Vida de borracheiro dedicado
O nome dele é Darci Bortoncello, mas quase ninguém o conhece assim. Do alto de seus 1,61m – “não esquece desse 1cm, faz diferença”, diverte-se – “Baixinho” é um dos borracheiros mais antigos e conhecidos de Bento Gonçalves e já tirou muitos motoristas de enrascadas. Há 25 anos estabelecido na esquina das ruas 13 de Maio e Xingu, no bairro Cidade Alta, ele criou e formou dois filhos, além de ter construído sua própria casa consertando pneus. O segredo? Saber poupar e priorizar.
Hoje com 62 anos de idade, Baixinho conta que tem tentado reduzir gradativamente o ritmo. Também pudera. São 46 anos na lida em dois turnos, de segunda-feira a sábado. “Trabalho desde os 16 anos. Em outras épocas, chegava a fazer 30 consertos por dia e também atendia fora de horário quando alguém me chamava – ele construiu sua casa em cima da borracharia há 16 anos. Hoje me dou o direito de trabalhar em horário comercial e de consertar só pneus de carros, não mais caminhões. É preciso também viver”, conta. O movimento é mais intenso aos sábados e no início da semana. “A quantidade de consertos é relativa. Em um dia aparecem 10, em outros 12 ou 15, depende muito”, calcula. Cada reparo rende, em média, R$ 15. “A parte boa é que sempre se tem um dinheirinho na mão, mas também sofro muito calote”, diz o borracheiro.
De pai para filho
Baixinho aprendeu o ofício com o pai, Cirilo, que faleceu um ano depois de eles abrirem a borracharia no local atual – antes o estabelecimento funcionava na avenida Osvaldo Aranha, onde hoje é o posto Di Trento. Apesar de gostar da profissão, ele não quis repassar os ensinamentos adiante. “É uma profissão digna, mas quis deixar meus filhos escolherem seus próprios caminhos e deu certo”, enfatiza. Aos 40 anos, o filho mais velho, Andrei, é formado em Administração e tem pós-graduação em Matemática Financeira. A mais nova, Raquel, de 34 anos, também se formou em Administração e tem pós em Recursos Humanos. “Tenho muito orgulho deles. Trabalham desde novos – a Raquel começou a trabalhar com 10 e o Andrei, com 12 – e construíram suas próprias vidas. Até a faculdade eu consegui bancar, a pós-graduação ficou por conta deles”, diz Baixinho, que é casado com Salete há 41 anos.
Se ele faria outra coisa na vida? “Até faria se fosse algo mais limpo, a sujeira é realmente um aspecto negativo do serviço. Mas é isso que eu sei fazer e aqui me sinto livre. A gente se dedica durante toda vida e depois de uma certa idade não resta muita opção a não ser seguir com aquilo”, detalha.
A série
Esta é a quinta reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito.