Vida de atleta, empresário e amante da aventura

Mais de três décadas de carreira na área esportiva renderam a Evandro Tasca quase 300 troféus e 190 medalhas. O bento-gonçalvense iniciou sua trajetória na canoagem, teve uma passagem pelo ciclismo e atualmente integra a equipe Rio Abaixo – com a qual se orgulha de ter conquistado em 2014 o título mundial de Rafting R4 (quatro pessoas por bote) na categoria Máster (acima de 40 anos) e espera no próximo mês repetir o feito, desta vez na categoria R6 (seis pessoas por bote) em prova a ser disputada na cidade de Miyoshi, no Japão. “Tudo tem uma história, cada medalha, cada troféu que eu olho, eu me lembro do campeonato, do que aconteceu, é muito gratificante”, garante.  

No próximo dia 25, ele embarca com os colegas de equipe para o continente asiático onde ficará por 20 dias (as provas da categoria iniciam somente no dia 5, mas é necessário um tempo para adaptação ao fuso horário). As expectativas são grandes, especialmente por ser uma cidade do interior, onde a única moeda aceita é o Iene e quase não se falam outros idiomas – eles contarão com um intérprete. “Estamos curiosos para ver como a gente vai se comportar em um cenário totalmente diferente da nossa zona de conforto”, avalia. 
Tasca se define como atleta e empresário – auxilia a família em uma empresa do ramo automotivo e também tem uma empresa de aventura, onde é instrutor de Rafting, com demanda concentrada entre outubro e março. “Como atleta, tenho que ser empresário, tem que gerenciar muita coisa na vida, desde horário, disciplina, treinamento, planejamento, organização. Se você não fizer isso, como atleta não vai conseguir bons resultados”, ensina. 

Canoagem

Desde a época de escola, Tasca sempre esteve envolvido com diferentes modalidades esportivas. A primeira vez que sentou em um caiaque foi aos 16 anos, em Santa Tereza, a convite de um amigo. “Senti uma sensação tão boa que comecei a remar e não parei mais”, conta. Um ano depois, já estava disputando competições, iniciando uma trajetória de sucesso, acumulando títulos gaúchos, brasileiros e até Sul e Pan-Americano – já chegou a ser destaque estadual por ganhar todas as provas que disputou em um mesmo ano.

Rafting 

Em 1992, Tasca descobriu o Rafting em São Paulo e, aos poucos, foi conciliando com a canoagem. Atualmente usa o caiaque para lazer – adora descer cachoeiras. Dois anos depois, começou a guiar botes em Três Coroas e em 1996, junto a outros instrutores, fez a primeira descida no Rio das Antas. “O rio estava cheio, transbordando, tomamos um caldo e viramos o bote”, recorda. A intenção era mapear os melhores pontos para implantar o Rafting na região – a escolha foi pelo trecho de Nova Roma até a ponte da linha Jansen, na divisa com Farroupilha. A modalidade entrou de vez na sua vida, conciliando competições com o trabalho de instrutor – sua empresa chegou a guiar até 200 pessoas em um mesmo final de semana. “É uma maneira de manter a remada, mas sem a carga da pressão da competição”, comenta. 

Os resultados mais expressivos nas provas começaram em 2008, quando ainda integrava a equipe Antas Anfíbios. Por questões pessoais e profissionais, aos poucos os membros do grupo foram se desligando, mas Tasca fez questão de continuar. Foi então convidado pela Rio Abaixo, de São Paulo, para integrar-se à equipe, na qual ainda permanece e tem um projeto de competições traçado até 2019. A equipe já está classificada para o Mundial de R4 em 2018 na Argentina e participará do Brasileiro no ano que vem com objetivo de assegurar vaga para o mundial de R6 na Austrália em 2019 – as disputas alternam-se entre as categorias R4 e R6 anualmente. No ano passado, eles foram selecionados para o Mundial nos Emirados Árabes Unidos, mas não puderam participar por falta de patrocínio. Para viabilizar a ida ao Japão neste ano, os atletas realizaram diversas ações, como eventos e venda de camisetas. Assim que chegarem da viagem, manterão o ritmo de treinos para uma prova pré-mundial na Argentina, no mês de novembro. “É muito corrido, envolve muita disciplina, muito treinamento físico dentro e fora da água, alimentação e descanso”, avalia.  

