia, até que a volta à União seja efetivada, está sob análise do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit), que deve assumir a responsabilidade pelas obras até a metade do ano.

O encontro teve ares de indignação por parte dos empresários e prefeitos da região, mas serviu para mostrar que cada setor tem demandas diferentes embora ao final todas remetam ao mesmo problema: uma rodovia improvisada, pouco sinalizada, com obras paliativas, que sofre com a falta de manutenção e, principalmente, carece de intervenções de grande porte para ser uma alternativa eficaz de escoamento da produção e deslocamento. 

Para as lideranças presentes na audiência, além das milhares de vidas postas em risco e do prejuízo aos cofres públicos, as condições da RSC-470 têm dificultado a expansão da indústria regional, pois o alto custo e a complexidade do transporte das mercadorias resultam no aumento do preço de venda dos produtos, diminuindo a competitividade. Além disso, a precariedade da rodovia também foi apontada como um dos motivos que impedem que outras empresas se instalem na região.

A rodovia

A RSC-470 liga Bento Gonçalves a cidades como Veranópolis e Nova Prata na direção norte e a Garibaldi, Carlos Barbosa e Farroupilha ao sul. Segundo estimativas do Grupo Rodoviário local, a estrada registra uma média de 25 a 30 veículos por minuto em horários de pico. Um exemplo típico do movimento excessivo é o congestionamento que se forma quando é preciso interromper o trânsito em função de acidentes ou obras. O trecho considerado mais perigoso é o conhecido como “curvas da morte”, com 1,7 mil metros de extensão, entre os quilômetros 218 (trevo de acesso ao bairro Santa Rita) e 219 (Vale dos Vinhedos). Além da incidência de curvas fechadas, o local apresenta pontos de aquaplanagem, fatores que, aliados à imprudência, foram responsáveis por 34 acidentes somente neste ano, dos quais 13 resultaram em passageiros ou condutores feridos e um deles acabou tendo uma vítima fatal. Para canalizar o fluxo e reduzir colisões e capotamentos, alternativas como a recolocação de controladores de velocidade e a construção de viadutos têm sido apontadas por especialistas. 

Crema/Serra

A entrega da documentação para habilitação das empresas interessadas na execução de serviços de restauração e manutenção das rodovias da Região da Serra (Crema Serra) ocorreu na quarta-feira, dia 27, em Porto Alegre. Ao todo, sete empresas compareceram na Subsecretaria da Administração Central de Licitações do Estado (Celic) onde entregaram dois envelopes, um contendo a documentação para habilitação e outro com a proposta.

A Comissão Permanente de Licitações (CLP) da Celic irá verificar os documentos relativos à habilitação jurídica, regularidade fiscal e trabalhista e qualificação técnica. Após esse trâmite, serão publicadas as empresas habilitadas e marcada a data da segunda sessão para abertura dos envelopes contendo as propostas de valor. Não há um prazo legal para a finalização da análise, mas a CLP vai priorizar o andamento do processo. Os serviços incluídos na contratação são obras de restauração, drenagem, sinalização e serviços de manutenção, com duração de cinco anos. O Crema Serra inclui a Rota do Sol, de Caxias a Lajeado Grande, a RS-122, entre Ipê e a BR-116, a RS-470, entre Bento Gonçalves e Nova Prata, e a RS-324, entre Nova Prata e Nova Araçá. Ao todo, são 195 quilômetros de estradas selecionados no programa. 

No edital estão contempladas as obras de restauração das rodovias (reparos, fresagem com recomposição, reconstrução, capa selante, tratamento superficial simples, tratamento superficial duplo com AB, recapeamento, preenchimento dos acostamentos, sinalização provisória), obras de sinalização, drenagem e arte especiais. A empresa ganhadora terá prazo de cinco anos, a contar do sexto dia do recebimento da autorização de serviço, para realizar as obras necessárias, podendo a restauração ser prorrogada. A fiscalização sob a execução da obra ficará a cargo do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer).

Fonte: Ascom/Sarh – colaboração Celic/Sarh

“Essa rodovia tranca nosso desenvolvimento”

“Esse é um assunto recorrente, que nos mantém sufocados. A RSC-470 é um grande empecilho para o escoamento da nossa produção, é uma estrada perigosa e que tranca nosso desenvolvimento. Os avanços são extremamente importantes. Estamos em um momento que ela não é federalizada e tampouco o governo do Estado tem como mantê-la. A simples manutenção não acontece. Editais do governo do Estado, como o CREMA/Serra, pelo qual tanto foi lutado, por três oportunidades foi publicado e até hoje temos dificuldades de mensurar se será resolvido ou não. O pior de tudo é que colocaram a RSC-470 no mesmo patamar de uma rodovia que serve para levar munícipes para o litoral. Queremos que a atenção dada a nós seja proporcional ao que a gente arrecada aos cofres do governo do Estado e principalmente, ao governo Federal. Nada mais do que isso. Se ela não for federalizada, queremos que o Estado pelo menos consiga, dentro de suas dificuldades, fornecer segurança aos que utilizam essa rodovia”. Prefeito Guilherme Pasin

“Merecíamos um pouco mais de respeito”

