Vencer é também colecionar fracassos

Passa da meia noite quando tento contato com um amigo, mas percebo que suas redes sociais e WhatsApp estão desativados… sei o motivo: o fracasso bateu à porta dele.

Um garoto de vinte e poucos anos vestindo uma camisa que há mais de cem anos é vestida por várias gerações. A bola pune, ela sempre pune um lado, e dessa vez o time punido é esse no qual ele joga.

Paro para refletir sobre isso, um garoto de vinte e poucos anos sendo criticado por pessoas de todas as idades, sendo cobrado como se dele dependesse a sobrevivência de tantos outros. “Por isso ele ganha tanto”, dizem alguns. Mas não, é o contrário: ele não suporta críticas porque tem um ótimo salário, mas tem um incrível salário porque pode suportar todas essas críticas. São coisas diferentes: precisar suportar e ter o poder de suportar.

Amanhã a maioria de nós acordará às 7h, escovará os dentes e irá para o trabalho, que paga o quê? R$ 2 mil, R$ 5 mil, R$ 10 mil? Precisaremos no máximo suportar nosso chefe, alguns clientes chatos, talvez alguns colegas de trabalho. Já esse meu amigo com seus vinte e poucos anos vai precisar suportar a perguntas de dezenas de repórteres, milhares de críticas em todas as redes sociais, pessoas que o apontarão onde ele for: e suportará. Sabe por quê? Porque ele pode, ele chegou lá, onde a maioria de nós apenas sonha.

Em junho de 2016, um amigo me chamou para investir em um negócio novo que ele tinha descoberto. Um garoto de 17 anos, na época, me convidando para investir numa tal de “moeda virtual”, é claro que neguei, mas ele fielmente acreditava naquilo, vendeu sua moto e colocou aqueles benditos R$ 3.500 em algo que ele estudou e acreditava que daria certo. Era tudo o que ele tinha: R$ 3.500 e sua coragem. Eu não tive. Por isso hoje sigo sem ganhar nada com as tais moedas virtuais, enquanto isso aquele garoto de hoje vinte anos tem novecentos mil reais prontos para serem sacados a qualquer momento.

É isso, enquanto uns têm medo de investir a outros sobra a coragem. Enquanto uns assistem pela TV, outros estão lá no campo jogando. Enquanto uns quarentões se abalam com o mundo cruel, outros garotos de vinte anos chamam a responsabilidade para si e colocam um mundo sobre os ombros.

Nunca conheci um vencedor feito só de vitórias, pelo contrário, todos que conheço têm uma grande característica em comum: FRACASSOS! Sim, colecionam fracassos, lágrimas, noites mal dormidas, questionamentos sobre se vale a pena seguir dando tudo de si. Por isso vencem, porque no dia seguinte lá estão eles, com suas contusões, com suas dores quase insuportáveis e olhares de desconfianças, com seus medos e repetidas falhas, mas lá estão, e no dia seguinte, e na próxima semana, e assim por diante, sem parar, no limite da coragem, da tristeza e da superação.

Esse é o gosto da glória. Um gosto que poucos conhecem, pois é tão mais fácil assistir do sofá, apostar apenas se aquela pessoa conseguirá ou não. Somos assim, a maioria de nós, espectadores da glória alheia. Vibramos com eles, mas quase nunca choramos com eles… eles choram sós… e por isso, vencem.