Rotina intensa

Como os atletas moram em cidades diferentes (três deles são do Rio Grande do Sul e os demais vivem em São Paulo), cada um faz sua rotina individual de treinos. De segunda a sexta-feira, são dois turnos na academia, sendo um específico para remada e outro para grupos musculares diversificados. “O foco maior é grupos superiores, respeitando uma sincronia de evolução”, explica.  Aos finais de semana, Tasca treina na água em Três Coroas. “Descanso mesmo só em alguns domingos”, avalia, mas destaca que respeita o corpo, caso dê sinais de cansaço físico. Fora do período de competições, também gosta de pedalar. “Se tirar a bicicleta, o caiaque ou o bote, é como tirar uma parte de mim”, afirma. “Enquanto eu me sentir bem em nível de competição, vou continuar competindo. Depois continuo só para lazer”, complementa. 

O último treino da equipe reunida foi há poucos dias, mas eles voltarão a se encontrar nos dias que antecedem o embarque para o Japão. “Como já nos conhecemos dos campeonatos, é possível fazer uma leitura de cada atleta, já se tem o conhecimento e se sabe como reagem e pensam”, comenta. “Nesse treinamento juntos percebemos que estamos fortes. Não prometemos resultados, mas a ideia é chegar ao pódio. A gente vem comparando o nosso desempenho com a equipe principal, da categoria Open, que já tem títulos mundiais, e não temos ficado muito distante deles nos campeonatos brasileiros”, acrescenta.  

Com auxílio da internet, Tasca costuma acompanhar o desempenho dos adversários em provas anteriores e comunicar-se com competidores de outros países. A equipe também aproveita as pesquisas para conhecer os locais onde ocorrerá a disputa, o que permite visualizar mentalmente o percurso durante os treinamentos ainda no Brasil. “Isso ajuda a chegar lá mais ambientado. Usava muito também nos campeonatos de caiaque”, lembra.  

Tasca considera o acompanhamento que a equipe tem como o de qualquer outra de alto rendimento. A preparação é cíclica, respeitando o calendário de competições, e para que o atleta esteja no seu rendimento máximo durante a prova. Embora fora do país a modalidade seja mais difundida, com atletas que vivem somente do esporte, no Brasil o Rafting ainda é conhecido mais como uma opção de lazer. Para competir, muitos precisam abrir mão da vida profissional. Por gerir o próprio negócio, Tasca consegue ter a flexibilidade necessária para não abandonar o esporte – neste ano as ausências para competição e treinos somarão mais de 60 dias. “Temos atletas bons em várias modalidades esportivas, mas as pessoas param e não optam pelo esporte porque o sustento é prioridade. Aqui no Brasil, infelizmente, muitas modalidades são carentes em recursos financeiros, basta ver o Bento Vôlei, que neste ano ficará fora da Superliga”, lamenta, reclamando também da burocracia da legislação para obter apoio do governo.

Planos para o futuro

Tasca lamenta que o Rafting ainda seja um esporte vinculado ao perigo. Dessa forma, muitos jovens que gostariam de um envolvimento maior encontram resistência da família. “Seguidamente pego clientes para descer o rafting com muito medo. Mas a gente sempre diz que, se fosse um trabalho perigoso, não ofereceria para outras pessoas leigas”, explica. Ele nunca se envolveu em nenhum acidente ou teve lesões graves – apenas tem desgaste de ossos nos pulsos, ombros e tornozelos devido aos anos de exercícios.  Além disso, não abre mão de usar os equipamentos de segurança. “A gente passa sustos, mas ninguém arrisca a própria vida”, garante. 

O número de adeptos da modalidade tem crescido. “No polo de Três Coroas são seis a sete operadoras envolvidas, tem movimentado muita gente. Tem pessoas que ainda não fizeram Rafting, mas sabem o que é”, salienta. Entretanto, de uma forma geral, as pessoas desconhecem que o esporte tem uma modalidade competitiva. “Aqui na região, o Rafting é bem divulgado e representando, mas o conhecimento em nível global é mais difícil”, destaca. 

Para reverter essa visão, os atletas pretendem contar com uma assessoria esportiva que auxiliará na divulgação e difusão da prática, aumentando o número de equipes e formação de atletas na modalidade. Operadores de Rafting costumam montar equipes com seus instrutores – são 55 operadoras ativas no país e cerca de 20 equipes competitivas. Os planos de Tasca para o futuro incluem a criação de um projeto social na cidade para incentivar a formação de novos atletas tanto no Rafting como na canoagem.

 

Esta é a 44ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito.