Vida de… apaixonado pela música

Mais do que fazer o que ama, a busca incansável pelas oportunidades é, na visão do pianista Rodrigo Soltton, de 38 anos, o segredo para uma profissão de sucesso. Ele é conhecido por suas performances ao piano de cristal, com repertório eclético e atemporal. “O público gosta de ver uma pessoa que está fazendo o que gosta. Daí o motivo de eu só tocar músicas das quais eu gosto muito. A partir do momento que eu estou gostando muito do que eu estou fazendo, o envolvimento com o público é natural. Eu gosto de tocar, eu gosto de cantar. Aí a galera começa a sentir aquela alegria de verdade”, garante. 

Natural de Novo Hamburgo, há 20 anos escolheu Bento Gonçalves para viver, onde encontrou um solo fértil para suas apresentações e constituiu sua família (é casado com Juliana, que também é sua produtora, com quem teve Arthur, de 9 anos, e Eduardo, de 6, – também é pai de Maria Vitória, de 20 anos). Ele se define como um showman, alguém que se destaca não por ser virtuoso em seu instrumento ou ser o melhor cantor do mundo. “Tem que ser um conjunto de coisas. Tem que cantar, tem que tocar e tem que emocionar o público. É mais uma performance do que a técnica”, explica. Tocar para uma pessoa ou tocar para uma multidão não faz diferença. “O artista que sobe no palco esperando ter um mínimo de quórum, não está de peito aberto. Ele quer algo em troca. Eu só quero fazer o que eu gosto. Se tiver uma pessoa ou dez mil pessoas vai ser a mesma coisa”, assegura. 

A grande ideia

O piano transparente, criado em 2013, é considerado por ela a sua grande ideia e foi uma das estratégias para dar novo fôlego à carreira em uma época que – talvez até pela recessão econômica – os shows começaram a reduzir.  A invenção foi uma das responsáveis por ampliar a sua agenda em todo o território nacional. O instrumento de acrílico foi o segundo criado por ele. O primeiro foi um piano preto de lata, facilmente desmontável para ser transportado nas viagens, projetado por ele, parafuso por parafuso. Decidido a tirar suas ideias do papel, fez cursos para aprender a trabalhar com softwares de projeto e desenho de produto – ele  lembra que na infância já gostava de desmontar seus brinquedos – e contou posteriormente com empresas parcerias para fabricação. “Basicamente não compro nada para usar, eu faço”, comenta, adiantando que já está se preparando novidades, embora ainda as mantenha em segredo. 

Mais de três décadas de música

Sua trajetória musical confunde-se com sua história de vida. Quando criança, ouvia os discos do pai de música nativista na intenção de decorar as letras para fazer bonito nas idas ao CTG aos finais de semana, quando gostava de subir ao palco e se apresentar com o grupo que estivesse tocando. “Meu lugar não era dançando ou no chão, era no palco”, conta. Seu primeiro instrumento foi um cavaquinho, que ganhou do avô aos quatro anos. Com oito, começou a fazer aula de violão, mas sentiu que ainda não era o que lhe encantava. 

Foi só aos dez anos, ao ingressar no Conservatório de Música (integrando os Canarinhos de Novo Hamburgo), que Soltton conheceu o instrumento que lhe encantou. Teve contato com a música erudita e passou a viajar com o grupo para apresentações em outras cidades. Ele defende que as crianças devem ter a oportunidade de experimentar as diferentes possibilidades até descobrir suas paixões. “Existe uma infinidade de instrumentos e muitas vezes a pessoa não descobriu qual é o seu. E, às vezes, o negócio é cantar”, pondera. Ele acredita que todas as pessoas têm condições de tocar qualquer instrumento, mas não são todos que querem. “Todo mundo pode fazer qualquer coisa. Não acredito muito em dom, mas é claro que algumas pessoas têm mais facilidade, fazem com mais gosto. Muitos dizem que gostariam de tocar piano, mas não querem dedicar seu tempo para estudar”, acrescenta, lembrando que na época dos Canarinhos ganhou uma medalha por ser o único entre 45 cantores que nunca faltou aos ensaios em um ano – eram quatro por semana.

Soltton destaca que o apoio da família foi fundamental em toda a sua trajetória. “Independente da carreira que você escolhe, tem que ter apoio dentro de casa. E muitas vezes é algo que não se escolhe, vai surgindo. A música surgiu na minha infância com uma veia muito forte e todas as escolhas que eu fui fazendo ao longo da vida direcionavam para o mesmo lugar”, recorda. 

Agenda cheia

A carreira de Soltton passou por diferentes momentos. Ele já esteve mais fortemente ligado ao setor turístico da cidade – trabalhou com a cantora Inês Rizzardo e tocava em diferentes atrações e estabelecimentos, chegando a fazer até oito shows por dia. Atualmente, sua agenda é variada, mas tem sido bastante requisitado para tocar em festas de empresas, casamentos, formaturas e aniversários de 15 anos. Mesmo que tente selecionar apresentações em cidades próximas, as viagens para diferentes regiões do país são inevitáveis – só para ilustrar, nas últimas semanas esteve no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso e no Paraná.

Embora tenha se popularizado por covers de Elton John, ao longo da carreira o pianista investiu em vários projetos paralelos. O mais recente é o “Cantando a Cidadania”, em que compôs e gravou o hino de 22 escolas municipais, noticiado recentemente pelo SERRANOSSA. Em 2007 e 2009, compôs as músicas para os espetáculos cênicos da Fenavinho, o que lhe abriu portas para outras áreas de atuação, como a criação da trilha sonora do Parque Hopi Hari, em São Paulo, e a criação e mixagem de trilhas para shows pirotécnicos, até mesmo internacionais.

Os últimos meses do ano são a época que concentra o maior número de apresentações. Há quatro anos, seu show integra a programação do Natal Luz em Gramado e, no momento, ele ensaia com o Coral do Vale dos Vinhedos para apresentações de final de ano. Soltton gosta de mesclar no repertório de canções natalinas músicas que tragam alguma mensagem positiva – como “Imagine”, “We Are the World” e “Trem Bala”. “Natal é muito mais Jesus do que Papai Noel”, avalia.

Numerologia

Nascido Rodrigo Salton, há 10 anos adotou o nome artístico de Rodrigo Soltton. Apesar de amante de vinhos e espumantes bento-gonçalvenses, a associação automática com a vinícola que tem o seu sobrenome o incomodava. Ela buscava uma identidade própria e foi buscar respaldo na numerologia. Contratou a mesma profissional que fez o estudo do nome de Ayrton Senna, um de seus ídolos, de quem admira a imensa vontade de vencer. “Todos os artistas que admiro não usam o nome deles, têm nome artístico e fizeram numerologia. Se os melhores do mundo fizeram, quem sou eu para duvidar”, comenta. Que sua carreira alavancou depois da adoção do novo nome não restam dúvidas, embora Soltton acredite que o sucesso se deveu a uma soma de fatores, em especial ao seu esforço pessoal. “Eu costumo dizer que a sorte acorda comigo às 7h da manhã”, brinca. 

Esta é a 52ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito.