Vítimas de xenofobia e racismo: conheça a realidade dos imigrantes em Bento

Na semana passada, o racismo e a xenofobia novamente entraram em pauta em Bento Gonçalves. Áudios que circularam pela internet trouxeram à tona opiniões preconceituosas acerca da cor de pele e nacionalidade de imigrantes, principalmente de haitianos. Mais do que os graves xingamentos presentes nos áudios, alguns moradores utilizaram as redes sociais para evidenciar sua opinião preconceituosa sobre esses grupos. “Que frescura, vão trabalhar ‘vagabundedo’. Sempre essa choradeira”, escreveu um internauta. “Só uma curiosidade, quem está bancando os haitianos aqui em Bento Gonçalves, tem muitos brasileiros que não ganham os auxílios que eles ganham. Até quando isso?”, disse outro. 

Atualmente, Bento Gonçalves têm pelo menos 1.036 imigrantes, número relativo àqueles cadastrados nos serviços sociais da prefeitura, com destaque para os haitianos (910) e venezuelanos (87). Mas, ao contrário dos comentários como os citados acima, o secretário de Esportes e Desenvolvimento Social (Sedes), Eduardo Virissimo esclarece que os benefícios e o tratamento concedido a esse público é o mesmo de qualquer pessoa que esteja passando por dificuldades no município. “Todos imigrantes legalizados têm acesso aos benefícios sociais governamentais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, bem como benefícios eventuais fornecidos pelo município, como a cesta básica.  Os atendimentos ou auxílios são previstos em leis e passam por triagem como todos os que procuram nossos serviços”, explica. “A Assistência Social é um serviço meio, não é assistencialismo. Se estiverem precisando de alimento, nós fornecemos momentaneamente, mas logo encaminhamos essa pessoa para o trabalho, para que possa passar por aquele momento”, complementa. Atualmente, o município conta com o programa Acessuas Trabalho, por meio do qual é feito um meio de campo entre as empresas e os trabalhadores, encaminhando o currículo daqueles aptos a trabalhar nas vagas disponíveis.


Foto: Reprodução/ovisto.ufsc.br

A maioria dos imigrantes, conforme explica o secretário, vem a Bento Gonçalves para buscar emprego e, consequentemente, maior qualidade de saúde, educação e segurança. “Eles vêm ao município para fazer sua vida e criar sua família”, comenta.  Quando chegam à cidade, grande parte das famílias de imigrantes enfrenta uma série de dificuldades, “desde falta de documentação, local para morar, alimentação… alguns chegam doentes e têm dificuldade de comunicação”, cita Virissimo.  Além disso, muitos imigrantes acumulam históricos de pobreza, vulnerabilidade social e muita luta em seus países de origem. Mesmo assim, opiniões como as citadas no início desta reportagem continuam dificultando a inserção de alguns imigrantes no mercado de trabalho e, consequentemente, na comunidade como um todo. “A partir do momento que os empresários começarem a olhar para as pessoas que vêm de fora como um grupo que está ajudando a construir nossa cidade, que pode contribuir com o desenvolvimento e com a própria empresa de cada um, a situação vai mudar”, reflete o secretário. “Muitos desses imigrantes, pelos locais que costumavam viver em suas cidades de origem, almejam apenas valores suficientes para criar suas famílias. Então eles vêm com muita vontade de trabalhar e com uma submissão demasiada. Eles aceitam qualquer trabalho”, analisa Virissimo.

Na opinião do coordenador do Movimento Negro Raízes de Bento Gonçalves, Marcus Ribeiro, os imigrantes acabam ocupando as vagas de emprego que os bento-gonçalvenses não querem preencher. “Eu não vejo essas pessoas que dizem que haitianos vêm para roubar emprego disputando vaga na RN Freitas [na coleta de lixo]. Assim como também não vejo disputarem vaga no frigorífico em Garibaldi”, exemplifica. “Têm haitianos com formação Superior que estão trabalhando no chão de fábrica, na coleta de lixo da nossa cidade. Essa é a reflexão que as pessoas que dizem que os imigrantes estão tirando nossos empregos devem fazer”,  acredita. 

O processo de imigração

Assim como para o restante do país, os estrangeiros que queiram residir em Bento Gonçalves precisam adquirir uma autorização de residência temporária ou permanente. “Para a Identidade de estrangeiro o primeiro passo é acessar o site da Polícia Federal, na página do departamento de Regularização para Estrangeiro, além de preencher o formulário eletrônico. Após isso, será atendido para dar seguimento à documentação”, explica o secretário da Sedes, Eduardo Virissimo. 

Em Bento, muitos procuram o Centro de Referência da Assistência Social e Cadastro Único, principalmente pelas dificuldades financeiras, dificuldades de comunicação e documentação. “Nesse momento eles são encaminhados para os serviços necessários, como saúde, educação,  e segurança, e se estão sofrendo algum tipo de dificuldade dentro da família, que pode ser atendido pela assistência, imediatamente é prestado o auxílio”, revela Virissimo.  

Na opinião do secretário, todas as pessoas que vêm ao município buscando uma vida melhor devem ser considerados moradores de Bento Gonçalves “e serão tratados com todos os direitos”. “Nossa cidade é acolhedora e recebe todos dessa forma, com atenção”, afirma. 

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