Vinícolas traçam estratégias para evitar falta de bebidas neste fim de ano

Há alguns meses, a falta de insumos tem sido um problema recorrente em empresas de diversos setores, incluindo as vinícolas. De acordo com os especialistas, são diversos fatores que estão afetando a entrega dos produtos: a alta demanda, o consumo excessivo e a oferta reduzida.

Com escassez de garrafas de vidro, as vinícolas da região estão precisando adotar estratégias para evitar prejuízos e garantir a disponibilidade das bebidas aos clientes, principalmente neste final de ano. Na Cooperativa Vinícola Garibaldi, a falta de vasilhames para receber a produção de espumantes e sucos resultou na interrupção de, ao menos, dois dias de trabalho. “Cada dia de paralisação representou 150 mil litros a menos de bebidas não envasadas”, revela o gerente de Marketing e Turismo da Cooperativa, Maiquel Vignatti. 


Maiquel Vignatti, da Vinícola Garibaldi, comenta que a empresa adquiriu cerca de 500 mil garrafas da Argentina e, mesmo assim, não serão suficientes para suprir toda demanda. Foto: Divulgação

Para minimizar os prejuízos e tentar regularizar a situação, a vinícola adquiriu cerca de 500 mil garrafas na Argentina, “mas a quantidade não será suficiente para suprir toda a demanda”, informa Vignatti. Na avaliação da cooperativa, a dificuldade de obtenção desse insumo deverá ser sentida até março do próximo ano.

Na Vinícola Salton, o diretor-presidente Maurício Salton afirma que foi traçado um planejamento de longo prazo junto aos fornecedores, a fim de minimizar a falta de produtos. “No primeiro semestre, redesenhamos todo planejamento, justamente visualizando que poderíamos enfrentar dificuldades de suprimentos no segundo semestre em função do cenário geral, então antecipamos compras para mitigar riscos”, revela. 

Crescimento das vendas

Outro fator que está contribuindo com a falta de alguns produtos nas vinícolas é o aumento da demanda. Na Vinícola Salton, desde maio está sendo registrado um crescimento acima da média histórica. “Hoje a gente vem acumulando uma alta média de 17,5% na companhia como um todo”, comenta o diretor-presidente.

Com isso, para este final de ano e para todos os meses de verão a expectativa é de um crescimento médio de 15% a 20%, “embora tenhamos o desafio de equilibrar as questões de insumos da parte produtiva”, complementa. Ainda conforme Salton, a média mensal de comercialização no último quadrimestre do ano tem crescimento de 85%, em relação aos oito primeiros meses. “O forte aumento já começa em setembro, porque muitos varejistas antecipam os pedidos de final de ano para fazer a distribuição em lojas e centros, já que muitos clientes são de estados afastados. O último quadrimestre, normalmente, representa 50% das vendas da companhia, no ano”, informa. 


O diretor-presidente da Salton, Maurício Salton, afirma que alguns produtos poderão estar indisponíveis na vinícola, mas garante que o consumidor encontrará nos pontos de venda. Foto: Eduardo Benini/Divulgação
 

Dessa forma, a empresa afirma que há estoques, mas que alguns produtos deverão estar em falta no mercado. Isso motivado pelo grande consumo e pela vinícola já ter atingido a meta de vendas do ano. “Então existem sim alguns produtos que estarão indisponíveis, pois precisamos destiná-los para o nosso estoque de segurança para a virada de ano. No caso do espumante Salton Prosecco, do Salton Brut Rosé e até mesmo do Salton Moscatel, por exemplo, é possível que os estoques terminem na vinícola para os clientes, mas vale destacar que para o consumidor, no ponto de venda, vão estar à disposição”, afirma Salton. 

O diretor-presidente finaliza dizendo que a vinícola possui um estoque de segurança para regular as vendas no início do ano e, assim, minimizar eventuais “rupturas”, como aquelas sofridas no começo de 2020. 

Uvibra busca investidores para nova fábrica de garrafas

Buscando contribuir com as vinícolas na busca de estratégias eficazes para minimizar os impactos, a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) está trabalhando na busca de investidores para uma nova fábrica de garrafas no Rio Grande do Sul – onde se concentra 90% da produção nacional. 

A primeira reunião ocorreu na quinta-feira passada, 03/12, com um grupo de empresas que têm interesse no investimento na Serra Gaúcha – tendo em vista a existência de dutos de gás na região e da facilidade logística por estar junto ao maior polo de produção vitivinícola do Brasil. Agora, a Uvibra afirma que vai trabalhar para levantar dados precisos sobre demanda para dar andamento às tratativas. 


Foto: Fabiano Mazzotti
 

Paralelo a isso, a união também conta com o apoio do Governo do Estado, que designou o secretário da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, Covatti Filho, para ajudar na viabilização de parceiros. A interlocução entre a Uvibra e a secretaria está sendo feita por Davi Da Rold. 

Na quarta-feira, 09/12, foi realizada uma nova reunião com investidores, com representantes do Estado e da prefeitura de Bento Gonçalves, os quais estão empenhados em auxiliar por meio de incentivos fiscais. “Essa reunião não é de definição, mas de intenções do investimento acontecer aqui na região. É um projeto grandíssimo”, revela Davi Da Rold. “Nosso intuito é trazer a empresa para Bento mesmo, para facilitar e não encarecer o preço. Hoje, a única empresa de garrafas de vidro no RS que atende a demanda do setor vinícola da região fica em Campo Bom. Então também estaremos auxiliando na quebra do monopólio da concorrência, a qual tem alta demanda e baixa oferta, encarecendo o produto”, explica. 

Enquanto isso, as vinícolas brasileiras se obrigam a importar garrafas da Argentina e do Chile, aumentando o custo final do produto em razão da alta do dólar, do frete em razão do distanciamento, além da demora na entrega.

“O problema é sério. Mesmo quando o setor estava estagnado já faltavam garrafas. Chegou 2020, um ano adverso. No início, a pandemia trouxe a insegurança do que estava por vir. Tivemos a ‘Safra das Safras’ e depois, favorecidos por diversos fatores, vimos o consumo dos vinhos nacionais despontar. E mesmo sabendo que este problema continuará, já fomos informados de que 2021 inicia com aumento no preço dos vasilhames, além de saber que a demanda continuará não sendo 100% atendida. Ou seja, dinheiro não resolve o problema”, lamenta o presidente Deunir Argenta, lembrando que a prioridade dos fornecedores é o setor cervejeiro, onde estão concentrados os grandes volumes. 

Mesmo o assunto avançando e tendo definições rápidas e satisfatórias, tanto burocráticas quanto operacionais, uma nova fábrica de garrafas de vidro levaria cerca de 2 anos para ser construída e entrar em operação.

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