Vítima detalha o que passou nas mãos de bandidos

“Poderia ter sido muito pior”. Com esta constatação, uma jovem de 20 anos de Bento Gonçalves, que prefere não ser identificada, resumiu em uma entrevista para o SERRANOSSA sua experiência nas mãos de dois bandidos armados. Ela foi vítima de um sequestro-relâmpago na noite da última sexta-feira, dia 23, no centro da cidade, e só foi socorrida uma hora e meia depois no porta-malas de seu carro por uma pedestre que passava pelo local onde foi deixada.

A jovem conta que, por volta das 19h, estacionou seu veículo Toyota/Etios na rua General Osório e, ao desligar o carro, dois homens a surpreenderam com uma arma pela janela do caroneiro, que estava aberta. “Moça, isso é um assalto. Só obedece e dirige”, disse o mais exaltado dos bandidos. “Um era branco e o outro, bem moreno. O loiro aparentava estar drogado e mais exaltado, já o moreno era mais calmo. Ambos pareciam ser bem inexperientes e aparentavam estar praticando um sequestro pela primeira vez”, conta a vítima.

Ela relata que, no momento que percebeu que se tratava de um assalto e que os bandidos já estavam em seu carro, imediatamente começou a chorar. “Não conseguia nem me mexer. Então, o loiro me mandou sentar no banco do passageiro e assumiu a direção”, revela. Foi o início de uma hora e meia nas mãos dos dois homens.

Segundo ela, sem saber como agir, a dupla percorreu diversas ruas da cidade, passando pelo Centro, bairros Planalto, Botafogo, entre outros. “Primeiro, ele quase nem conseguiu ligar o carro. Ficou gritando, perguntando como ligava. Depois que conseguiu, ele começou a dirigir muito rápido, fazia ultrapassagens perigosas e quase atropelou duas mulheres. Não entendo como ninguém ligou para a polícia avisando que tinha um motorista louco andando pela cidade”, diz a vítima.

Enquanto isso, o outro bandido revirava sua bolsa. “Eu tinha R$ 140 em dinheiro, mais celular e óculos de sol, mas eles queriam mais. Então, pegaram meu cartão e foram até o banco. O problema é que eu não lembrava da senha. Não tenho costume de ir nos caixas eletrônicos e eles ficavam me pressionando para eu dizer. Então, pedi para ligar para minha irmã, que sabia a senha, mas o loiro não deixou e repetia que não estava ‘para brincadeira’. Até que encontrei na minha carteira a senha correta. Anotei em um papel com um batom e ele, de cara limpa, foi até o caixa e retirou R$ 1 mil”.

Com o dinheiro em mãos, eles conversavam entre si para decidir o que fariam com a vítima. “Eles não sabiam o que fazer comigo. O carro tinha pouca gasolina e queriam abastecer, mas tinham medo que eu fizesse alguma coisa. Tentei argumentar, dizendo que não ia fazer nada, mas eles falaram que iam me colocar no porta-malas do carro”, conta.

Foi então que os bandidos foram até a localidade de São Valentim e, próximo à área industrial, pararam o veículo e pediram para ela entrar no bagageiro. “Em nenhum momento eles encostaram em mim, nem me ameaçaram de morte. Eles só queriam dinheiro. Mas, mesmo assim, fiquei com muito medo. Pensei que eles poderiam me matar, ou me estuprar, ou até mesmo morrer em um acidente de carro, porque, sinceramente, eles não tinha nenhuma noção de perigo na estrada”, acrescenta a mulher.

Já no porta-malas, a vítima procurou ficar o mais segura possível. A velocidade do veículo, que não era freado nos buracos, lombadas e nem em curvas, fez a vítima ficar com alguns hematomas no corpo. Enquanto isso, ela conseguia ouvir tudo que os meliantes conversavam. “Eles pararam em um posto de combustível e abasteceram R$ 15. Naquele momento, eu poderia ter gritado ou batido, mas pensei melhor e percebi que eles simplesmente iriam fugir com o carro e fazer alguma coisa comigo”, afirma.

Depois disso, ela ouviu os homens combinando que cada um ficaria com R$ 70 e foram até um local, onde uma terceira pessoa entrou no carro. “Eles deram o dinheiro para este outro homem, possivelmente para pagamento de drogas, e pediram um ‘baseado’”, conta. “Eles simplesmente me esqueceram lá dentro, porque os dois ainda foram em um outro local, onde pediram um casaco. Ouvia voz de mulheres e crianças, acredito que poderiam estar em um bairro”, cogita a jovem.

Por volta das 20h30, eles abandonaram o veículo com a vítima na travessa Ceará, no bairro Humaitá. “Esperei alguns minutos para me certificar de que eles realmente não iriam voltar e tentei sair sozinha. Peguei algumas ferramentas e tentei abrir, mas não consegui. Foi então que eu ouvi passos e comecei a gritar por socorro”, relata.

Uma senhora que passava pelo local a ouviu e, imediatamente, ligou para a polícia. “Ela nem chegou a falar comigo. Eu ouvia ela falando ao telefone e explicando onde estava e dizendo que me ouvia. Acho que os policiais tentaram orientá-la para me tirar de lá, mas a senhora não conseguia abrir o porta-malas. Então, procurei me acalmar e, ao ouvir que ela estava dentro do meu carro, expliquei onde ficava a alavanca que abria o bagageiro. Ela conseguiu abrir e me ajudou a sair”, explica. O desfecho do sequestro-relâmpago acabou com um abraço entre as duas.

Muito tranquila, a jovem conta que nunca tinha passado por isso e que procurou fazer o que seu pai sempre a ensinou. “Ele sempre me disse que, se caso um dia isso acontecesse, era para fazer tudo que os bandidos pedissem e nunca reagir”. A jovem prestou depoimento na delegacia de polícia que investiga o caso. O veículo passou por perícia e imagens da câmera de segurança do banco onde foi sacado o dinheiro foram solicitadas. Ainda não existem suspeitos do crime.

 

Reportagem: Raquel Konrad

 

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