Vida…de Papai Noel

A longa barba branca é inconfundível. Quem vê Danilo Bussoloto, de 77 anos, caminhando pelas ruas facilmente consegue adivinhar o papel que desempenha nos últimos meses do ano. Basta trocar algumas palavras com ele para entender que a simpatia do Bom Velhinho já foi incorporada à sua personalidade. Há 10 anos, ele aceitou o convite do L’América Shopping para dar vida ao Papai Noel.
 

Ele já havia trabalhado por 20 anos em uma marmoraria – deixou o serviço por problemas na coluna – e era vigilante no Museu do Imigrante, posto que ocupou por 10 anos, quando um funcionário do shopping, com quem jogava bolão, fez a proposta. Engana-se quem pensa que foi o visual que impulsionou a nova profissão. A primeira experiência foi com barba postiça, o que lhe causava incômodo. “Aquele pelo de plástico começava a entrar no ouvido, na boca. Que coisa ruim”, lembra. Foi assim que ele decidiu parar de se barbear. “Quando eu trabalhava no museu, levantava de manhã e a primeira coisa que fazia era cortar a barba. Mesmo que não estivesse comprida, eu passava a lâmina para deixar o rosto limpo e liso. Nunca gostei de barba comprida, mas fui deixando e agora gosto”, conta. “Não posso mais tirar, só segurar um pouco aparada. No próximo ano, quero que esteja bem comprida. É essa barba que está me ajudando bastante”, brinca.

A preparação para encenar o personagem natalino não requer muitos adereços. Basta vestir a fantasia e os óculos com lentes redondas que ele costuma posicionar na ponta do nariz. Depois, é só ter paciência e improvisar toda vez que alguém vem lhe dar um abraço. “Quem me visita na minha poltrona me dá os parabéns e diz que devo continuar com esse trabalho. Muita gente diz que não preciso fazer mais nada, que sou o Papai Noel perfeito”, destaca. Ele reconhece que a bota, as luvas e as vestes com enfeites de pelúcia são quentes para o clima brasileiro nesta época do ano, mas o “sacrifício” compensa.  “Esqueço do calor quando vejo as crianças que vêm na inocência me abraçar”, garante.  

Há 54 anos ele é casado com Alice, com quem teve dois filhos – a filha mora em Bento e o filho em Fortaleza – e três netos. “Sempre gostei de criança, mas não tanto como agora, depois que comecei a fazer esse papel”, estima.  Além da atuação no L’América, Bussoloto também faz eventos em cidades da região e é contratado por famílias na véspera de Natal. “O pessoal gosta de mim. Neste ano, já tenho 12 famílias para visitar e entregar presentes”, comenta. 
Sua vida pode ser dividida em antes e depois. A nova experiência o transformou. “Eu me sinto bastante feliz. Eu era feliz antes, mas agora, depois desse papel, a felicidade é maior. Tem crianças que vêm de braços abertos, que parecem que querem te amassar de alegria. Não tem dinheiro que pague. É um serviço que eu adoro fazer”, assegura. 


 

O amor pela nova profissão é tamanho que a memória do seu celular é ocupada com vários registros com os pequenos – muitas vezes ele solicita aos pais que lhe enviem. Ao rever as imagens, lembra com carinho de cada um deles. Enquanto conversava com a reportagem, fez questão de exibir com orgulho a foto com um bebê de 21 dias no colo. “Eu gosto de ter uma recordação do que eu faço. Isso me incentiva mais. Quando chega janeiro ou fevereiro, eu olho todas as fotos e me dá saudade. Fico rezando para que chegue logo o dia de começar de novo”, conta.

Além de alegrar os dias que antecedem o Natal, a figura do Papai Noel também tem um papel educativo para a garotada. Ao ouvir os pedidos de presente – eletrônicos e itens dos personagens infantis da moda estão entre os mais requisitados –, Bussoloto faz questão de reforçar a importância de obedecer aos pais e ter um bom comportamento para ser atendido. O número de crianças que acreditam no Bom Velhinho é grande, o que pode ser medido pelas inúmeras cartinhas que recebe. Em contrapartida, também há os que têm medo, o que ele acredita ser motivado pelo excesso de vezes em que os pais usam a sua figura para obrigar as crianças a obedecerem, o que pode levar alguns a acreditarem se tratar de alguém malvado.

Bussoloto torce para que a tradição natalina seja mantida e que a esperança dos mais novos siga sendo cultivada, para que o Natal não seja uma data apenas para movimentar o comércio. “Até o fim da minha vida pretendo fazer esse papel. Eu gosto de ver a alegria das crianças, gosto de fazê-las felizes”, conclui. 

Esta é a 58ª reportagem da Série “Vida de…”, uma das ações de comemoração aos 10 anos do SERRANOSSA e que tem como objetivo contar histórias de pessoas comuns, mostrando suas alegrias, dificuldades, desafios e superações e, através de seus relatos, incentivar o respeito.