“Estamos levando solicitações há tantos anos e, no final, nada acontece. Mudam as pessoas que administram nosso Estado, país e município e a gente vê que quem produz, quem gera, infelizmente, acaba pagando a conta. Nós, do setor moveleiro, merecíamos um pouco mais de respeito do nosso governo para que, pelo menos, se não se consegue tapar os buracos, corte o mato onde existem placas indicando Bento Gonçalves. Eu disse isso ao governador pessoalmente. Os visitantes que chegam na cidade mal conseguem ver a sinalização. Aliás, nós poderíamos, se fosse o caso, ceder algumas latas de tintas para pintar a rodovia. Porque quem utiliza a rodovia à noite e em dia de chuva não tem nenhuma segurança. Se não dá para federalizar, ou dar um jeito nessa rodovia, que pelo menos deixe em condição de trafegar. Mantemos nossas indústrias aqui porque somos teimosos, criamos raízes aqui, caso contrário teríamos que buscar o ganho em um lugar onde seja mais fácil. No Rio Grande do Sul não conseguimos ter o mesmo fator de competitividade que em outros estados. Precisamos, neste momento, convencer o Estado aceitar o trecho que não é do governo federal, senão vamos nos reunir 30 vezes e nada vai adiantar. E se isso realmente não acontecer, não sei o que faremos. O custo que os empresários têm que transferir para seus produtos é devido à nossa logística. Não temos mais um produto competitivo em relação àqueles que têm uma estrutura pronta, com fornecedores do lado deles. Está na hora das indústrias e empresários darem um prazo ao governo e pressionar, afinal, o Estado é de quem mora, de quem produz e não é de quem administra de quatro em quatro anos”. Ivo Cansan, presidente da Movergs

“Pedimos para que, pelo menos, roçasse o mato da rodovia”

“Há algumas semanas fomos fazer o convite pessoalmente ao governador para participar da Fimma Brasil e, naquela oportunidade, fizemos um único pedido: que ele mandasse roçar o mato na frente das placas da rodovia. Infelizmente, nem isso ele fez. Os visitantes e expositores nos cobraram. Como podemos ter a quarta maior feira do mundo do segmento com uma estrada e logística nessas condições? Eu, sinceramente, na próxima edição não tenho como dizer aos nossos visitantes que nossas estradas continuam as mesmas. Precisamos que alguém faça alguma coisa imediatamente”. Cacildo Tarso, presidente da Fimma Brasil 2013

“Precisamos preservar vidas”

“Esta é a primeira vez que abrimos na própria Fimma uma oportunidade para discutir algo que é de sobrevivência, é de vida. Essa causa não tem que ser algo somente dos empreendedores, dos empresários, mas sim de todos os sindicatos patronais e dos trabalhadores. Estamos lutando por um único ideal: diminuir tantas mortes e os sacrifícios que passamos com essa rodovia. Como pai de família, digo que precisamos preservar vidas. Para a Fimma Brasil, mais de cem contêineres chegaram até Bento Gonçalves. Já perdemos muitas indústrias por causa disso. Uma empresa da Europa havia escolhido a cidade de Veranópolis para abrigar uma nova fábrica da marca. O empresário desistiu e disse que não podia arcar com o custo da embalagem que nós transportamos. Precisamos dar continuidade a essa batalha. Fico triste, no entanto, porque, apesar de tanto se falar e de tanto se brigar, poucos estão aqui conosco.” Juarez Piva, presidente do Simmme

“O governo tem que fazer a parte dele”

“No início, eu não concordava com a federalização. Eu cobrava que o Estado fizesse a sua parte e cumprisse a promessa de duplicar de Carlos Barbosa a Faria Lemos. Hoje entendo que essa é a melhor saída. Na abertura da Fimma, o governo do Estado mandou representante para trazer notícias boas, quando na verdade ele nos xingou, dizendo que tínhamos que apresentar soluções e não reclamações. Mas a nossa parte a gente faz, faturamos muito através dos impostos. Eles têm que fazer a parte deles. A Câmara de Vereadores está imbuída nesse tema. Queremos que a federalização não sirva de desculpa para o Estado lavar as mãos.” Gilmar Pessutto, vereador de Bento Gonçalves

“Juntos conseguiremos a federalização”

“Toda nossa luta em torno da federalização foi feita para a sociedade. E precisamos dar continuidade a esse processo, pois já conseguimos muitos avanços. Evidentemente, temos problemas muito sérios com encaminhamento de soluções para a manutenção de nossas estradas, mas nós temos nos organizado, enquanto CICs Serra, justamente para mostrar aos governos do Estado e federal a produtividade que esta região dá aos cofres deles. Por questão de justiça, tenho que dizer que o governador Tarso tem sido uma pessoa coerente, pelo menos nos encontros que tivemos. Pois a gente ouve a determinação. Brincamos, dizendo que ele tem que falar mais alto para ser ouvido, parece que a sua voz não chega aos escalões inferiores. Nossa crítica maior é ao Daer. Aí nós temos um grande problema. O Crema Serra contempla, praticamente, um terço das rodovias da nossa microrregião. O Daer de Bento Gonçalves não recebe ninguém. Isso é uma situação histórica. Queremos pessoas dinâmicas dentro do departamento, pois nem os prefeitos da região são recebidos e ouvidos. O representante do Estado em Brasília, Hideraldo Caron, está empenhado nessa questão das estradas. Visitamos a casa dos deputados e a bancada gaúcha protocolou apoio à causa. Temos que fazer com que o governo tenha consciência. O governador por várias vezes disse que o problema não era dinheiro. Eu disse que era de gestão, de técnica, e esse problema se chama Daer, que não dá andamento às questões de que tanto necessitamos. E nós, empresários, líderes, presidentes de entidades e sindicatos, diretores de empresas, Poder Público, enfim, precisamos lutar pela rodovia, nos reunirmos e pressionar. Juntos, conseguiremos a federalização”. Ademar Petry, presidente da CICs Serra

Reportagem: Raquel Konrad


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