Vale à espera da ciclovia
A comunidade do Vale dos Vinhedos não parece disposta a desistir da implantação de uma ciclovia no trecho da ERS-444 que corta o distrito. Há alguns dias, moradores e empresários voltaram a apontar a demanda como prioridade para o desenvolvimento do turismo e da qualidade de vida na localidade, cobrando do Estado a execução do projeto elaborado ainda em 2007. A reivindicação está no topo de uma lista de solicitações da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) e da Associação Comunitária aos governos municipal e estadual.
A proposta de implantação de um espaço exclusivo para ciclistas no Vale chegou a ser licitada duas vezes pelo governo gaúcho. A primeira licitação ocorreu em maio de 2010, mas o processo foi cancelado no mês de outubro seguinte, após recurso. Em dezembro do mesmo ano, a empresa vencedora foi escolhida, porém, desde então não houve avanço.
De acordo com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), o projeto está na Diretoria de Infraestrutura Rodoviária para a assinatura do contrato. O órgão, entretanto, não especifica a possível data de início do empreendimento, pois ele sequer está contemplado no Plano de Obras 2012-2014.
Bem-estar dos moradores
Para Juarez Valduga, presidente da Aprovale, o momento é de tratar o antigo pedido pela ciclovia como uma necessidade urgente, não pensando somente nos visitantes que frequentam o roteiro de uva e vinho. “É claro que ela também vai contemplar o turista, mas é uma estrutura que vai ficar para os moradores. E quem ganha não é apenas o Vale dos Vinhedos, é Bento Gonçalves. Do jeito que está, não dá nem para caminhar por ali”, ressalta.
Valduga diz que a entidade está disposta a atuar como parceira para agilizar a construção e, como exemplo, cita o fato de a Aprovale ter doado ao Estado, há pelo menos cinco anos, um teodolito, equipamento para medições que custou mais de R$ 20 mil e que seria necessário para dar início à execução da obra. “Queremos ajudar e vamos fazer o que for necessário. Sabemos que isso exige tempo, então temos que começar logo. Não vamos aceitar um não como resposta”, garante o presidente.
Sem retorno efetivo do governo estadual, a associação criou, em abril, um abaixo-assinado para tentar conseguir 400 mil assinaturas e chamar a atenção para a demanda local. “Não precisaríamos estar fazendo isso se o governo assumisse sua parte. Mas vamos arregaçar as mangas e correr atrás”, finaliza Valduga.
Estrutura adequada
Comandante do Grupo Rodoviário de Bento Gonçalves, o sargento Zidemar Petry Freitas destaca que a instalação de uma ciclovia reduziria os riscos a que são submetidas as pessoas que pedalam no município, muitas delas transitando pelas curvas da RSC-470. “O ideal seria em uma área urbana, para evitar a rodovia. Mas, desde que tivesse a estrutura adequada, não haveria problema de ser na ERS-444, é um bom lugar. O que não se pode é misturar carros e bicicletas”, conclui Petry.
Experiência
Com mais de 50 anos de participação em competições de ciclismo, Gelson Schenatto tem a experiência necessária para avaliar as condições de estradas da região para os amantes dos pedais. E a análise que ele faz do trecho da ERS-444 que espera pela implantação da ciclovia não é das melhores. “Hoje, sinceramente, não recomendo a ninguém passar de bicicleta por ali. Sei do que estou falando, sou um profissional, e ali é um trecho muito perigoso”, afirma Schenatto, referindo-se, principalmente, ao fluxo de veículos pesados.
Mesmo assim, ele avalia a proposta como positiva, especialmente por se tratar de uma área turística e pelo fato de a zona urbana de Bento não oferecer outros espaços apropriados. “Não vejo, dentro da cidade, onde poderia ser feito algo assim. A bicicleta está ganhando espaço no mundo inteiro, mas aqui não. É lamentável, mas não temos nem acostamento decente nas estradas”, completa.
O projeto
A ciclovia na ERS-444 teria, originalmente, extensão de 8,25 quilômetros, com início no entroncamento com a RSC-470, na entrada do Vale dos Vinhedos, e seguindo em direção a Monte Belo do Sul. Ela foi planejada para ocupar o lado direito da rodovia (sentido Bento –Monte Belo) e ficaria separada da estrada por um canteiro de meio metro de largura. O projeto prevê um espaço de 2,5m para a pista, sentido bidirecional e um passeio lateral de 1,5m, com blocos de concreto como pavimentação. O valor estimado da obra é R$ 5,4 milhões. No pacote recente de reivindicações da Aprovale, está o pedido de extensão da ciclovia até a linha Leopoldina, pela Via Trento, o que pode alterar os custos e o traçado do projeto.
Reportagem: Jorge Bronzato Jr.
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