Violência assusta comunidade

Três homicídios registrados em um intervalo de 29 horas, dois dos quais na mesma manhã, assustaram a população de Bento Gonçalves nesta semana. A Polícia Civil, responsável pela investigação de ambos, descarta que os casos tenham ligação. Com esses, chega a 15 o número de mortes violentas na cidade neste ano – foram 13 homicídios e 2 latrocínios (roubo seguido de morte). Março teve os piores índices: quase metade dos assassinatos ocorreu entre os dias 2 e 20.

Para o delegado Álvaro Pacheco Becker, titular da 2ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves e responsável pela investigação da morte do mecânico Clodinei Agostini – primeira vítima da semana –, o crime de latrocínio está praticamente descartado. “As primeiras informações que a gente recebeu sobre esse fato faz com que entendamos que não foi um assalto ou fato envolvendo esse tipo de crime”, afirma. Segundo Becker, algumas testemunhas já foram ouvidas pela polícia. “No local nossa equipe conseguiu antecipar algumas informações. As pessoas nos passaram a imagem de que a vítima era trabalhadora e bem conceituada”, detalha. O delegado ainda afirma que a falta de indícios deixa a polícia perplexa. “Foi um crime diferenciado, porque na maioria dos casos ocorre uma queima de arquivo, acerto de contas, alguma coisa desse tipo. Geralmente a pessoa que morre tem antecedentes, o que não corresponde a esse caso, pelo menos até agora”, comenta. No mesmo dia do assassinato, a polícia teve acesso a várias imagens de câmeras de videomonitoramento. Becker sinaliza que a investigação já tem um rumo. “Já temos um ‘norte’. Vamos ver se no decorrer dos próximos dias receberemos mais informações, porque eu tenho certeza que outras pessoas testemunharam e não se apresentaram por medo de se envolver, inclusive peço para que entrem em contato, mesmo que de forma anônima. Também vamos investigar junto aos familiares, amigos e colegas de trabalho se alguma conduta que ele tenha por ventura deixado transparecer pode ter resultado em raiva ou ódio”, falou o delegado. Becker também será o responsável pela investigação da morte de Clóvis Pereira dos Santos, de 41 anos, assassinado no bairro Municipal no início da tarde de quarta-feira, dia 25.


Segundo caso

A hipótese de latrocínio também foi descartada na morte de Idalina de Jesus, de 49 anos, morta cerca de quatro horas depois de Agostini, na manhã de terça-feira, dia 24, no bairro Zatt. O caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia de Polícia. Segundo a delegada Maria Isabel Zerman, durante a semana uma pessoa foi presa após cumprimento de um mandado de busca e apreensão motivado por uma denúncia anônima. O homem estava em uma residência no mesmo bairro em que o crime ocorreu, onde foram encontrados um revólver calibre 38 municiado e mais 18 cartuchos, 5 cartuchos de 9mm – de uso restrito – e duas porções de maconha. “Embora saibamos que a vítima tenha sido atingida por disparos de revólver, é muito cedo para afirmar que a arma encontrada na casa foi a utilizada no crime. Precisamos aguardar os laudos da perícia”, detalha a delegada. Apesar da prisão, a polícia segue em busca do principal suspeito apontado pela investigação. Idalina era mãe de Silvio de Jesus, morto a tiros no dia 20 de março, cujo corpo foi encontrado na localidade de Veríssimo de Matos, às margens do Rio das Antas.


Os casos da semana

Dois homicídios ocorreram na manhã da última terça-feira, dia 24. Por volta das 7h20, o mecânico Clodinei Agostini, de 40 anos, foi morto a tiros na travessa Itaqui, bairro Cidade Alta. Ele estava aguardando o início de seu horário de expediente dentro de uma GM/Montana quando dois homens tripulando uma motocicleta atiraram pelo menos quatro vezes contra a vítima. Agostini morreu no local. Ele era natural e morador de Nova Prata e não tinha antecedentes criminais.

Cerca de quatro horas depois, Idalina de Jesus, de 49 anos de idade, foi morta a tiros na rua Sergio Rodrigues dos Santos, no bairro Zatt. Segundo o Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO-Serra), a vítima foi atingida pelas costas por uma pessoa mascarada, ainda não identificada. 

No dia seguinte, Clóvis Pereira dos Santos, de 41 anos, foi morto depois de ter sido atingido por tiros disparados de uma espingarda calibre 12. Ele estava estacionando seu veículo GM/Astra na rua Balduíno Alegretti quando um homem disparou cinco vezes: três contra o capô e o vidro dianteiro do carro e duas contra as costas e a cabeça da vítima, que já estava caída no acesso a uma casa próxima. Ele chegou a ser socorrido, mas morreu em seguida, logo após dar entrada no Hospital Tacchini.

Homicídios de 2014

22 de fevereiro: um homem de 48 anos foi morto a tiros na rua Ari da Silva, bairro Eucaliptos

2 de março: um jovem de 24 anos foi alvejado na rua Balduíno Alegretti, bairro Municipal

5 de março: em uma área de mata no bairro Universitário, o corpo de um homem de 36 anos foi localizado com ferimentos a faca. Inicialmente a suspeita era de latrocínio (roubo seguido de morte), mas o caso passou a ser investigado como homicídio.

9 de março: um jovem de 22 anos foi morto com um tiro no peito em frente ao Ginásio Municipal de Esportes, na avenida Presidente Costa e Silva, bairro Planalto

12 de março: um reciclador de 23 anos foi morto a tiros em frente ao galpão onde trabalhava, na divisa entre os bairros São Roque e Nossa Senhora do Carmo (antigo Nossa Senhora da Saúde)

16 de março: dois jovens com idades de 16 e 20 anos foram mortos a tiros pela Brigada Militar após o condutor do veículo em que eles estavam no compartimento de carga fugir de uma abordagem policial que começou no bairro Cidade Alta.

20 de março: um homem foi encontrado morto em uma área deserta na localidade de Veríssimo de Matos, às margens do Rio das Antas. No corpo havia marcas de tiros

16 de abril: um corpo em avançado estado de decomposição foi encontrado no distrito de Faria Lemos. A Polícia Civil investiga o caso como homicídio.

2 de junho: um homem de 28 anos foi morto a tiros no bairro Municipal.

24 de junho: dois homicídios foram registrados em um intervalo de quatro horas. O primeiro, no bairro Cidade Alta, vitimou um mecânico de 40 anos. O segundo, no Zatt, teve como vítima uma mulher de 49, também morta a tiros.

25 de junho: um homem de 41 anos é morto com tiros de espingarda calibre 12 no bairro Municipal

Reportagem: Greice Scotton e Jonathan Zanotto


É proibida a reprodução, total ou parcial, do texto e de todo o conteúdo sem autorização expressa do Grupo SERRANOSSA.

Siga o SERRANOSSA!

Twitter: @SERRANOSSA

Facebook: Grupo SERRANOSSA

O SERRANOSSA não se responsabiliza pelas opiniões expressadas nos comentários publicados no portal.