Vida de jogador de voleibol

“Viver do esporte é como viver de qualquer outra profissão. Exige concentração, foco, determinação, sonhos e metas que você tem que alcançar. A diferença é que a gente depende muito do nosso corpo, que é a nossa máquina”, garante o bento-gonçalvense Franco Paese, de 27 anos, que desde agosto atua como oposto no Paris Volley na capital francesa. 
O incentivo para a prática de esportes veio da família – a irmã também jogava vôlei e os primos praticavam basquete. Desde que iniciou na modalidade, não pensou em seguir outra carreira. Seu primeiro contato foi em 2003, aos 13 anos, quando fez um teste no Sesi. A partir de então, não parou mais. 
Em 2006, Paese começou a jogar com a equipe adulta e foi convocado para a Seleção Brasileira de categorias de base. Dois anos depois disputou sua primeira Superliga, defendendo o Bento Vôlei. Em 2009 conquistou o que até hoje considera o principal título da carreira: o campeonato mundial, na Índia, com a seleção brasileira juvenil. Neste mesmo ano, deixou Bento Gonçalves para jogar em Araraquara (SP). Depois, teve passagens pela cidade paulista de Campinas (três temporadas), pelo Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte (MG), onde ficou por duas temporadas, e Voleisul, em Novo Hamburgo (RS). Coleciona também passagens pelas seleções brasileiras B e principal. No ano passado, no período que antecedeu a preparação para os Jogos Rio 2016, ele treinou durante dois meses com o time olímpico. “Foi uma experiência boa. Consegui pegar os últimos treinos do Bernardinho na seleção”, comenta. 

Decisão de mudar
Apesar de alguns convites, Paese tinha receio de jogar fora do Brasil, mas em 2016 acabou aceitando o convite do Paris Volley, atual campeão francês. Além de uma proposta tentadora, outros fatores pesaram na decisão, como a oportunidade de morar na capital francesa e a presença de outro brasileiro na equipe – Thiago Sens, com quem atuou no Campinas. “Estou curtindo muito. O campeonato francês é um dos mais parelhos que eu já vi. São 12 times e 10 deles são do mesmo nível”, explica, comparando com o Brasil, onde poucos times se destacam e a diferença para os últimos colocados é bastante grande. 
A competição está se aproximando do final do segundo turno e em abril iniciam os playoffs. A frequência é de um jogo por semana, geralmente nas sextas-feiras ou aos sábados. A principal diferença, segundo ele, foi a preparação física. Enquanto no Brasil os atletas malham de quatro a cinco vezes por semana, na França são apenas duas. “Sinto um pouco de falta e tento fazer à parte”, revela. No resto do tempo, o grupo faz treinos com bola na quadra e um dia por semana é dedicado a treinos sem saltos, focado na parte defensiva. 
Por conta do campeonato nacional, Paese conta que pôde conhecer outras cidades da França nos jogos fora de casa. A rotina intensa de treinos não permite muitos dias de folga – que às vezes coincidem com os dias de deslocamento após as partidas. ”O que faço é geralmente ir à casa dos colegas para almoçar e jantar”, conta. Além do campeonato nacional, o atleta disputou a Champions League com o Paris Volley, tendo a oportunidade de enfrentar o Zenit Kazan, da Rússia, considerado um dos melhores times do mundo, e conhecer países como Alemanha e Turquia. 

Adaptação
A adaptação foi relativamente tranquila. “Como todo lugar tem os pontos negativos e positivos, mas em geral está valendo muito a pena”, garante. A exceção foi o idioma francês, que ele praticamente não conhecia. “A linguagem típica do esporte que o técnico usa eu acabo entendendo. No dia a dia é muito mais complicado”, complementa. Em contrapartida, seu inglês melhorou bastante. Embora não tivesse muita noção da língua, é através dela que os jogadores se comunicam entre si – a maioria estrangeiros, vindos de países como Estônia, Hungria, Japão e Portugal.

Saudades de casa
Desde que foi para a França, Paese ainda não teve oportunidade de voltar para a Brasil. Entretanto, conseguiu matar a saudade de casa com a visita de amigos e dos pais, Sérgio Paese e Maristela Cargnin (foto), que ainda moram em Bento Gonçalves. 
O contrato de Paese com o Paris Volley segue até o próximo mês de maio. Seu futuro profissional ainda não está definido e dependerá das propostas recebidas. Ele pensa em seguir no exterior, mas também não descarta um retorno ao Brasil. A principal diferença entre o voleibol nos dois países, segundo ele, é em relação à infraestrutura que o time oferece. Enquanto no Brasil os atletas são responsáveis pelos vários custos, como moradia e alimentação, na França o clube cobre a maioria das despesas, incluindo o transporte. Seu único gasto é com alimentação. “Também não precisamos pagar o ‘caminhão’ de impostos que pagamos no Brasil”, compara. 

Fotos: Fabienne Faby Ponin e Arquivo pessoal

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