Vida de quem convive com a psoríase

Kelly Cunha Lima Conci tinha apenas 17 anos quando começou a sentir literalmente na pele o que é conviver com a psoríase. Foi depois de um período de profunda tristeza, no auge de sua adolescência, que seu corpo começou a apresentar manchas e feridas. Essas são as principais características dessa doença de pele: lesões avermelhadas e descamativas, que aparecem com maior frequência em áreas como couro cabeludo, cotovelos e joelhos. O que poucas pessoas sabem, porém, é que se trata de uma condição crônica, autoimune, que não tem cura e – o mais importante – não é contagiosa. 
Hoje, aos 33 anos, a técnica em Segurança do Trabalho consegue falar com propriedade sobre como é conviver diariamente com essa enfermidade. E, mesmo lidando há tanto tempo com o problema, Kelly não tem dias fáceis. Ela conta que durante o trabalho, no ano de 2004, quando passava por problemas pessoais, seu chefe chamou atenção para uma mancha no seu couro cabeludo. “Depois disso, não deu nem uma semana e meu corpo já estava tomado de manchas, de cima a baixo. Eram feridas bem avermelhadas”, relata. “Procurei uma dermatologista, que imediatamente constatou que era psoríase. Era verão de 2005 e eu não usava bermuda, camiseta, nada, porque a pele estava assustadora”, detalha.


 

Tratamentos 
Desde então, ao longo de todos esses anos Kelly buscou ajuda de diferentes médicos e vários tipos de tratamento, inclusive não convencionais. “Fiquei, inclusive, um tempo sem me tratar, pois eu achava que já tinha tentado de tudo. Em uma oportunidade, as manchas desapareceram depois que consegui um chá com uma benzedeira. Não sei se foi a fé, mas em geral elas sumiram”, confessa, admitindo que, no entanto, as feridas voltaram com o tempo. “Já passei pomada, loção, creme e nunca as feridas deixaram de aparecer. No início do mês, resolvi ir outra vez ao dermatologista. Ele acredita que terei uma boa resposta com uma aplicação semanal de metotrexato subcutâneo”, explica. Como o tratamento é recente, Kelly ainda não obteve nenhum resultado até agora. 
Preconceito 
Se já é difícil conviver com as manchas e feridas, imagina com o preconceito. E as manifestações não são poucas. Mesmo não sendo contagiosa, a psoríase afasta as pessoas e provoca situações constrangedoras para os portadores. “Um dia, estava no ônibus indo ao trabalho e uma mãe não deixou a filha sentar do meu lado porque eu ‘estava dodói’, nas palavras dela. Teve outra vez que algumas pessoas com mais idade acreditavam que eu estava com sarna e ficaram comentando. Em outro episódio, cheguei a um local e algumas senhoras fizeram uma roda de oração comigo dentro”, relata Kelly, comentando que hoje até consegue rir de algumas situações, mas que no momento em que aconteceram o constrangimento foi grande.

As feridas também impactaram na rotina social de Kelly, que deixou de ir à praia e, até hoje, evita frequentar piscinas ou clubes. Eventos que exigem trajes sociais que dificultam esconder as manchas também deixaram de ser frequentados por ela. “Eu ainda sinto vergonha de expor. Só que nos dias de muito calor, não tem como eu me encher de roupa. Eu noto olhares meio amedrontados, percebo que as pessoas ficam curiosas. Muitas chegam e me perguntam o que é e eu explico sem problema nenhum. Só que algumas pessoas são muito escandalosas e isso mexe muito com meu emocional. Perguntam se eu não vou ao médico, se é queimadura. Parece que eu sou relaxada e não me cuido. Só que é ao contrário: busco todo tratamento possível o tempo todo. Mas infelizmente a psoríase não tem cura e não dá para passar o resto da vida se privando de tudo”, desabafa.
Ela comenta que o mundo perfeito para os portadores da psoríase seria quando todos pudessem ter seu tratamento ideal encontrado, estar de bem consigo mesmo após diagnosticado e não ter vergonha de expor as lesões. “Acho que a aceitação geral será mais fácil, embora quem deva aceitar é o próprio portador. Eu não sou a única pessoa do mundo com psoríase e quanto mais portadores mostrarem que tem, quanto mais pessoas tiverem acesso a informação, mais fácil será conviver com ela”, conclui.